A vida dela está num intervalo. Ela não o desejou, mas teve que o aceitar, tal como se aceita a publicidade que surge a meio do filme empolgante que estamos a ver.
E todos à sua volta a felicitam, afirmando que ela foi bafejada pela sorte!
Ela tenta convencer-se disso. De que estar em casa a tempo inteiro, dedicada ao casamento, aos filhos, à comunidade, aporta inúmeros benefícios para todos. Para todos…
E as percentagens (vomitadas) divulgadas com frequência pelos media garantem que esta mulher não está a viver sozinha esta pausa.
Pois, até dá jeito, esta porcaria de intervalo. Mas, como quando se está a ver um filme, e o intervalo desconcertante aparece, mas aproveita-se para ir à casa de banho, para fazer um chazinho ou ligar o botão da máquina da loiça, a dada altura, o intervalo termina, e voltamos a mergulhar no filme desejado.
E que forte é o seu desejo, o de voltar a mergulhar nesse filme! E que medo sente, de cada vez que vislumbra a possibilidade de ver terminada essa pausa! Medo de fracassar, medo das dificuldades que terá de acarretar sozinha.
Poderá toda essa insegurança estar, como uma força oculta do Universo, a influenciar o rumo das coisas? Se estiver, então a culpa é sua. Tantas oportunidades perdidas!
E enquanto dura o intervalo, a vida avança. E ela vai ficando para trás. Para baixo. Para dentro. Isto, nalguns dias.
Noutros, porém, a agenda cheia de mil e um afazeres – alguns automáticos, estupidificantes; outros enriquecedores e felizes – adormece o espírito criando a ilusão de que até dá jeito, esta porcaria de intervalo.
Sandrapep