Acordo de manhã. Mais um dia. Mais um dia que tenho que sair da cama e só me apetece ficar enterrada nos lençóis. Olho para a roupa que tenho em cima da cadeira. Não há nada que me apeteça vestir. Qualquer roupa que use nunca vai ser suficiente boa para pertencer ao grupo. Elas riem-se de mim, apontam o dedo.
Até a Carolina já não fala comigo. Agora são todas amigas. Que elas se riam, eu não quero saber. Agora ela? Eu nunca esperei… com quem converso agora? Quem me apoia quando as lágrimas estiverem a saltar dos meus olhos? A quem ligo quando em casa tudo desaba? A quem posso contar as dores que me vão no coração?
Em casa a Mãe diz que se elas me tratam assim é porque não merecem a minha amizade. Mas só eu sei o quanto gostava de fazer parte do grupo.
Só quero fugir daqui, e nunca mais aparecer. Será que se eu desaparecer elas vão sentir culpa? Quem sabe a minha falta?
A quem tento eu enganar? Eu sei que não… iam chamar-me fraca. Mas eu não sou fraca. Sinto-me sozinha, é só isso. Porque é que ninguém entende?
Dói-me o peito, sinto cá dentro uma mão que me aperta o coração. Tristeza, disse a psicóloga da escola. Sofro de tristeza.
Mas eu não sinto isso… não é tristeza. É solidão. Já ninguém se senta ao meu lado na sala. Já ninguém me acompanha nos intervalos, já ninguém faz o caminho de casa comigo.
Queria fechar os olhos e que tudo isto desaparecesse, que todas as dores acabassem. Queria voltar a rir, a gostar das pessoas, a ter amigos.
Continuo deitada na cama. Lá fora chove. É o céu a chorar comigo.
Filipa
Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 23:24  Comentar