Daqui a duas semanas, mais coisa menos coisa, começa aquilo a que oficialmente chamo de férias. Esperei-as com ansiedade, fiz planos sem um guião rígido, sonhei acordada e, numa vírgula da existência, tudo se alterou. Caminhar para o período de ócio lembra-me a força que não sinto, a esperança que se esfumou, o rasgar dos afetos que ainda não digeri e todo o tempo do mundo para que me engulam, sem mastigar. Tenho medo de parar, em boa verdade, e já me irrita o som desta tipa aos berros na minha cabeça, apre. Enquanto me mexo, enquanto a rotina me obriga a agir e a esquecê-la por momentos, quase lhe sou imune. Trabalhar é, portanto, o meu ipod antigralha. Mas, quando eu parar, quando não houver horários profissionais a cumprir, quando nada validar por o pé fora de casa, como fingirei que não a oiço? O que sentirá ela então, quando todo o tempo lhe pertencer e me puder atormentar com pompa e circunstância? Temo-a tanto quanto temo pela vida que me escorre entre os dedos, veloz e impiedosamente. Temo-a porque sou eu que lhe viro as costas para que me empurre com graciosidade pelo penhasco abaixo.
Nestas férias quero fugir à consciência que me tem trazido angustiada e cabisbaixa, quero isentar-me desta nuvem que me afunila a caminhada e me tolda o pensamento. No saco de praia, ao lado do protetor solar, levo a indignação de me ver sucumbir com tal falta de graça. Pergunto-me porque raio tenho de “dar a volta” tanto quanto me bate “…e porque não?” Resumindo e baralhando: estou cansada de chorar mas não me canso de sorrir. Nem que seja a última coisa que eu faça.
Nestas férias, gostava que vencessem o amor, o sol num céu limpo e sem nuvens, o pé que caminha sem hesitação, a mão na mão que nela vive e a esperança que prolonga os dias e guia a alma no meio da tempestade. E depois, gostava de regressar a casa, plena, inteira, ávida de muitos mais capítulos – ainda por escrever – na história da minha existência.
Alexandra Vaz