Essa indagação leva-nos a deduzir que as férias têm também um sentido de recompensa a algo obtido, alcançado ou conquistado, sendo um prémio atribuído com meritocracia e mediante critérios declarados a um vencedor. Os outros, entenda-se os não vencedores, também merecem um prémio de participação dos quais os perdedores conformados (os que aceitaram e digeriram a derrota) são os maiores premiados pelo exercício de autocrítica e reflexão em torno das causas do insucesso e previsão da época seguinte. As férias conquistadas são assim regozijantes que as férias cedidas ou impostas por Lei, calendário ou história.
Na tentativa de classificar as férias com recurso a dois critérios, são eles o tempo ou duração e o contexto ou natureza, permite-me nomeá-las em temporais ou perpétuas, e profissionais ou sociais, designadamente. A sua combinação resulta na designação de férias mais ou menos breves, conjugadas com a razão de sua ocorrência, do que resulta numa matriz de quatro campos. O domínio desta matriz, ainda que intuitivamente, é crucial para o planeamento de sua execução.
Entretanto, se as férias em termos de duração tornam-se extensas, geram o efeito maldição da abundância, que reflete na sua essência um paradoxo. Em sentido oposto, as férias quando tornam-se variáveis económicas funcionam num sistema de restritivo, elevando a racionalização do seu uso e consequente aumento ou melhoria de produtividade. O comportamente humano contribui para o efeito: não raras vezes as férias animam no fim, ou então 10 dias úteis de férias sabem melhor que 30 dias de calenário.
Voltando à pergunta de partida, e cingindo-me na sua essência, a sua enunciação e sentido crítico conferem uma avaliação profunda da atuação dos diversos agentes no pleno exercício de sua atividade. Existirá alguma racionalidade suprema de atribuição de férias relacionada com o desempenho de alguma atividade. É inegável a sua existência, porém, questionável a sua ocorrência num tempo e espaço específico.
No plano de avaliação do resultado das férias contam-se o custo (sacrifício de recursos a para sua realização) e benefício (recompensa obtida dos resultados almejados) e respetivo resultado (valor). A análise do valor das férias é uma técnica que permite avaliar a eficácia e eficiência do valor obtido pela ocorrência de férias, que resulta da comparação entre os custos e os benefícios. A sua validade consciente permite-nos proceder ao balanço das férias como um indicador dinâmico (efeito alavancagem) para o desempenho no exercício seguinte, se considerarmos as férias como um momento de transicção de uma época para a outra.
As férias conquistam-se e fazem-se por merecer. Um dos pressupostos para o gozo de férias plenas e conscientes é saber lidar com os meios e tecnologias de comunicação e informação, por um lado, e com o equilíbrio emocional e autoconsciência, por outro. O equilíbrio entre ambos é uma inequação, enquanto os meios de comunicação e informação permitem mantermo-nos informados das ocorrências de nosso interesse, a autoconsciência atua como julgador em busca de uma razão consciente dos nossos atos diretos e indiretos face as ocorrências captadas e retratadas pelas TIC (tecnologias de informação e comunicação), bem como aqueles outros estímulos (verdades inconsoláveis) que os radares das TIC dificilmente conseguem fazer leitura e retrato fiel.
António Sendi (articulista convidado)