Não consigo dissociar “risco” de outras palavras. Só consigo entender o risco como um, de entre infindáveis outros, fatores naturais da vida. Só consigo conceber a existência do risco como algo pelo qual anseio diariamente. O risco, nas suas variadas componentes e dimensões faz-me viver, sentir, sorrir. Sendo certo contudo que o risco pode também terminar com a minha existência, quando o mesmo pisa o limite do aceitável. Mas também não precisa de ser assim... O problema é que o risco está casado (ou correndo o risco de ser mais atual - vive em união de facto) com a consequência. E essa, em muitas situações, não depende de nós. Tal significa que apesar de medido o risco, a consequência do mesmo poderá ser uma surpresa e completamente desajustada do limite imaginado. Vejamos: Correndo o risco de copiar num exame, o natural será perceber como consequência máxima dessa ação o facto de ser apanhado e assim ser excluído do mesmo. Risco assumido, limite definido (para não ser apanhado), compreensão da pior consequência expetável. Contudo, para além da consequência percecionada (no pior dos cenários), poderão entrar em marcha diferentes variáveis que tornarão a consequência num, ou em vários, cenários inesperados. O professor pode tomar a decisão de complicar a vida ao aluno num exame seguinte. O aluno poderá ter repercussões na vida familiar após comunicação do sucedido por parte da escola. O facto de ter sido apanhado a copiar, quando a decisão de o fazer já teria sido de último recurso por não conseguir obter sucesso na disciplina, poderá tornar-se uma experiência traumatizante que irá impedir uma perceção cognitiva de sucesso futuro à mesma, etc., etc..
Outros casos há, contudo, em que a consequência do risco é completamente ajustada ao limite imaginado. Vejamos: Correndo o risco de conduzir em velocidade excessiva, o natural será perceber como consequência máxima dessa ação o facto de morrer ou de ficar gravemente ferido. Também aqui poderão intervir variáveis que tornarão a consequência num, ou em vários, cenários inesperados? Com certeza que sim, mas neste caso nem vale a pena explorar tal...
Chegamos então assim à conclusão que o risco possui graus de consequência completamente opostos quanto à potencial gravidade danosa para o indivíduo que o comete. Contudo, assumamos que enquanto ação consciente, risco é risco. Assumamos igualmente que partir para o risco sem a perspetiva de obtenção de qualquer tipo de gratificação ou recompensa é, à falta de melhor palavra, estúpido...
E para eu não parecer estúpido, sendo que para o primeiro exemplo fácil será perceber qual a eventual recompensa no sucesso, na verdade vos digo que conduzir a minha mota a 220 km/h, na autoestrada, num glorioso dia de sol, não só me faz sentir vivo como me faz sentir feliz, livre e em paz.
Mas afinal... Risco? Falamos de quê? Só não existe risco na certeza. E para além das certezas serem tão poucas, a verdade é que são também uma seca...
Rui Duarte