![](https://fotos.web.sapo.io/i/B6613c030/14971741_zqkqG.jpeg)
Quando era pequenina, sonhava com um mundo de fantasia no qual eu gostaria de viver juntamente com a minha família, todos os meus amigos, os meus periquitos e a minha cadela, para todo o sempre. Cresci um pouquinho mais e ensinaram-me que também é provável a junção com outra pessoa que passa a ser a nossa família para todo o sempre. Ensinaram-me também que continuamos a crescer, estudamos, temos um emprego estável e começamos a constituir família e que tudo fica bem se isto acontecer.
Ora, depois de crescer mais um pouco, já não foram só as pessoas que me ensinaram mas uma outra força, talvez a mais forte: a vida. Esta ensinou-me que, para além do que é confortável, normal, previsto, esperado e desejado pela sociedade em geral, há muito mais vida, muito mais a conhecer. Para isso, e em conjunto com a expressão dita muitas vezes mas não percebida de imediato, “Tens que arriscar!”, há um mundo a explorar, pois cada explorador encontra nele o que de melhor há, e às vezes nem precisamos de navegar muito para este encontro.
Dito desta forma parece fácil e aliciante, mas não é assim tão simples… Depois de perdermos alguns entes queridos, porque envelheceram e a lei da natureza assim o dita, não escapando os periquitos e a cadela também, percebemos que há aspetos que não são eternos. O “para todo o sempre” cai por terra. Perdemos o primeiro príncipe encantado, aquele que pensámos que seria para “todo o sempre”, mudamos de curso porque afinal não era bem aquilo que eu gostava, saltitamos de profissão em profissão porque não encontrámos o local certo ou a melhor oportunidade.
Levantam-se questões, muitas questões… Será que vale a pena arriscar e ir estudar para fora? Ao estudar aqui ganho o mesmo… Será que vale a pena aceitar sair com aquele rapaz e mostrar o meu carinho por ele? Nada é eterno e isto correrá mal outra vez… Será que vale a pena sair da casa dos pais e ir morar sozinha? Eles acabarão por ficar sozinhos também, pois os pais deles envelheceram e no final ficamos todos sozinhos… Será que vale a pena emigrar para ter um emprego supostamente melhor? Afinal, farto-me de trabalhar na mesma e ao final de um tempo terei que trocar novamente…
Arrisco ou não arrisco? Vou ou não vou? Ou melhor, por onde vou? Com quem?
Se alguém tivesse as respostas a estas perguntas seria a pessoa mais popular, pois seria como adivinhar o totoloto.
É certo que podemos traçar o nosso caminho, mas tendo presente estas questões, nunca com certezas que tudo será como esperamos e desejamos, ajuda em muito a não desilusão.
Quando chega mais uma fase da vida em que a pergunta surge, “vou ou não vou?”, eu vou! O corpo humano é feito de movimento. Parar e fechar caminhos é morrer, mesmo que o caminho seja ficar parado, em reflexão para depois seguir em frente. Refletir também é agir e há quem diga que se age muito melhor assim, refletindo.
Utilizando a expressão de alguém, “a vida não é só a nossa bolinha de ténis!”. Se cairmos, levantamo-nos outra vez, regressamos, voltamos atrás, traçamos novos caminhos. Importa ir, sabendo que vamos.
Sónia Abrantes