Entre duas pessoas:
- Já te sentiste vencido, mesmo tendo ganho? – questiona com olhar perdido.
- Quem nunca ganhou ou perdeu na vida? – responde em jeito de reflexão.
- Por vezes, sinto-me derrotado. Que sensação! – desabafa.
- Derrotado por não vencer ou por ainda não ter vencido? – questiona.
- Derrotado por não ser o que se imaginara. Derrotado, porque num preciso dia, todos os ganhos de outrora parecerem em vão. Menores do que as vitórias ainda por alcançar. Ou que queremos tanto possuir!
- Somos todos vencedores… algures na nossa vida… - reflete, o outro.
- Somos todos perdedores também, então. – contrapõe.
- Talvez não perdedores… mas seres perdidos, por vezes. Seres que perdem, por vezes também.
- E o que vencemos, então, todos, algures? – indaga.
- Vencemo-nos a nós próprios. Algures, vencemos, por exemplo, por nos superarmos. - conclui.
- Vencemos a nós próprios? – replica, intrigado.
- Sim.
- Então derrotámo-nos a nós próprios também?
- Deixamo-nos derrotar, não só por nós, mas pelos outros também.
- Basta não deixar, é isso? – olha, intrigado.
- Talvez. – sugere.
- E se perdermos?
- O que podes perder?
- Sei lá! Coisas, tempos idos, pessoas…
- Coisas são coisas. As pessoas já nos são, e serão, se assim o quisermos. Embora nunca nos pertençam. O Tempo não se tem. Vive-se.
- O Tempo não se perde, então?
- Perder, é como quem diz. Talvez o deixemos passar. Talvez não o vivamos. Se o vivemos, não o perdemos.
- Não?! – exclama.
- Não. Ganhamos. – afirma.
- Como assim? – confuso.
- Já pensaste nas memórias? Ganhámo-las! São nossas!
- Então ganhamos memórias com o Tempo?
- E não só! Ganhamos aprendizagens.
- E se não aprendermos? – questiona.
- Perdemos uma boa oportunidade para tal e para nos sentirmos vencedores. Às vezes, a sensação de derrota, pode advir daí.
- Ficamos perdidos, é isso? – interroga.
- Perdido, só se te deres por vencido. – remata.
Cecília Pinto