Papéis pequeninos e coloridos, fitas compridas e encaracoladas enfeitam as ruas no único dia do ano em que todos têm permissão para “ser louco”.
Parada num muro, com as minhas orelhitas de tigre, observo com entusiasmo o desfile de máscaras, personagens e pessoas, e interrogo-me sobre a possibilidade de cada um encarnar o que gostaria, sonharia ou imaginaria ser.
Existe um dia em que se pode dar asas à imaginação, liberdade às fantasias e espaço para todas as “tolices”, em que as máscaras são personagens fictícias que cada pessoa escolhe.
Vemos:
Bebés deliciosamente mascarados de abelhas, coelhos, gatinhos.
Crianças, que “já sabem o que querem” e escolhem as suas fantasias transformando-se em verdadeiros super-heróis ou encantadoras bruxinhas. E vemos a mais pura das fantasias a ganhar forma na vontade, no desejo de uma criança acreditar que, por um dia, é um grande mágico e consegue tirar um coelho da sua cartola enquanto anda de bicicleta, ou que é uma princesa e acredita que tem um reino feito de doces e chocolates.
Adultos que descontraidamente se transformam em crianças, em monstros ou apenas em alguém do sexo oposto.
E assim…
Todos, mas todos, tem permissão para brincar, mascarar-se, fantasiar, colorir, berrar, sem o perigo inerente de ser conotado de “louco”.
Podemos transformar-nos em heróis, em princesas, em guerreiros, em bichinhos. Podemos, pura e simplesmente, ser “loucos”, fantasiar livremente, levar a vida com humor.
Rir de nós e com os outros é uma experiência obrigatória para ser vivida num dia e não um direito para a vida toda.
E assim, apenas num dia do ano, pode ser-se ou fazer-se aquilo que gostaríamos ou queríamos o ano todo.
Mas para mim, a maior “loucura” não é fazê-lo ou sê-lo apenas num único dia. É, mesmo querendo, não o ser nem o fazer no resto dos dias.
Susana Cabral