Olá a todos. Sou o cidadão 10768*** desta República Portuguesa. Apenas o pudor de não querer partilhar, no domínio público, o meu número na íntegra, vos impede de saber quem eu sou. Mas será mesmo assim?
Evidentemente que existem dados pessoais que são públicos. Contudo, através destes e de alguma arte / engenho / conhecimentos, pode aceder-se a outros que não serão assim tão públicos, contributo da era da fácil informação. Apesar de tal, não é minha pretensão incidir o foco deste texto acerca dos eventuais benefícios ou malefícios desta promiscuidade informativa, de direitos ou de deveres, de confidencialidade, sigilo, vendas e trocas. Gosto de remeter essas questões para o âmbito do Direito e de pessoas com propriedade de discussão, profissionalmente lucida e informada. A mim, cidadão 10768***, diz-me mais olhar para a individualidade da cidadania.
Aos olhos do Estado cada um de nós é um número. Aos olhos dos concidadãos que trabalham no Governo, cada um de nós é um número. Se alguém, com acesso a uma base de dados, pesquisar pelo cidadão 10768***, vai com certeza encontrar variadíssimos (e espero, interessantíssimos) dados sobre mim. Contudo, fazendo a junção do que eventualmente encontrar, tal nunca chegará para compreender minimamente a essência do que me constitui enquanto individualidade.
Ora aqui se encontra, na minha opinião, o maior paradoxo do conceito de cidadania. Com ela (cidadania) pretende-se estabelecer vínculos, principalmente de direito e dever, mas também de norma, conduta, ética, moral, cultura e porque não, de “normalidade”, entre pessoas que são... pessoas! E todas as pessoas sabem que cada pessoa é diferente da outra pessoa... Logo, apesar de ser possível regulamentar quase tudo que ocorra ao legislador (aprovar já é outro capitulo) em respeito da cidadania, nunca será possível “domar” a condição humana da singularidade pensante-executante da vivência socializante. Até rimou...
Particularmente falando, ganha então assim evidência uma entidade que divide este palco republicano com todos vocês. Ao melhor estilo da fusão Dragonball, o cidadão 10768*** mesclou-se com Rui Duarte, originando uma pessoa-cidadão que é igual a todos, mas diferente de todos. E isso, no meu entender, é muito salutar.
Deixo-vos, para finalizar, uma questão. À laia da pergunta acerca do ovo e da galinha, quem é que vocês acham que “nasceu” primeiro? A pessoa ou o cidadão?
Rui Duarte