Anda intrigado com tanta cidadania. Há muito tempo que ela se atravessa no seu caminho, mas ultimamente tem sido demais. Por onde passa, de uma maneira ou de outra, acaba por se encontrar com a tal, cidadania. Irrita-o, tanta cidadania. E, se ao menos soubesse o que a palavra significa!... Sabe lá! Até podem estar a insultá-lo!...
Nos muros, no meio de papéis velhos e rasgados, com fotografias de artistas a anunciar um espetáculo, ela lá está: “Projeto Social – Ação Cidadania”. Nas paredes de uma casa em ruínas, tendo por fundo aquilo que lhe parece ser um mapa com muitos países, lá está de novo: “Cidadania Europeia”. O papel que apanhou do chão mandava: “Educar Para a Cidadania”. A caixinha que puseram no jardim em frente ao seu abrigo, com sacos plásticos e com a fotografia de um cão, tem escrito: “Cidadania Ambiental”. A caixa de cartão onde dorme tem o desenho de uma árvore e escrito: “Cidadania no Campo”. Bem, se ela foi para o campo talvez agora deixe de se cruzar tantas vezes com a tal de cidadania.
Absorto nos seus pensamentos, não repara no poste e bate com a cabeça mesmo em cima do “Aviso aos Cidadãos”. Um transeunte que passava não conteve a observação:
- Então o cidadão não viu o poste? Olhe que ele já estava aí …
- Ó amigo, olhe que eu não sou cidadão, o meu nome é João!
Cidália Carvalho