O sonho parte de uma presunção, ainda que desenquadrada, daquilo que se pretende que seja o futuro. Exige a definição de objetivos, que são o seu suporte, e uma estratégia que indica o meio para se atingir tal estado. Os objetivos devem ser SMART, salientando-se atributos tais como alcançáveis, mensuráveis (quantificáveis), realísticos e estimuladores.
Todo o ser humano tem sonho ou sonhos, esse é o ponto de partida. A dormir ou acordado, de dia ou de noite, com maior ou menor conforto, nesses sonhos visualiza-se a chave dos problemas, preocupações e desafios com que nos debatemos no quotidiano. Para imortalizar os sonhos deve-se, naquele instante, registar tais factos preferencialmente por escrito, para posterior amadurecimento e alinhamento à situação real.
O sonho é mais parecido a desejo do que a necessidade, pois ele encontra-se num patamar acima de uma simples necessidade fisiológica. O sonho espelha, assim, a forma como gostaríamos de concretizar as nossas metas ou maiores desejos.
Será que o sonho se trespassa? Não! Porque ele possui uma elevada dose de energia emocional e de originalidade, portanto, os sonhos de duas ou mais pessoas podem cruzar-se mas dificilmente aleitam-se sobre a mesma direção retilínea ou curvilínea. E diga-se, quanto maior o número de pessoas sonhadoras mais complexa será a harmonização ou idealização de um sonho coletivo.
Como, então, é que sonhos dísteros e até ambíguos podem coexistir sem colidir? Pela necessita de aceitação das diferenças humanas, liberdades de direitos fundamentais e intrínsecos à natureza humana, os sonhos podem enxertar-se sem desperdiçarem a sua raíz. Imbuídos pelo espírito da tolerância, grupos de pessoas podem edificar uma teia de sonhos não conflituantes, mas sim complementares e até suplementares - princípio da concórdia.
O sonho deriva de um contexto hegemónico intra e externo a cada ser, carregando em si diferentes facetas heterogéneas. A nível micro assemelha-se a uma célula, e no sentido macro a um tecido. Podemos assumir determinado sonho mais proeminente que o outro sob o ponto de vista de impacto ou resultado imediato com maior ou menos objetividade, porém um sonho relegado não torna-se necessariamente inválido.
Os sonhos modificam-se com o andar do tempo tal como ocorre com a ortografia, um dos traços da personalidade. Querendo sistematizar uma possível hierarquia de sonhos sequenciados através de um mecanismo de seleção natural similar a um filtro, resultaria no topo - primeiro nível - o sonho potencial, seguido do sonho provável, no terceiro nível o sonho real a antecer o resultado, em último nível, que por sua vez retroalimenta o sonho potencial.
Por fim os sonhos sustentam-se pela esperança, sacríficio e fé. A desistência de determinado sonho é prova inequívoca de que tratava-se, antes, de um objetivo intermédio (meio) e não propriamente um fim desejado.
António Sendi (articulista convidado)