2.7.14

 

No castelo perto da Escola via-se e ouvia-se tanta coisa!!! Sentados(as) com as pernas à chinês na relva, com as muralhas como horizonte, divertiam-se como sabiam, gostavam, lhes ensinaram… enfim, não sei porque se divertiam assim… os comportamentos eram diferentes; usavam substâncias estranhas que os faziam estranhos (pensavam os outros que não as usavam e não sabiam o que fosse tal coisa)… ouviam música com um gira-discos portátil: Eric Clapton; Rod Stewart; Paul Simon; Zeca Afonso; Vitorino; Janita Salomé, entre outros. Havia pessoas, estranhamente curiosas com aquele mundo, a assistir e a comentar tal comportamento nada “normal”… porque passavam assim os “furos” das aulas? Vestiam diferente: roupas alternativas; calçado alternativo… pouco comum… pouco “normal”. Não nos aproximávamos do castelo, ou seja, da relva do castelo. Não podia ser… era muito estranho... ao longe era mais interessante; aumentava o mistério e a curiosidade. Os que se sentavam com as pernas à chinês na relva do castelo eram olhados como especiais: especiais pela diferença e, apenas, pela diferença. Não era “normal” passar os “furos” daquela maneira, muito menos a usar aquelas coisas estranhas. O que é certo é que não cumpriam algumas normas sociais… sim, porque não era permitido usar aquelas coisas e, convenhamos, que também não era muito “normal” sentarem-se com as pernas à chinês num sítio público com gira-disco portátil!!! Não era o nosso código de relacionamento nem de comportamento. O que faziam torna-se um comportamento delinquente? A palavra delinquência traz consigo muita carga moral!!! (é apenas a minha perceção). Se consideramos delinquente aquele que evidencia comportamentos ilícitos que contrariam os códigos de comportamento estabelecidos pelas autoridades daquela área geográfica e com bases morais socialmente estabelecidas, então, os(as) que se sentavam com as pernas à chinês na relva com as muralhas do castelo como horizonte e que usavam aquelas substâncias estranhas, eram delinquentes.  Parece estranho dizer assim as coisas… mas eram! As substâncias eram ilícitas, portanto, o seu uso não era aceite pelas autoridades. Se perguntarmos porque é que aquelas pessoas, que se sentavam com as pernas à chinês na relva do castelo, tinham esses comportamentos, várias teorias nos podiam ajudar a descobrir: biológicas, psicológicas, sociológicas… enfim, conseguiríamos uma resposta mais ou menos aceitável. A evidência científica diz-nos que a causalidade do comportamento delinquente não é linear. Expressões como “Diz-me com quem andas dir-te-ei quem és” e “Filho de peixe sabe nadar”, precisam de questionamento sério no que a este comportamento diz respeito. Atendendo às teorias explicativas, poderíamos chamar aqui a importância dos fatores de risco e dos fatores protetores. A evidência também nos alerta para a necessidade do equilíbrio entre eles. Como pais, como família, como amigos, como elementos de uma associação ou apenas como um elemento da comunidade onde vivemos, temos responsabilidade na prevenção de alguns destes comportamentos, no sentido em que devemos ter presente a importância de funcionarmos como fatores de proteção dos nossos filhos, da nossa família e dos nossos amigos. Hoje o comportamento delinquente assume contornos diferentes, apenas e só, porque as normas sociais também são diferentes. Continuamos a sentar-nos com as pernas à chinês com as muralhas do castelo como horizonte… ouvimos música (provavelmente, outras músicas) com um aparelho diferente do gira-discos portátil… e o uso daquelas substâncias estranhas continua a ser um comportamento desviante. A sociedade vai aceitando progressivamente alguns comportamentos, assumindo-os com normalidade, outros mantem-nos delinquentes e outros torna-os delinquentes. Arrisco dizer, com algum grau de certeza sustentado pela ciência, que a promoção da saúde mental é um dos caminhos para a prevenção de alguns comportamentos delinquentes.

 

Ermelinda Macedo

 

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