24.3.17

San-Francisco-ItsaWaB.jpg

Foto: San-Francisco – Itsa WaB

 

Já era tarde. Ana estava deitada, já fazia algumas horas. Rolava na cama, mas não conseguia dormir. Ana levantou a cabeça e olhou o relógio que herdou da avó, e o barulho do relógio a fazer tic-tac-tic-tac, fazia lembrar que prometera se desfazer do relógio já fazia tempo, mas toda manhã quando se levantava e pegava o relógio, lembrava-se de ouvir o mesmo som na casa da avó, quando despertava. Era sempre domingo e cheirava a bolo de banana. A promessa da madrugada se desfazia e ele ali permanecia.

Estava calor e as folhas das árvores não se movimentavam. Ela sentia-se sufocada, trocou a roupa por uma mais leve, mas nada parecia ajudar. Já faltavam poucas horas para se levantar quando ela, enfim, pegou no sono.

Sonhou que caia num buraco muito profundo, ela gritava com toda sua força para alguém resgatá-la, mas ainda que ela gritasse muito, ela só ouvia o silêncio. Era como se aquele buraco fosse o espaço, onde o som não se propaga. E mesmo que ela gritasse até não ter mais forças, ninguém conseguiria ouvi-la.

 

Ana acordou cansada, foi para o banho a pensar naquele sonho estranho que tivera.

Lembrou o quanto se sentia sufocada por ter um trabalho que detesta, mas fica calada. Lembrou, também, há quanto tempo não tem férias e nem sabe quando terá, mas segue calada. Também lembrou que precisa buscar as crianças e ir ao mercado depois do trabalho. Estava exausta. Vestiu a roupa apressada e seguiu.

Enquanto estava guiando, lembrou novamente do sonho. Ouvia música. Sentiu uma vontade de chorar imensa. Soltou um grito. Há muito barulho na cidade, ninguém pode ouvi-la.

 

Leticia Silva

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 07:30  Comentar

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