29.6.16

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Foto: Woman – Gerd Altmann

 

Há coisas que passam por mim (ou eu passo por elas, enfim...), neste universozinho de fingir do Facebook (e da virtualidade em geral), que me põem os dedos a escamiçar. (Fui ver ao Priberam se esta palavrinha preciosa existia, mas não encontrei sombra dela... Que triste que eu fiquei. Sempre a ouvi, de pequenina, mas já lá vai tanto tempo, que nem sei se as minhas orelhas ainda têm o poder de ficarem escamiçadas quando recebo alguma reprimenda. Mas pronto, também quem é que se atreve a dar uma reprimenda a uma senhora de tão proveta idade?... Enfim. O mais certo é que a palavra não exista mesmo - entendam por encarniçar, s.f.f.. Serve.)

 

Pois, dizia eu que, à vista de certas coisas, os meus dedos ficam com uma espécie de urticária violenta e não posso deixar de escrever por eles abaixo - a ver se a maleita escorre e me alivia o cérebro...

Já nem é a primeira vez que leio queixumes do género:

“Ai, tantos amigos, e tão pouco beijos recebi hoje...”;

“Ai, hoje enlesmei-me numa massa de pizza, enrolei e levei-me ao forno - quem vai ler isto e sentir-se convidado a vir provar-me...?”;

“Aí, você mi manda um abraço...?”;

“Ai, se não comentam isto, vou apagar-me do mapa!”;

“Se eu me matar hoje, já sabem, é apenas porque sei que vocês não vão ler o meu post de amanhã”;

“Ando eu aqui a esforçar-me, a babar pérolas de cultura... e vocês nem um gostinho me dão à concha?...”;

“Ajudem-me: que é que eu faço aos cromos mortos, deito-os para o lixo ou mudo de casa?...”

 

Pois. Hoje quero eu dizer que abomino isso. Bem, não tanto os queixumes, que esses são maleitas de solidão. O que eu abomino, na verdade, são as chantagens, as cobranças que, sim, são sintomas de egoísmo e de ego exacerbado.

Repensem, meus caros: o Facebook é uma caderneta de cromos, sendo que os tais (os cromos) são só moeda de troca. É certo que também, em bons tempos e com ventos a favor, sempre se construíram e consolidaram amizades à conta disso, desse intercâmbio de interesses... Mas... oh, valha-nos Deus!... bem sabemos que, quase sempre, preenchida a caderneta, o INTERESSE se perdia. Ou, pronto, ficava guardado lá na gavetinha dos troféus. Aquela da escrivaninha de pinho onde cabia tudo, desde chicletes mascados, à cartinha de amor do(a) colega da 1ª classe.

Repensem, caríssimos cobradores de palmadinhas nas costas: esses cromos de que se queixam, dizendo que os vão eliminar porque são meros números, um peso morto na vossa barca de paraíso... a esses cromos, quanta assistência lhes têm prestado?... Quantas vezes os revisitaram (ou visitaram), para lhes apalparem o pulso e ver de que qualidade são feitos?... Quantas vezes os ignoraram ostensivamente, lá do alto do vosso inchado umbigo...? Sabem, pelo menos, em que caderneta precisaram deles?...

 

Meus caros, antes de mais, subam lá ao alto das vossas inteligentíssimas consciências: de lá, terão certamente uma mais abrangente visão deste universozinho. E, mais importante, relembrem aquela máxima da vossa avozinha (sim, porque acredito que tenham, tal como os pobres mortais onde eu me incluo, uma sábia e doce avozinha; paz à sua alma): “- Mãos que não dais... por que esperais?”.

 

Teresa Teixeira

 

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27.6.16

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Foto: Baby – Public Domain Pictures

 

Somos seres humanos e, intrinsecamente, precisamos de amor, de amar e ser amados, precisamos uns dos outros, e o que nos mantém ligados uns aos outros, são os sentimentos, os laços que se vão criando.

Precisamos, desde tenra idade, do amor dado pelos pais, para crescermos felizes. Talvez que a relação mais desigual, em que se dá sem estar à espera de receber, seja com os nossos filhos, sendo que o papel de progenitor inclui cuidar, ensinar, disciplinar e orientar na vida. Esse amor é dado de forma incondicional. Ao longo da nossa vida continuamos a precisar desse amor, precisamos de alguém que cuide de nós e que nos ame. Esse amor incondicional é das formas mais altruístas de amor e não deve ser circunscrito, deve ser alargado e dado em qualquer relação: amigos, entre marido e mulher, entre pais e filhos e até desconhecidos.

 

Uma das formas desse amor, dar sem esperar receber algo, é o voluntariado. Há coisas tão simples, como gestos, sorrisos ou abraços que fazem a diferença em qualquer ser humano. Podemos, inicialmente, pensar apenas que ao darmos contribuímos para a felicidade ou bem-estar do outro, a quem a dádiva poderá fazer toda a diferença; contudo e mais interessante é que o outro a quem demos, dá-nos a dobrar ou a triplicar.

Uma vez encontrei uma senhora que, para mim, é das pessoas mais difíceis para lhe chegar ao coração. Raramente ri, embora já lhe tenha “sacado” um ou outro sorriso. Está sempre virada para o passado, muito metida dentro do seu mundo, passa grande parte do seu tempo sentada numa poltrona e raramente fala com alguém. Essa senhora preocupava-me. Um dia, aproximei-me dela e dei-lhe vários abraços, não me lembro do que lhe disse, mas sei que chorou como uma criança e em cada vez que a abraçava, chorava mais e ria-se ao mesmo tempo, de alegria.

 

Estas situações levaram-me a pensar: “É só isto? Isto basta para sermos felizes? Parece-me pouco.”. Eu acho que, no fundo, o que dou é pouco, mas para quem recebe é tudo. O que dou, às vezes, move montanhas, toca-lhes no fundo da sua alma e choram, do fundo do seu coração, de comoção. Eu dou-lhes, talvez, o que elas precisam, e elas a mim dão-me o que eu preciso. Cada um do seu jeito.

 

Helena Ferreira

 

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22.6.16

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Foto: Breakup - Tumisu

 

Lado A

- Meu filho, eu gosto muito de ti e dos teus irmãos – eu amo-vos. Mas não amo o vosso pai, nunca o amei. Aliás, nem gosto dele. Melhor dizendo, na actualidade detesto-o. Como sabes, como sabeis todos, há já muitos anos que a nossa vida como casal não existe; apenas vivemos sob o mesmo teto, sem vida comum, dormindo em quartos separados. E alguns conflitos, algumas zangas foram surgindo ao longo deste tempo. Mas nada disso é culpa minha pois que, alguns dias antes de casarmos, eu avisei-o. Não gostava dele e não queria equívocos ou enganos, pelo que o avisei, para que não tivesse surpresas. A partir daí não pode queixar-se. É certo que durantes uns anos fomos funcionando como casal; vós nascestes. Mas fui perdendo a paciência. Agora já não suporto a ideia de continuar casada com o vosso pai. Poderemos continuar a morar sob o mesmo teto, como até aqui, mas a ideia de continuar ligada a ele por um vínculo, é para mim insuportável. Nada recebi dele, e nada lhe dei. Ele sempre vos manipulou contra mim, acabando por fazer de mim a má da fita. Faz tudo para se dar bem convosco. E vós, cada vez mais distantes de mim. Compreendo o vosso choque ao descobrirdes que pedi o divórcio. Tenho pena por vos ter chocado, mas a vida é minha e sou eu que tenho de a gerir. Ele foi avisado; não tenho culpa.

 

 

Lado B

- O que eu penso?! Olha meu filho, penso que é mais uma loucura da vossa mãe, mas desta vez com maior requinte. Por isso, não irei conceder o divórcio. Não sairei de casa, não colaborarei, a menos que a polícia venha buscar-me para me levar ao tribunal. Não é nada comigo… Pela minha parte irei continuar a amá-la como sempre amei, continuarei ao pé dela, a ajudá-la, a cuidar dela, a dar-me, a dar tudo a ela. Sim, meu filho eu amo-a, mesmo que ela não fale para mim, mesmo que ela não queira saber de mim, mesmo que ela não vos aceite como adultos que sois e não vos respeite como tal. Por vezes penso que me odeia. Mas, mesmo assim, ela dá-me imenso. Deu-me os teus irmãos e a ti, dá-me a alegria de a ver todos os dias, de sentir a sua presença, de estar junto dela, mesmo sem olhar para mim, mesmo sem a poder tocar, sem a poder abraçar, sem a poder beijar. Não sei como poderia viver sem ela. Sabes, temos de ter muita paciência, ela no fundo não é má pessoa, tem tudo a ver com a origem dela, sei lá! Por favor, tenham paciência com a vossa mãe.

 

Fernando Couto

 

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20.6.16

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Foto: Screen – Hans Braxmeier

 

Nestes dias que correm, é-me difícil associar o proverbial dar e receber a qualquer coisa de inevitavelmente positivo, do género dar é receber. Como se todos nós fossemos imbuídos desse espírito puro em que a alegria está no dar muito mais do que no receber e que este é um processo tipo boomerang, em que recebemos sempre algo de volta, nem que seja a alegria de fazer outros felizes ou o orgulho de nos sentirmos boas pessoas.

São muitas as motivações para dar e muitas vezes nada têm de nobre: pode ser para humilhar, para criar uma dívida moral, para exibir ao mundo uma certa imagem. Também há, evidentemente, quem o faça pelos motivos mais bonitos que se podem imaginar e com a melhor das intenções. A humanidade não é toda má, nem toda boa. Na verdade, nenhum de nós é todo bem ou todo mal.

Mas infelizmente com a experiência de vida e com todas as notícias que nos entram pela casa dentro, constantemente, torna-se quase impossível não questionar as motivações de quem dá. Parece quase uma quimera ou utopia, um ideal a atingir num espaço onde habitam unicórnios e chovem flores.

 

Por outro lado, há um dar que é genuíno e que todos podemos receber. A mim deram-me muito, muitas pessoas. Recebi muito do Albert Camus, do John Coltrane, do Edward Hopper, da Maria Callas, do Leonardo da Vinci, da Maya Angelou, do Snoopy, de todos os impressionistas, de vários filósofos, de inúmeros artistas. E podia ficar aqui horas a debitar tudo o que recebi e de quem. Deu-me também muito a família, aquela com que cresci e a que tenho agora. E algumas amizades. Ah, e a minha gata. Deram e dão, que eu sou uma pessoa de sorte. E recebi da vida, que nos foi dada e que, a cada suspiro da nossa existência, nos continua a dar. E que fazer então com essas dádivas?

Talvez seja tempo de inverter as coisas: receber e dar. Receber para saber dar. Saber receber para depois podermos dar.

Consta que Einstein terá dito que “a mente é como um paraquedas... só funciona se a temos aberta”. Saibamos então receber de mente aberta e de coração aberto tudo o que está ao nosso dispôr e retirar daí as devidas conclusões, práticas, afetivas, profundas ou superficiais. Para sabermos dar e para sabermos receber, temos que estar dispostos a tal. Nem sempre é fácil, nem sempre entendemos o que nos dão e nem sempre o que recebemos nos parece o que precisamos ou o que queremos. O ser humano é frágil e tem medo de muitas coisas, de mudanças, de desafios, de outras ideias e conceitos. E é destes medos que se alimenta o preconceito, a inveja, as más intenções, o radicalismo.

 

Eu, se tivesse poderes mágicos, gostava de dar a todos a intrepidez necessária para nada temerem e para se poderem abrir. Esse sim, seria um espantoso mundo novo no qual dar e receber seriam atos maravilhosos.

Até esse dia, tentemos aproveitar sempre tudo o que podemos receber e saibamos dar aos outros o melhor de nós mesmos.

 

Laura Palmer

 

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17.6.16

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Foto: Business-man – Vigan Hajdari

 

São oito e trinta e dirijo-me ao “ponto para picar”. Coloco o indicador direito na máquina e não oiço a voz robótica que diz “access granted” como no outro centro. Não sei porquê mas acho piada a essa forma pomposa de dizer que entrei ao serviço. O centro ainda está calmo, sem clientes e apenas alguns funcionários. O que se segue em pouco falha diariamente. Liga-se o pc e enquanto se espera pelo arranque vai-se buscar um café. Sento-me e começo a empreitada dos e-mails.

Em meia hora o centro ganha outra vida. Oiço o reboliço do andar de cima acompanhado da eventual visão da descida das carrinhas na rampa. No meio desta azáfama de sons consigo identificar perfeitamente alguns. Não são palavras nem frases. Apenas sons. Sons que provêm de pessoas, algumas (muitas) que acompanho há alguns (muitos) anos. Expressam-se assim, transmitindo ao mundo as suas vontades, desejos, sentimentos, dores e tudo o mais. Claro que oiço também as outras pessoas. Aquelas que falam, que se expressam por palavras e frases. Maiores ou mais curtas. Com maior ou menor profundidade comunicacional. Muitas vezes refletem apenas vivências próximas. Outras vezes, talvez em falta de algo interessante e recente, refletem acontecimentos longínquos.

 

As pessoas vão passando à porta do meu gabinete. Dão-me os bons dias, e eu devolvo a cortesia. Primeiro são os funcionários. Os colaboradores que acompanham os clientes nas salas, o pessoal da limpeza, os administrativos. Depois, religiosamente, aparecem os clientes. O termo não é bonito, eu sei. Contudo, na ótica da justificação “quem paga um serviço é cliente”, parece fazer algum sentido.

Alguns passam e apenas cumprimentam. Outros perguntam ainda se está tudo bem. E depois existem aqueles que não passam. Param e entram. São sorrisos, apertos de mão secretos que nunca saem bem (apesar do treino de anos) e histórias. Muitas. Principalmente do que aconteceu em casa nas horas anteriores. Partilham, partilham e partilham. Na verdade, o fundamento de muitas delas carece de relevância. Para nós, pessoas sem deficiência intelectual. Banalidades talvez. Nada mais errado de certeza.

Em todos esses momentos as pessoas estão a dar. Expõem as suas vidas, as suas felicidades e as suas tristezas. Confidenciam coisas que nós, pessoas sem deficiência intelectual, habitualmente não falaríamos. Abrem o seu mundo porque confiam e porque gostam. Não de o fazer, quero dizer. Gostam sim da pessoa que as ouve. E as escuta. Que, consoante a situação, as orienta e as aconselha. Que as ajuda a deslindar uma lógica compreensível à dimensão que lhes é compreensível. E é sempre diferente.

 

E dar de volta é também isso mesmo. Dedicação, respeito e orgulho a quem nos dá. A quem nos trata como significantes. A quem nos inclui sem reservas na sua vida. As minhas responsabilidades enquanto técnico numa função e categoria profissional são bem claras. Estão, inclusivamente, descritas em documentos extensos e aborrecidos. Gosto contudo de pensar que as minhas responsabilidades enquanto pessoa que partilha estes dias passam por esta troca... dar e receber. Apenas para poder dar de volta outra vez.

 

Rui Duarte

 

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15.6.16

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Foto: Dependent – Gerd Altmann

 

Há uns dias conheci uma senhora especial. Médica reformada, 81 anos, 5 filhos e uma “pazada” de netos.

Um completo acaso juntou-nos, numa história que em detalhe pouco interessa.

Interessa sim, que conheci uma mulher cheia de valor, cheia de vida já vivida, repleta de histórias, rica em passado, em generosidade, no coração e na conversa.

Hoje é um ser frágil. Trémula, nervosa, sozinha sem o ser, como o são todos aqueles que cumpriram a grande tarefa de criar filhos e netos que hoje estão nas suas vidas sem descurar os seus mas que, na impossibilidade da omnipresença, se veem obrigados a deixar sozinhos por mais que um par de horas aqueles que ainda ontem eram ativos e que, de certa forma, ainda são autónomos e (quase) independentes, mesmo que não o sejam vinte e quatro horas por dia.

Uma senhora que em tempos ajudou muita gente. Cuidou, tratou, curou e salvou a vida a muitas pessoas. Hoje sente que atrapalha, mas eu bem vi que ainda ajuda. Com os netos e com a conversa e conselhos aos seus (“Ai, os meus queridos filhos...”).

 

Nesse dia foi a sua vez de precisar de ajuda e eu tive o privilégio de a poder ajudar.

Agradeceu-me um milhão de vezes mais mil por uma coisinha de nada.

Soubesse ela o quanto lhe agradeço por ter pintado o meu dia de cores bonitas, soubesse ela o prazer que retiro ao ouvir histórias de vida dos outros...

Soubesse ela o que lhe agradeço ter feito de mim uma pessoa um bocadinho melhor.

Obrigada, eu!

Recebi muito mais que a simples boleia que lhe dei.

 

Joana Pouzada

 

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13.6.16

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Foto: Beggar – Dean Moriarty

 

Dar não é um ato de caridade, mas sim uma obrigação moral e de recompensa com o seu semelhante, por fazermos parte da mesma geosfera, e de gratidão por termos sido iluminados para alcançar desideratos comuns. Quando recebemos, emerge a necessidade de partilhar para eternizar e valorizar a nossa conquista, a vida é um sistema de trocas de sinais que os seres emitem comunicando valores e mesmo que a oferta seja digna de realce, se não se faz acompanhar por uma oferta de valor intrínseca, o carente pode duvidar.

A velha máxima já sugere que quanto mais damos mais recebemos em troca, numa medida ou contrapartida igual ou superior respetivamente, mas somente a plena consciência de ter honrado e cumprido um dever moral constitui uma recompensa incomensurável, que não tem escala de avaliação de impacto.

Entretanto, é razoável questionar a medida justa para se considerar que tal recebimento seja adequado ou meritório, no primeiro caso, assume-se uma avaliação objetiva, e no segundo, imaterial. A discórdia consiste em não sabermos reconhecer a natureza e momento da recompensa, conforme se assume receber certo padrão ou natureza da ação, ou pelo diferimento que o vencimento da recompensa possa sofrer, ou ainda exigir um retorno justo como se de uma transação com fins comerciais se tratasse.

 

Um dos maiores atos de ofertar é através do voluntariado direcionado para pessoas carentes, grupos desfavorecidos ou, indiretamente, através do exercício de profissões de natureza social por serem atividades plasmadas e impulsionadoras da qualidade de vida.

Pretendendo assemelhar ou traçar uma simbiose entre iniciativas empresariais e sociais, deduz-se o fenómeno empreendedorismo social, segundo a Endeavor é todo o negócio em que a responsabilidade social é o core business, são ideias que se consubstanciam em soluções de problemas sociais passíveis de serem transformados em produtos e serviços vendáveis e geradores de lucro a longo prazo.

É precisamente deste ponto que interessa fazer a articulação entre as dimensões social e material da atuação do Homem, ciente que uma persegue a outra; para se conseguir sustentabilidade num projeto empresarial, condição indispensável para o sucesso, é fundamental que as soluções propostas sejam ideias válidas e que gerem valor, transformando essa transação que comporta um risco numa operação mutuamente vantajosa. Nesse processo a comunicação tem um papel duplo desde o condutor de ideias à transmissão de valores indispensáveis para o comprometimento de todas as partes interessadas.

A ideia patente é de que, independentemente da forma como a pessoa está organizada, individual ou coletiva, para se receber algo em troca, a regra é antes dar. Se essa fórmula for copiada e replicada pelos níveis seguintes, semelhante à técnica de socalcos, o efeito da partilha será maior assegurando a distribuição dos rendimentos de forma abrangente e integral, gerando o efeito multiplicador. Esta é, aliás, a fórmula de crescimento em cadeia que muitos pequenos agentes organizados em rede podem seguir, obtendo vantagens de partilha de custos, geração de sinergias e escala de produção de forma a adquirir massa crítica para penentar e competir em palcos mais exigentes.

 

António Sendi

 

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10.6.16

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Foto: Children – Kiran Hania

 

Acredito piamente que o Dar e Receber pode ser visto sob duas perspetivas diferentes. Por um lado, se nos centrarmos nestas ações como se fossem verbos: Eu dou, tu dás, ele dá… ou, eu recebo, tu recebes, ele recebe… bem, teremos então uma visão muito separatista da ação. Eu dou, tu recebes. Se recebes, tens que me dar… Ou, por outras palavras, se te ajudo tu ajudas-me. Se te dou carinho espero receber carinho de volta. Sob este ponto de vista consigo imaginar um quadro cheio de pessoas amarradas numa troca contínua de exigências entre o ato de dar e a expetativa de receber algo em troca. Vejo amarras, expetativa, exigência, desilusão, aparência.

 

Mas também pode perceber-se o Dar e o Receber para lá dos verbos, como se fossem uma palavra só, em que Dar e Receber se tornam na única ação possível. Como? Dando sem esperar NADA em troca. Dar com o coração aberto, dar sem desejar, dar porque se Ama o outro ser. Dar porque se sabe que todo o Ser Humano tem sofrimento e que se podermos dar algo para que esse sentimento diminua, então estamos a Receber. A Receber contentamento por termos diminuído o fardo de alguém. Dar dinheiro sem esperar reconhecimento. Dar amor sem esperar fidelidade eterna, dar um sorriso sem esperar um sorriso de volta, dar passagem a um condutor sem esperar agradecimento. Dar, dar e dar. No fundo, dar é um ato egoísta, porque quem dá, sempre recebe. Não na mesma moeda, mas numa proporção muito maior. Recebe bênçãos, alegria e paz no coração.

 

Sara Almeida

 

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8.6.16

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Foto: Hand – Gerd Altmann

 

Sempre teve a convicção que dar era uma forma matreira para receber o que desejava. Cresceu rodeado de atenção, carinhos e mimos que o foram ensinando a receber, a receber, a receber. Por vezes, esse círculo ampliava-se para além dos pais, avós, tios e primos. Sentia que os pais deviam ser muito importantes, ele próprio foi acreditando que também o era. Tal era a reverência com que todos o abordavam, lhe ofereciam carícias, sorrisos, prendas, muitas prendas, prendas e mais prendas. E ia aceitando com naturalidade. Nada tinha que fazer, parece que todos adivinhavam os seus desejos, mesmo sem ele perceber que os tinha. Raramente o incitavam: “- Então, o que se diz?” E ele lá respondia com um sorriso, disfarçando-se tímido e assustado (tinha descoberto que incrementava o receber). Às vezes, quando sentia que poderia mais ganhar, lá lhe saía um esganiçado obrigado.

Tornou-se um adulto sedutor, um astuto manipulador, distribuindo singelas dádivas, matreiramente estratégicas para conseguir os seus fins. Vivia as relações posicionando-se sempre no seu lugar de recetor, conduzindo astuciosamente os outros aos seus papéis de dador. Nas relações amorosas, atuava ardilosamente, reservando ao seu par o privilégio de o amar. E ele deixava-se ser amado.

Inesperadamente, a sua vida perfeita foi brutalmente abalroada pela doce e assertiva Flor. Esta forte mulher que se respeitava e do mesmo modo respeitava os outros, trouxe-lhe dolorosos e apaixonantes desafios. Foram longos meses de aprendizagens com genuíno amor, banhadas a mel e a fel, num vaivém sinuoso de fluxos entre dar e receber.

 

Tayhta Visinho

 

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6.6.16

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Foto: Sky - Hongmyeon

 

Na minha incapacidade de te irradiar a tristeza dos olhos, queria com toda a garra criar uma fórmula balsâmica que te arrancasse um sorriso à dor que se aproxima. Melhor, queria desviá-la para outra direção, como se eu fosse vento e tu, branca nuvem! Todavia, apenas posso estender-te a mão.

A verdade inevitável, que não vou decorar com palavras bonitas, é que vais sofrer com a borrasca que se avizinha. Axioma por demais óbvio, eu sei. Mas não tão já. O presente é o presente que a vida te confia nos braços. Acarinha-o, gozando o que podes receber, amplificando o que ainda podes (te) dar.

A secura pétrea destas palavras um dia será pó. O que te restará de mais precioso é o que souberes guardar do outro. E serás imensamente rico.

 

Ana Bessa Martins

 

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3.6.16

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Foto: Give And Take – Gerd Altmann

 

Gosto de dar, mas também gosto de receber, isso não posso esconder. Aliás, parece ser comum a toda a gente: dar e receber. Uma coisa implica a outra, convenhamos. Exemplo mais paradigmático ocorre na partilha de afetos, em que se dá o melhor para receber elogios, dá-se o que se tem para receber reconhecimento, dá-se carinho para receber afeição e amor para receber amor. A própria amizade é um contínuo dar e receber para uma realização plena. A máxima da vida será sempre no sentido de dar e receber, o que não raras vezes encerra algo de negativo e egoístico nessa relação de troca, principalmente, quando nela predomina uma ideia calculista. O ato nobre, sublime e generoso, consistirá em dar sem esperar receber o que quer que seja em troca. Deve, pois ser, incondicional, o que, por paradoxal que pareça, nunca fecha as portas para se receber sem ser necessário retribuir. Mesmo aqueles que se destacam pela sua enorme generosidade, poucos infelizmente, nesta fria e calculista sociedade em que atualmente vivemos, que tudo dão de si na vida, para realização de um ideal altruísta e humanitário, recebem sempre algo no seu espaço interior, no íntimo do seu ser, sentem a graça e a satisfação de verem os seus semelhantes felizes. Enfim, na vida, como se vê, há sempre um dar e receber, uma relação de troca, em que cada um de nós, sem esperar nada em troca, deve sentir sempre a obrigação de dar o melhor que possui dentro de si.

 

José Azevedo

 

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1.6.16

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Foto: Freedom – Livraria Adventista

 

Faz-me qualquer coisa. Sentir. Preciso de sentir alguma coisa. Sentir-me. Sentir-te. Procurar-me, encontrar-me? Procurar-te, encontrar-te? Sentir quem tu és. Sentir quem eu sou. Consegues perceber o que quero sentir? Talvez ninguém perceba o desatino que vai dentro de mim. Melhor assim.

 

Deambulo entre o aqui e o ali, entre o agora e o que já foi. Não o meu corpo físico, é mais a minha desassossegada mente que anda por cá e por lá. Que tropeça entre contraditórios momentos, sentimentos e pessoas.

Quero evitá-los. A tudo, a todos. A ti? Quero evitar-te a ti. Desapegar-me, largar as amarras que me prendem nem sei bem a quem.

 

- Alguma vez te conheci?

 

Gostava de aprender a não ter expetativas em relação a nada nem a ninguém. Gostava de aprender a não cobrar nada ao outro. A leveza em estado puro.

 

- Onde andas tu para me ensinar?

 

Gostava de aprender a desistir de pedir o que quer que seja. Por talvez não saber bem o que isso é ou o que pode ser. É, com certeza, uma outra coisa qualquer, diferente daquela que foi ontem. Uma sucessão de coisas: queremos isto, o isto transforma-se naquilo, que passa imediatamente a aqueloutro.

Se, pelo contrário, aprendesse a não pedir nada, aprenderia a receber aquilo que alguém achasse que devo receber. Uma nova perspetiva do outro? Uma nova perspetiva de mim?

 

Descobrir-me. Encontrar-me. Descobrir-te. Encontrar-te. É por aí o caminho?

 

Sandra Sousa

 

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