29.4.16

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Foto: Two Old Man - Viêt

 

O termo responsabilidade está relacionado com a palavra latina respondere que significa responder, prometer em troca. Apraz-me aproximar os termos responsabilidade (em inglês responsability) a resposta (em inglês response), onde segundo Joseph Adler, o conceito de responsabilidade moral na filosofia e teologia do Oeste tem sido genericamente expressa em termos de questões relacionadas à justiça e livre arbítrio. A resposta implícita à responsabilidade é uma recompensa ou punição por atos voluntariamente praticados; em sentido oposto agir com responsabilidade é uma forma de atuar em busca de recompensa ou aprovação mesmo não ocorra naquela circunstância.

Para Marcos Webber, induzido pelo sentido ético do termo responsabilidade, a dimensão filosófica assume a responsabilidade pelas próprias escolhas quando o apelo da consciência permite a liberdade para escolher por si próprio e assumir responsabilidade pelas próprias escolhas. Aceitar a responsabilidade requer um rompimento com o impessoal e querer reconhecer a si próprio como ser culpado.

 

A responsabilidade é uma aprendizagem que qualquer ser humano adquire em relação à inteligência emocional ao longo do tempo independentemente de sua idade ou qualquer segregação social que possa adjetivar a sua ocorrência, entretanto, a disposição para a mudança imposta pela aprendizagem permanece crucial.

No campo empresarial a responsabilidade social é o código de ética e moral que orienta a atuação responsável da empresa relativamente aos seus clientes internos e externos. A pertinência da institucionalização da responsabilidade social nas empresas está no aparente peso desta atividade na estrutura de custos e diluição dos resultados no curto prazo, quando estrategicamente pode ser uma via para o reforço da vantagem competitiva pela valorização da imagem corporativa e valor da empresa a longo prazo.

 

Em direito a responsabilidade civil pressupõe que todo aquele que violar um dever através de um ato lícito ou ilícito tem o dever de reparar pois, todos temos um dever jurídico originário de não causar danos a outrém. Um dos pressupostos da responsabilidade civil é verificar se houve ação ou omissão para daí aferir a imputabilidade, nomeadamente, se a pessoa que cometeu ato lesivo possuia condições psíquicas ou condições de responder por este ato porque ao atribuir responsabilidade está-se a atribuir o dever de responder pelo ato.

Aprofundando a imputabilidade do infrator interessei-me por uma passagem na leitura de Pablo de Assis que versa sobre psicologia e sociedade onde enquadra a diferença entre o eu, o outro, o indíviduo e a sociedade na imputação da responsabilidade ao indivíduo ou à sociedade. É falacioso achar que responsabilizando o outro iremos resolver os problemas sociais, e é errado achar que os problemas são só do outro e eu não tenho nada a ver com isso a não ser cobrar a ele.

 

Voltando a responsabilidade do indivíduo inserido na família nas diferentes fases de vida, enquanto menor e dependente deve respeito à ordem imposta pelos seus progenitores. Na fase adulta adquire deveres próprios, libertando os progenitores, e pode moralmente aceitar deveres de recompensa aos seus dependentes diretos e indiretos. A primeira grande responsabilidade é sobre si mesmo, um reflexo de como cuidamos de nós replica-se na forma como se espera que cuidemos dos outros, afinal o corpo usufrui da mente saudável. Ouvi uma voz profunda e sincera a segredar num momento peculiar que eu teria que crescer cedo, assim assumi que doravente seria responsável pelo meu destino.

O indivíduo que se distancia de suas responsabilidades no seio da família procura refúgio no vazio dos seus atos, porque o impacto gerado pelas suas ações no ambiente externo não ecoa, não abona a seu favor e nem recalca para si próprio. O demérito está em si pelo facto de ser estrangeiro num meio que não o pertence, logo não pode reclamar recompensa nem indulgência nos períodos involuntários de carência

 

António Sendi

 

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27.4.16

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Foto: Messier - WikiImages

 

A lua tinha-se recolhido do olhar de todos, entregando-se ao radioso encontro com o astro-rei. A insinuante escuridão da noite acentuava o brilho da miríade de estrelas do firmamento.

Um vulto curvado e mirrado pelo tempo, caminha lentamente em direção à fogueira crepitante. Com graciosos movimentos prepara o chá que distribui por duas taças. Estende uma delas ao seu neto, sentando-se a seu lado. O neto exclama que as estrelas mais brilhantes e cintilantes devem ser os seus pais, cujas vidas lhes foram abruptamente roubadas naquele terrível acidente. O avô eleva languidamente o seu olhar e sorri com amor, como só quem tem o conhecimento puro e sábio. Saboreando o fumegante chá o avô acena a cabeça em afirmação:

- Sim, são os teus pais, são os meus pais, são todos os nossos antepassados.

Alcançando o significado das palavras do avô, o neto refere com entusiasmo:

- Por isso o céu está cheio de estrelas cintilantes! Quando morremos transformamo-nos em estrelinhas, não é avô?

Com um semissorriso nos lábios, de serenidade e sabedoria, responde tranquilamente:
- Não nos transformamos em estrelas quando morremos. Nós somos estrelas desde que nascemos! Vimos todos de uma fonte, uma grande fonte de luz…

- Tal como o sol, avô?

- Sim, tal como o sol, mas ainda mais grandioso! O sol é uma partícula que se desprendeu da Grande Fonte de Luz, para cumprir a sua missão de iluminar os planetas e os satélites que dançam à sua volta. Mas a fonte de que falo, é mais grandiosa. E dessa fonte brota todo o universo e todas as coisas que existem, possíveis e imagináveis. E nós somos estrelinhas que se soltam da fonte de luz. Somos centelhas luminosas que vêm para a Terra com uma missão. Cada centelha tem a responsabilidade de ser feliz na sua existência. Cada ser humano, cada partícula de luz, cada estrela, tem a responsabilidade de se amar a si próprio, de se respeitar como um ser único com direito a ocupar o seu lugar neste planeta.

Avô e neto observam com ternura o universo cintilante que os envolve. E continua:
- Cada centelha de luz é responsável pela sua felicidade, pela sua evolução, partilhando e difundindo amor e compreensão por todas as outras partículas luminosas à sua volta. E quando sentem que cumpriram o seu propósito, refundem-se na unidade, de volta à Fonte de Luz, transformando-a e renovando-a.

 

Tayhta Visinho

 

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25.4.16

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Foto: Balloons – Calin Fdp

 

A responsabilidade é uma das caraterísticas fundamentais que nos distingue, mais do que dos outros animas, dos nossos pares, porque convenhamos, ao longo da história de Humanidade, e ao longo da nossa vida, vamo-nos deparando com exemplos de (não) pessoas que agem como verdadeiros animais.

 

Ao meditar sobre este tema, percebi que tenho duas grandes responsabilidades que catalisam todas as outras responsabilidades intrínsecas a uma pessoa de boa índole e que sabe estar em sociedade.

A minha grande responsabilidade sou eu. Grande erro o meu que até há algum tempo atrás achava que a minha maior responsabilidade era criar o meu filho, com o todo o peso de quem cria sozinha uma criança, tomar decisões por dois, educar por dois, amar por dois, cuidar por dois, até que concluí que não estava a acertar… Era como se tivesse um balão na mão, preso por um fio, mas ao invés de lhe ir dando fio para subir no ar e baloiçar à música do vento, estava a apertá-lo de tal forma nos meus braços que, por sorte, muita sorte, não estoirou… Às vezes é preciso, simplesmente, respirar e esperar o melhor. Eu, no fundo, apenas posso ser a Mãe do meu filho e fazer o melhor que conseguir; e para fazer o melhor, para dar o melhor de mim, tenho que estar bem, tenho que olhar por mim, tenho que respirar, ter clareza mental para afastar os medos que me consomem os neurónios, e cuidar da minha saúde.

Da mesma maneira, só eu sou responsável por mim própria, pelas minhas decisões, perante mim e perante os outros, o que é suposto acontecer à medida que nos vamos tornando adultos. Todavia, na prática, isso nem sempre acontece, é sempre mais fácil responsabilizar os outros, chamar os outros à atenção, criticar - melhor dizendo, é bem mais fácil sacudir a areia do capote… Por isso, é minha responsabilidade não alimentar essa tendência, assumir os meus atos, as minhas decisões e as palavras que profiro.

 

Por outro lado, a maior responsabilidade da minha vida é não me sentir infeliz, ou pelo menos combater essa tendência. Não tenho que estar happy and shiny a toda a hora, mas tenho a grande responsabilidade de combater a infelicidade quando a sinto por perto, de perceber a sua origem para a debelar, para que não se infiltre em cada uma das minhas células, porque se isso acontece, é a miséria, o caos… e foi por lá que andei nos últimos anos.

Por isso, posso estar triste, porque a tristeza faz parte do ser saudoso, nostálgico e solitário que habita dentro de nós, mas infeliz não. Infelicidade é o caos, é regressar à escuridão, e isso eu não posso deixar acontecer comigo, já bastam os fatores externos que não posso controlar.

É claro que às vezes ainda aperto um bocadinho o balão nos braços com medo que o fio se solte e às vezes também estou ali um bocadinho com a luz a piscar, quase às escuras... Mas esforço-me para firmar os meus propósitos de responsabilidade comigo própria.

Sempre a aprender e a crescer, não é verdade?

 

Ana Martins

 

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22.4.16

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Foto: Agree – Credit Robert Owen-Wahl

 

Vivo em sociedade, logo tenho de ser responsável pelos meus atos. Viver em sociedade implica que o cidadão tem de cumprir os seus deveres, sob pena de poder vir a ser considerado irresponsável. Eu não quero que me tenham por irresponsável, não faz bem ao meu ego; quero sentir que sou responsável e manter sempre a consciência do dever cumprido, garantia do meu estar interior. Procuro agir sempre de modo que os efeitos da minha ação respeitem os valores da sociedade em que estou inserido.

 

Sei que é pressuposto da responsabilidade que alguém, para ser responsável, tenha de ter consciência quanto aos atos que pratica voluntariamente, ou seja, que consiga saber, antes de agir, as consequências da sua vontade. Por isso, os inimputáveis, carecidos de vontade própria, estão excluídos da responsabilidade dos seus atos. Nos atos que pratico diariamente, a sombra da responsabilidade, embora oculta, acompanha-me pari passu nos meus deveres, perseguindo estes, pronta a manifestar-se se porventura ocorrer a violação de algum deles e se justifique a sua intervenção, impondo a sua força ressarcitória, se for caso disso, para proteger o lesado, por um lado, e por outro, atribuindo ao lesante o ónus de ressarcir. Sei também que, em alguns casos, mesmo na ausência de culpa do sujeito ou de uma ação censurável, ela logo se perfila também para afirmar a sua natureza preventiva e o seu instituto reparador.

 

O conceito de responsabilidade é imenso, de enorme amplitude, intervindo em todas as situações da vida humana, mesmo nos atos mais elementares do cidadão comum, a quem impõe as suas regras, consoante a natureza do dever a cumprir. Por essa razão, não será possível conceber uma sociedade sem o postulado do princípio da responsabilidade, enquanto fonte de obrigações pessoais e como imperativo de sã convivência e igualdade entre os cidadãos. Não esqueço e terei sempre presente que, na orientação da minha vida, tal princípio constitui também a afirmação do verdadeiro dever de cidadania. Tão caro é, e inerente ao ser humano, que deverá ser respeitado como um pacto de responsabilidade da vida.

 

José Azevedo

 

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20.4.16

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Foto: Buddhism – Honey Kochphon Onshawee


A tradição budista defende a ideia de Responsabilidade Universal. É uma noção simples, que defende a possibilidade de todo o ser humano ter uma natureza gentil e pacífica. Essa natureza bondosa, tantas vezes distorcida pelo ambiente em que se foi criado e até pela natureza das ações Kármicas, não pode ser totalmente destruída. Assim como não se pode destruir a ideia do ser humano precisar do outro. Não só por questões emocionais mas também para poder sobreviver. Ora, é precisamente a partir desta base que surge a necessidade de haver maior noção e fortalecimento da Responsabilidade Universal.

 

Como tornar-me então, mais Responsável Universal?

- Procurando criar mais serenidade interior. Desenvolvendo equilíbrio interno. Torna-se mais fácil nutrir sentimentos de paz e compaixão com os outros.

- Desenvolvendo respeito pelo ambiente no qual estou inserida. Respeito pelos seres vivos, pela natureza, pelos recursos que tenho ao dispor e não utilizo.

- Sentindo-me responsável pela minha felicidade e pela felicidade dos outros. Perceber que a felicidade não é um produto que pode adquirir-se numa loja, mas sim ser conquistada por gestos simples. Sorrir, ser gentil, ter capacidade de compreender que se alguém me ofende é porque, provavelmente, essa pessoa está ferida. Ser tolerante.

É essa a Responsabilidade Universal.

 

No fundo, é ser egoísta. Pois quem cuida do outro e do ambiente, cuida de si mesmo. Desenvolve sentimentos de paz interior.

Ser Responsável Universal é perceber que Dar é, na verdade, Receber.

 

Sara Almeida

 

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18.4.16

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Foto: Woman – Public Domain Pictures

 

Há pouco tempo, numa das tantas viagens pelo mundo imenso que é a Internet deparei-me com uma daquelas frases cliché que toda a gente partilha nas redes sociais: “A falta de responsabilidade de uns acaba por atrapalhar a responsabilidade de outros”. Acabou por dar o mote a este texto. Porquê? Porque há algo, ultimamente, que me tem inquietado o pensamento, fruto também da minha vivência no mercado de trabalho.

 

Numa vivência em comunidade e em sociedade, como é a nossa, o relacionamento com o(s) outro(s) é fundamental e imprescindível. Mas se assim é, como podem existir pessoas que não se importam com a forma como as suas atitudes, decisões e comportamentos afetam a vida dos que lhe são próximos?

Como pode haver quem consiga deitar a cabeça na almofada, à noite, e dormir descansado e tranquilamente quando, por exemplo, não paga aos seus funcionários? Quando sujeitam os trabalhadores a situações de trabalho precárias, muitas vezes, demasiadas vezes, utilizando o argumento “crise”, que vai servindo para tudo, para justificar uma má gestão e administração? É o vale tudo? Como pode uma pessoa ser tão inconsciente da consciência de outro ser humano?

Pois eu tenho bastante dificuldade em compreender como alguém, que sujeita outrem a tal, consegue conviver consigo mesmo. Continuo a ter dificuldade em compreender como alguém não tem consciência da sua irresponsabilidade perante os outros.

 

Extra questões laborais: Se a nossa vivência é em comunidade, se vivemos em sociedade, não deveríamos nós olhar mais para o vizinho do lado, para as pessoas que nos rodeiam? Cada um de nós tem as suas responsabilidades, mas muitas vezes esquece-se que a sua (ir)responsabilidade afeta, direta ou indiretamente, a responsabilidade dos outros.

 

Sandra Sousa

 

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15.4.16

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Foto: Fashion - Iryna

 

Esquece tudo que ouviste até agora. Esquece as notícias do jornal, o anúncio na Internet, o grito no meio da praça, o tratado de Tordesilhas da tua avó, a opinião do guru. Esquece as diferentes versões do mundo, de ti, de tudo que te rodeia. Larga as amarras imaginárias que te condicionam, no tempo sem tempo de um espaço incomensurável e em constante mutação. Fá-lo agora. Não vai haver momento melhor para começar. Simplesmente, para. Respira fundo. Torna-te consciente desse processo. Observa com tranquilidade. Fá-lo lentamente, numa dança espontânea dos sentidos. Envolve-te num abraço profundo, ama-te com tudo de ti e fica aí. Sente a energia que te percorre. Sente-te inteira nesse momento. Não te apresses. Em cada expiração deixa ir a amargura que te agrilhoa a vontade: não vais perder nada, apenas o que não é teu. Cada inspiração vai encher-te de novas cores. Dá-te a chance de o perceberes em cada uma das tuas células, não retrocedas a meio da jornada. Se dói é porque estás a caminho. Não te estás a afundar, estás a sair daí. Não desistas agora.

 

Assim que te for possível, abre os olhos e o coração e aceita a responsabilidade sobre ti própria, as tuas ações e os teus anseios. Não vais ser livre enquanto delegares nos outros a gestão dos teus dias. Deixa de ouvir tanta gente quando, claramente, não filtras nada. A tua mãe, o senhor da mercearia, a tua colega de trabalho e a parceira frustrada do ginásio deviam ter mais que fazer; se assim não é, têm mais problemas do que tu. Ainda assim, nenhum deles te julgará com a severidade com que te punes a ti própria. Para. Não te castigues por existires. Aquilo que ainda te permites ouvir dos outros, sobretudo a teu respeito, diz-te quem eles são; não te ensina nada sobre ti. Lembra-te disso e presta atenção, não vistas a camisola dos que te ferem. São apenas pessoas perdidas que disparam à queima-roupa, por ignorância e frustração. Quem tu és só tu poderás saber. Assegura ao mundo que não vais gritar se caíres da escada abaixo ou se fizeres mais uma ferida no coração. Diz-lhe que vais viver como tens vivido até agora, acreditando que consegues continuar, reinventar-te e mudar a rota, sem lhe estenderes a mão na exigência de uma cura milagrosa. Relembra-lhe que, pelas mesmíssimas razões, te isentas da sua opinião. Ou então não digas nada e, simplesmente, reclama o teu poder. Só porque sim.

 

Assume a totalidade do teu ser, sem explicações demagógicas. Escreve um livro de raiz, se preciso for, feito de experiências e emoções pessoais e não de opiniões de terceiros. Começa as vezes que forem precisas. Sê inteira na tua história. E quando o medo de falhar for menor que o medo de não viver, quando já não precisares de agradar a ninguém para existires, quando enfrentares os teus erros sem te sentires menos válida, nesse dia, vais descobrir a liberdade que existe na responsabilidade assumida. Apaixona-te por quem realmente és e nunca mais abdiques disso. Sê a melhor versão de ti própria todos os dias da tua vida. Começa hoje. Sê grata por este dia, especialmente profundo e libertador, em que te permites lembrar sem angústia, caminhar sem lágrimas e sem vontade de inverter a marcha. Aceita o embalo do Universo, a mão no coração, o sorriso nas ondas do cabelo, o respirar cadenciado e tranquilo. Mesmo que sintas estar na ponta do precipício, não tenhas medo de fechar os olhos e continua a caminhar em frente, não vais cair. Do outro lado, está o resto da tua vida. É bom, não é?

 

Alexandra Vaz

 

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13.4.16

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Foto: Boot – Peter Griffin

 

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”

Antoine de Saint-Exupéry

 

Responsabilidade é uma palavra densa. Só em ouvi-la vem à cabeça um monte de pensamentos, aqueles pensamentos que estão sempre martelando; não fizeste isso, esqueceu-se daquilo, não podes deixar para amanhã. Cada vez mais no mundo moderno as obrigações dos indivíduos crescem e nos sentimos inundados com tamanha responsabilidade: social, sócioambiental, civil, parental, e continua...

No entanto muitas vezes no sentimos responsáveis por pessoas ou coisas que não somos, outras tantas vezes, nos esquivamos e encontramos desculpas para justificar as responsabilidades que deixamos de cumprir. É importante identificar quais são as nossas responsabilidades de facto, isso ajuda a não assumirmos mais do que podemos (e devemos).

 

Antes de tudo, nós, adultos, somos responsáveis por nós mesmos e pelas nossas escolhas. E ser responsável é arcar com as consequências dessas escolhas, sendo elas boas ou más. Quando crianças, nossos atos não têm grandes consequências, mas à medida que crescemos, nos tornamos inteiramente responsáveis por eles e isso certamente é a grande diferença entre ser adulto e ser criança. Quando ajudamos um parente em dificuldade financeira por ter comprado um carro que provavelmente teria dificuldades em pagar, estamos assumindo responsabilidades que não são nossas e ajudando adultos a fugir das responsabilidades que assumem. Isso não quer dizer que não podemos ser generosos ou ter compaixão com o próximo, mas devemos separar a necessidade da falta de responsabilidade. Devemos deixar que os adultos assumam e respondam pelos compromissos por eles assumidos, para podermos dar conta dos nossos.

Quando recebemos uma multa de trânsito por ter estacionado o carro em lugar proibido, geralmente encontramos mil justificativas para o nosso ato, no entanto assumimos o risco de parar em local proibido, sendo de nossa inteira responsabilidade o facto de receber uma multa. Durante a nossa vida fazemos escolhas diariamente. Algumas corriqueiras como: que roupa devo vestir; o que vou comer no almoço; qual cadeira vou sentar na sala do cinema. Outras são escolhas para uma vida; comprar ou não uma casa; ter filhos; comprar um cão. Mas independente das escolhas que façamos temos que lembrar, sempre, que foram escolhas antes de se tornarem obrigações e que à medida que optamos por alguma coisa, certamente renunciaremos a outras. Em algumas escolhas podemos voltar atrás sem grandes implicações, noutras, o voltar atrás pode trazer implicações para nós ou para quem está à nossa volta. Por isso há que pensar antes de assumir responsabilidades, pois acima de tudo, não cumpri-las é ser desonesto consigo mesmo.

 

Letícia Silva

 

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11.4.16

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Foto: Laundry Line – Sabine Bends

 

E se amanhã eu acordar e não me preocupar com as horas - mesmo que seja dia de trabalho, ou que os miúdos tenham que ir para a escola (o trabalho que se lixe; os miúdos que se desenrasquem)?

 

E se eu não quiser mais saber da roupa – da suja, da que está na máquina, da que está no estendal, da que está talvez atrás da porta pronta para me assombrar, da loiça, do jantar, das compras, do cotão a rolar pelos cantos da casa?

 

E se eu passasse a viver de uma nova maneira, “carpe diem” como lema, tirando o máximo partido do mundo, das pessoas (nem todas, mas…), de mim?

 

E (apocalipse eminente!) se eu deixar de ser a cola que nos une a todos, Natais, Páscoas, aniversários e outras celebrações – convida, espera, prepara, organiza, vem, não vem, como vem – para construir (com esforço!) as melhores memórias para grandes e, principalmente, pequenos?

 

Eventualidade que perspetivo (num crescendo algo assustador) em diversos momentos e que me faz questionar se faria realmente alguma diferença eu demitir-me de todas estas responsabilidades.

Seriam os outros menos felizes?

E eu, mais feliz, livre do peso de todas as obrigações (obrigatórias ou voluntárias)?

Incógnita.

 

Sandrapep

 

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8.4.16

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Foto: Woman – Gerd Altmann

 

É tão tentador, tão inteligente, tão difícil de resistir-lhe...

Então não está mesmo a ver-se como as coisas deveriam ser, não é tão fácil, até como que alivia e ao mesmo tempo eleva, ter espírito crítico perante o que nos rodeia, observar, acusar mesmo!

Olhamos tanto para os outros, o que fazem e o que deixam de fazer; pomo-nos de fora, pairamos acima e criticamos, opinamos sobre as evidências que nos rodeiam. Assim, a uma primeira e rápida vista, até parece que estamos acima do outro, dos outros.

Tudo é tão fácil, evidente quando a responsabilidade é dos outros...

 

Como, de forma tão prosaica, se diz em língua inglesa, difícil será calçarmos os sapatos do outro, pormo-nos no seu lugar. Ou colocarmo-nos em causa, não nos desresponsabilizando quando nos sentimos apenas como efeito das circunstâncias, dos outros.

Há que estar atento a nós próprios e, qual aerogare, perceber que pode ser a última chamada para apanhar o voo da responsabilidade, apresentar-me como garantia, ser fiador. Não me limitar a ser um observador do que me rodeia, mas olhar para dentro e agir.

 

Jorge Saraiva

 

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6.4.16

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Foto: Happy Wedding Day – Geoff Doggett

 

O peso em quilogramas é difícil de eliminar quando ultrapassamos uma certa idade, mas aprendemos a viver com ele e, quando nos mentalizamos que a natureza é mesmo assim, conseguimos aprender a viver nessa nova realidade.

 

O outro tipo de peso, o da consciência, esse, já é mais difícil de aprender a viver e, tão ou mais difícil de eliminar... Pode parecer que o eliminamos mas, no momento em que faz menos falta, lá vem ele outra vez enviando uma pequena projeção à nossa memória.

O que fazer?

Mandar para as catacumbas da nossa mente?

Enterrá-lo?

Como, se a responsabilidade era nossa e o erro foi nosso?

Alguém morreu por isso? Não… Ou… Sim!

Mas podia ser diferente?

Se a decisão fosse outra estaríamos melhor?

Se calhar a ética também tem aqui um grande peso: um bem maior para um maior número de pessoas mesmo que apenas uma sofra…

Sim, falar é fácil.

Optamos então por ficar tristes quando tem que ser, ficar felizes quando conseguirmos, chorarmos, rirmos, sempre que for preciso, sem medo do que possa acontecer e com a certeza de que tudo o que fazemos hoje pode estar completamente errado amanhã…

 

Sónia Abrantes

 

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4.4.16

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Foto: Love - 拾叁 簡

 

Não, não pode ser verdade! Exclamaram uns, pensaram outros.

O que acabávamos de ouvir só podia ser mais uma das suas brincadeiras inconsequentes. Suspensos no momento, os gestos interrompidos, todos à uma, olhámos a figura que, ainda em pé, sem qualquer emoção, no mesmo tom de voz com que chamava o empregado e lhe pedia um café, validava a decisão com um “ponto”.

Decidi, ponto!

 

Apregoavas a liberdade sexual. O casamento não podia ser uma autorização patética de acasalamento. Insurgias-te contra. Viver em comunhão de facto, não era um direito contratual, era uma necessidade ditada por algo verdadeiro e forte, o amor. Somente o amor poderia ser responsável por um projeto de vida a dois.

Sem saberes o quanto perto estavas dele, dizias-me que tinhas medo de não reconhecer o amor se alguma vez ele te rondasse. Tinhas razões, o amor não te rondou, envolveu-te, e tu não o reconheceste. Perfilei-me ao teu lado, para juntos enfrentarmos os colegas de escola. Troquei as brincadeiras com bonecas para jogar à bola contigo. Deixava as amigas para te acompanhar nos longos passeios pelos campos, junto ao rio, ou para te acompanhar nos grandes silêncios a que te entregavas sem explicações. Crescemos e os silêncios também, citavas Pitigrilli, a solidão é linda mas a dois, e eu lá estava para dar beleza à tua solidão. Vivias em permanente confronto com a sociedade e eu mediava essa oposição, mantinha-te ligado ao nosso grupo de amigos. Não me distribuías estes papéis, não era preciso, eu chamei a mim essa responsabilidade. E, assim foi por muito tempo, tanto, como tenho consciência de mim. Estar perto e testemunhar a tua existência, bastava-me para dar sentido à minha vida, mas, nem assim reconheceste o amor que apregoavas.

Não te conhecíamos namoradas nem paixões, por isso, e porque eu te amava, não tinhas o direito de casar.

Casaste!

 

Tinha aprendido a viver para ti, tinha que aprender a viver para nada.

Não te responsabilizei pelo vazio dos dias longos a que se sucediam noites intermináveis de solidão. Rodeada de nada, vivia de nada projetada para um futuro de nada. Desresponsabilizava-me de centrar a minha vida no nada porque lá, era o meu lugar, não havia mais nada para além deste nada.

Metia pena, a pena que tinha de mim.

 

Chegaram rumores de que o casamento não te ficava bem.

Chegaram certezas, tinha acabado.

Vi-te sem sonhos, sem esperança, sem sentido para a vida. Não pediste nada, não te queixaste mas, como antes, chamei a mim a responsabilidade de repor a vida que não havia em ti. Animada pela esperança, envolvi-te novamente de amor. Confidenciaste-me que o teu único objetivo era encontrar a felicidade, não sabias quando, nem em que circunstâncias, mas sentias que algo estava para acontecer na tua vida que te faria feliz.

Novamente não o reconheceste e eu não era a tua procura. Não me martirizo por ter acreditado e teimado a acreditar em nós, responsabilizo-me apenas pela minha infelicidade. Mas por não veres que o que procuravas podia estar mesmo ao teu lado, só tu és responsável.

 

Cidália Carvalho

 

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1.4.16

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Foto: Elderly Woman – Coque Ambrosoli

 

Existe uma preocupação diária que me atormenta a alma. É o bem-estar daqueles que julgo precisarem de mim. Há uma fase da vida, mais ou menos prolongada, em que “os nossos mais velhos” já não conseguem seguir com as suas vidas sozinhos, pelo menos à luz daquilo que nos parece aceitável. Sentimos que precisam de alguém a todo o momento, porque estão frágeis na sua autonomia e na sua liberdade. Observamos e sentimos uma mudança de cor, e sinais e sintomas de desgaste físico e mental que lhes rouba a lucidez e a força para empurrarem a vida para a frente. O incentivo que davam de forma muito própria deixou de aparecer na sua comunicação. Usam muito a comunicação não-verbal e, de quando em vez, sai uma palavra ou outra que nos transmite o que sentem relativamente ao seu estado. É curioso que, ainda hoje, a paralinguagem está muito presente, e nós vamos entendendo, com mais ou menos dificuldade.

 

Existe uma preocupação constante com o seu bem-estar. Há sentimentos de uma perda vagarosa e silenciosa mas, às vezes, percebe-se que esse sentimento de perda grita dentro de nós e nos perturba incessantemente. Queremos o seu bem-estar, sendo esta uma das poucas certezas que tenho na vida. Tentamos responder às suas necessidades com muito amor. Sinto-me bem quando o faço; não faço quando quero, mas sim, quando posso… é tão difícil gerir isto! Serei responsável por este cuidado? Sinto, enquanto filha, que devo responder pelas consequências deste cuidado que presto. Devo sentir, por esta razão, que sou responsável pelo seu cuidado? É o meu dever, ou o meu direito, associado ao meu papel de filha?

De que se fala quando falamos de responsabilidade?

 

Ermelinda Macedo

 

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