29.5.15

WalkInTheFog-GeorgeHodan.jpg

Foto: Walk In The Fog - George Hodan

 

A geração nómada é agora uma espécie em vias de extinção. Outrora teria sido a comunidade mais alargada, que prosperava em diferentes partes do globo. Após uma era de catástrofes naturais, em que vastas áreas terrestres se tornaram inóspitas, a autoridade dourada conseguira mobilizar os humanos em fortalezas protegidas, mas altamente controladas em que, por troca de dinheiro e conforto, nenhum dos humanos não poderia sair além dessas fronteiras, submetendo-se às regras das muralhas. Muitos nómadas capturados em terrenos próximos dessas fortalezas, acabariam por sucumbir e tornarem- se, meramente, humanos.

Para controlo das massas proliferava agora a ideia de que os nómadas eram, apenas, um mito. Nos livros de História os nómadas surgiam na secção “Crenças e deuses”, difundindo a ideia de que os nómadas eram personagens criadas por humanos, desesperados pela fome que alastrara depois dos constantes terramotos que assolaram toda a Terra. A imagem do retorno às zonas desvastadas e desprovidas de qualquer recurso, contribuiu para que os pais confirmassem junto das crianças a inexistência ou desconhecimento total de tais seres. A pouco e pouco, esqueceram-se dessas ligações. Apesar de humanas e das constantes confirmações adultas de que os nómadas não passavam de um mito, ainda assim, as crianças sentiam um enorme fascínio por esses seres. Devido a esse fascínio e à quantidade de nómadas capturados que se corrompiam, a autoridade dourada considerara prudente deixar algumas linhas alusivas a estes seres nos livros de História, para que pudessem classificá-los de crenças irreais e contornar a imaginação infantil.

 

- Já há algum tempo que permanecemos aqui. Temos de continuar caminho. Não podemos viver sempre escondidos – disse assertivamente.

- Mas, eles virão atrás de nós – respondeu com desespero.

- Não, enganas-te. Virão atrás do que transportamos. Nunca te esqueças disso! – corrigiu.

- Mas eles não nos podem tirar o que carregamos! – exclamou.

- Não serão eles a tirar-nos. Poderemos ser nós a desistir. A tentar-nos. Devemos continuar caminho! – prosseguiu.

- Desistirmos? Como assim? Nós somos nómadas, o sonho vive em nós. – disse incrédulo.

- Lembra-te, houve um tempo em que todos os humanos eram nómadas. Passo a passo foram fixando-se e submetendo-se à autoridade dourada. Abdicaram do sonho em prol da autoridade. O poder sugou-lhes as réstias de sonho que carregavam. Tornaram-se, apenas, humanos. – explicou.

- Não deixarei nunca que me roubem o sonho. – afirmou.

- Não te iludas mais uma vez. Não serão eles a roubarem-te. É o brilho do dinheiro que te tenta. Só se acreditares, com todo o teu ser, no sonho que transportas, poderás resistir. Caminhemos, a nossa missão persiste. Ainda existem humanos com réstias de sonhos. – recomendou.

- Mas, eu acredito no meu sonho! – exclamou.

- Deixa-me que te explique. Eu já vi acontecer. Primeiro, defendes com todo o teu ser o teu sonho. Aos poucos, vão mostrando como o dinheiro te permite fixar e não te cansares com caminhadas, caminhos perigosos e até escassez de recursos para o teu bem-estar. Depois, dizem-te que não precisas de abdicar de todo o teu sonho, só de uma parte. Aí é que está o perigo. A partir do momento que te submetes ao poder do dinheiro, foste corrompido. Depois é só uma questão de tempo. Não, porque és mais forte ou mais fraco. Mas porque duvidaste e escolheste o fácil. Antes achava que era o dinheiro, em si, que corrompia os nómadas. Mas não é o dinheiro. É aquilo a que este dá acesso. Uma ponte para o esquecimento do que a caminhada traz ao sonho. É o poder de esquecer. E isso só tem um final - a morte do sonho. – disse calmamente.

- Mas, porque é que eles nos querem corromper? Porque somos perseguidos? – perguntou exaltado.

- Talvez porque, no fundo, saibam que o que transportamos é muito mais valioso do que o poder que eles ostentam. Já pensaste, se cada um dos humanos despertasse o sonho em si mesmo? Como se tornariam poderosos? Como não precisariam de se submeter? Como estariam preparados para as caminhadas? Os humanos esqueceram que o maior poder reside neles próprios. E é assim que a autoridade dourada os controla. Adormecidos. Por isso te digo sempre, nunca pares. – observou.

- Não pararei. – afirmou convicto.

- Enquanto caminharmos juntos não deixarei que nos corrompamos mas, se tal acontecer a um de nós, o outro deve seguir caminho. Cada um é responsável pelo sonho que carrega e em honra aos nómadas, mesmo aos que sucumbiram, temos o dever de continuar. E os caminhos continuarão agrestes. Isso posso assegurar-te. – desafiou.

 

Cecília Pinto

 

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27.5.15

Homeless-PeterGriffin.jpg

Foto: Homeless - Peter Griffin

 

E o Homem tudo cria, orientado pelos seus desejos e ilusórias necessidades. De tudo é capaz para ver realizado o seu sonho, movido pelas fraquezas próprias da sua raça. A fome e a luxúria, opostos com que lida diariamente, enfraquecem a Divina Força que nele habita e facilmente deixa-se tentar, agindo como um animal na conquista da sua presa. Em vez de garras afiadas e dentes canibais, luta com a ganância, com a traição, com a raiva, com a inveja, com o desespero e até com a morte do seu mais fiel amigo se assim for necessário. O desespero de ver os seus filhos morrer à fome, de não ter como fazer face às despesas mais básicas, levam-no a cometer atos impensados… Outros, porque desejam o aumento do seu património, passam por cima de todos aqueles que barrarem o seu caminho, usando as mais fantásticas acrobacias, para enriquecer ainda mais o seu exterior. Todos correm em direção à força máxima que atualmente comanda este planeta, o Dinheiro. Lindos e animados recortes de papel e metais reluzentes tomam conta dos nossos dias… Vivemos preocupados em não ter o suficiente, em cairmos em desgraça porque ele pode faltar- nos. É verdade, torna-se assustador só de imaginar que os nossos bolsos e contas bancárias esvaziem… Mas não podemos deixar que este medo controle as populações, não podemos deixar enganar-nos com a quantidade de solicitações diárias que nos chegam, que nos tentam, que iludem os nossos sentidos. Não precisamos assim de tanto para viver com dignidade, mas sim, precisamos de muito para vivermos como Reis. Depende da consciência de cada um deixar-se manipular pela quantidade de alimentos prazerosos e vícios infundados que nos cercam, devido à nossa baixa autoestima e carências de todas as formas. Com estas fraquezas somos facilmente atingidos pelas grandes forças que controlam a humanidade. E se seguirmos a corrente, claro que vamos sentir que precisamos de muito e que para isso temos que trabalhar até à exaustão para, na realidade, estarmos a alimentar falsas necessidades.

Trabalhei durante uns meses com um grupo de pessoas, a que dão o nome de sem- abrigo, onde pude constatar situações, até um certo ponto, caricatas. Homens, mulheres e crianças apareciam todos os dias à mesma hora para receberem uma refeição e eu de coração aberto entregava nas suas mãos o alimento que lhes ia trazer alguma dignidade naquele dia. Alguns deles realmente viviam momentos de grande carência, especialmente os mais idosos que foram abandonados pela família. Outros comunicavam por telemóveis topo de gama, talvez roubados, não sei… Outros acompanhavam a refeição com garrafas de vinho… e outros, quando recebiam o rendimento social de inserção, gastavam-no em álcool e drogas. De forma alguma pretendo julgar o tipo de prioridades que cada um tem em relação a onde usar o dinheiro; com isto pretendo ilustrar algumas das supostas desgraças que nos cercam no dia-a-dia. Esta experiência trouxe-me alguma paz de espírito pelo facto de ter percebido que ninguém, atualmente, morre de fome ou de frio. As nossas sociedades estão muito bem dotadas de mecanismos que não deixam que isto aconteça. Todas as falsas desgraças passam por uma questão de prioridades… E de elevação de consciências… Mudemos a nossa perspetiva com a coragem de analisar com transparência que, a grande parte das vezes, o dinheiro falta apenas para alimentarmos o nosso ego. Se vivermos com humildade, rapidamente percebemos que poderemos ser muito felizes se deixamos de focar que temos que ter aquilo que ilusoriamente vamos sonhando. E que sonhos!!! O dinheiro compra matéria não Amor.

 

Joana Pereira

 

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25.5.15

Boomerang.jpg

 

Será de mim ou assim o ganho e assim o gasto?

Mesmo que não queira, ele teima em desaparecer.

Por mais que aperte os cordões e feche os fechos todos, ele insiste em escapar-se!

E, o pior, é que nem sei muito bem para onde!

Depois de vários anos a poupar, a sacrificar vontades e desejos, opto por ver nisto uma situação cómica.

Trabalhar para aquecer, alguém diria…

Faria sentido se vivêssemos num país frio, mas temos a felicidade de viver num paraíso à beira-mar plantado, onde tudo é em grande: o sol, a praia, o turismo, as esplanadas, os impostos…

Sim, os impostos são o que dão o efeito bumerangue ao dinheiro que ganho com o suor de todos os dias da semana.

Exagero?

Nem por isso…

Justo?

Nem sei bem…

Gratificante?

Nada!

Ah, e tal, o que importa é gostarmos daquilo que fazemos! Felizes aqueles que amam o seu trabalho, que fazem aquilo de que gostam. Sim, são felizes enquanto o fazem, mas quando fazem contas ao que têm que pagar, parte dessa felicidade é gasta e vai junto com o dinheiro.

Por isso, ou gostamos de jogar com o bumerangue e trabalhamos, recebemos e pagamos por receber e trabalhar, ou mais vale ficar quieto e não ganhar nem gastar, pois rende o mesmo financeiramente.

Real?

Sim.

A longo prazo?

Penso que não, mas a curto prazo gostava de ter alguma estabilidade que não é possível com este efeito de vem e vai.

 

Sónia Abrantes

 

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22.5.15

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Foto: Fundo do Euro - Petr Kratochvil

 

Tinha decidido não escrever.

Porque o dinheiro é importante. Sim.

Porque deve ser bem gerido. Claro.

Porque faz falta. Obviamente.

Porque é preciso pensar no futuro. Sem dúvida!

Mas quando o dinheiro se torna tema para sermões (que podem manter-se monólogos ou evoluir para discussões) de 20 minutos porque se deixou a tv ligada enquanto se foi à casa de banho, ou porque se comprou uns morangos 40 cêntimos mais caros do que na outra loja, ou porque se esteve 10 minutos a falar ao telemóvel…

Falar sobre dinheiro é coisa para me dar urticária, para me fazer ferver os neurónios (e logo eu, que nem fervo em pouca água!) e gerar logo sentimentos pouco dignos de registo escrito.

Por isso…afinal escrevo, mas não digo nada, porque se o fizesse estaria a valorizar algo que, comparativamente com outras insignificâncias, não vale mesmo nada (embora valha).

 

Sandrapep

 

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20.5.15

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Chamava-se Luís mas todos o tratavam por Luís Dança. Veio de fora e vivia sozinho num pequeno casebre que uma qualquer boa alma lhe cedeu. Nunca recebeu visitas e não se lhe conhecia família. Dizia-se que tinha uma filha, casada e bem posicionada na vida, mas a hipotética parente nunca apareceu para confirmar a sua existência. Para viver contava com a caridade alheia e pequenos biscates que fazia, quando lhe era solicitado. Um martelo e um fio-de-prumo, e era vê-lo a construir muros em pedra com uma perfeição tal que fazia dele um pedreiro respeitável. Humilde e educado de aspeto frágil, foi adotado pela aldeia quando para ali se mudou. Homem de paz, com todos se relacionava bem e todos nele confiavam.

Mas, se a relação com os seus semelhantes era pacífica já o mesmo não acontecia com o dinheiro. Não queria nada com o vil metal. O desprezo era tanto que se livrava dele da forma mais degradante que conhecia, o álcool. Se, dos pequenos trabalhos que fazia, lhe pagavam em dinheiro, só voltava a trabalhar quando este tivesse desaparecido do seu bolso para a caixa da taverna do Sr. Abel. Nesses dias Luís Dança arrancava-nos à pacatez da vida na aldeia e prendava-nos com danças acrobáticas e exercícios de equilíbrio. Era exímio na dança com o copo cheio na testa sem que dele se soltasse uma gota do precioso líquido. Por vezes aventurava-se no canto, mas aí já não era tão perito, porque a voz denunciava o seu estado. E foi assim que a seguir ao nome que os pais lhe deram, a aldeia acrescentou o “Dança”. Quando lhe perguntavam porque bebia, a resposta não vinha embrulhada em enigmas filosóficos - para gastar o dinheiro. Ter dinheiro incomodava-o, não lhe deixava ter descanso.

Contava-se que uma das vezes em que tinha uns trocos no bolso, não conseguindo convencer o Sr. Abel a levantar-se, a altas horas da noite, para lhe servir uns copitos, deitou o dinheiro à rua. Não sei de outra razão para tamanho desprezo senão a que ele dizia em jeito de homem sábio, que o dinheiro muda o homem e ele não queria mudar. Poderão existir outras razões para além desta, sendo que esta nem sequer é, para mim, uma razão válida para se relacionar tão mal com o dinheiro, mas concordo com o princípio de que o dinheiro muda o homem. Muda o homem, as pessoas com quem se relaciona e tudo o que o rodeia. Mas, contrariamente ao Luís Dança, eu não me importava nada de mudar, promoveria essa mudança. Policiar-me-ia para que não fosse o dinheiro a ditar as regras da minha vida mas saberia reduzi-lo àquilo que ele é, um meio de concretização de sonhos, meus e dos outros, de bem-estar, de liberdade e generosidade.

 

Cidália Carvalho

 

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18.5.15

NoAmor-EmilieHendryx.jpg

Foto: In Love – Emilie Hendryx

 

Fui aprendendo que:

 

o dinheiro pode destruir relações

o dinheiro tem muitas cores; cores primárias e necessárias e, cores secundárias, que assumem contornos que não quero viver

o dinheiro pode impedir o crescimento pessoal e grupal

o dinheiro pode construir uma vida que não quero viver…

 

Fui aprendendo que:

 

para crescer preciso de pessoas genuínas

para crescer preciso de pessoas humildes

para crescer preciso de pessoas que apreciem as artes

para crescer preciso de pessoas com mais conhecimento científico

para crescer preciso de pessoas com emoção

para crescer preciso que me amem… é com elas que quero viver…

 

Fui aprendendo que a vida tem tantas dimensões bonitas, interessantes e imprescindíveis ao meu crescimento e, que o dinheiro é apenas importante na dimensão acertada e subjetiva… de acordo com aquilo que cada um foi aprendendo e que quer viver…

 

Ermelinda Macedo

 

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15.5.15

EmConstrucao.gif

 

Agora, é o fim do passado e o início do futuro. É o momento de viragem, de mudança, entre o que foi e o que será, entre o que fui e o que serei. Agora, é o tempo da decisão, da mudança. Falo da minha vida.

Para mudar devo decidir bem. Para decidir bem necessito de um agora estável, confortável. Só terei um agora estável se ele surgir de um passado estável. Só terei um futuro estável se decidir bem, agora. Resumindo: necessito de estabilidade, antes, agora e no futuro. Só com estabilidade posso mudar.

Mas tendo estabilidade, quererei mudar? Sim, quererei, porque a estabilidade e o conforto não me resignam, inquietam-me. Quero sempre mais, quero sempre diferente, necessito da mudança, é a minha mola e o meu estímulo. Não me iludo com o bem que tenho pois ele engana-me e atraiçoa-me, cega-me para o fazer mais e melhor, para o fazer diferente. E eu quero ver, quero ver sempre, quero ver tudo.

 

Agora vejo uma folha em branco. Para que a quero branca? E o que faço com ela? O que quero eu alterar nesta alvura? Como posso eu alterá-la? Com palavras, certamente, mas qual o seu objetivo? Para quê gastar energia, para que esse trabalho? Para qual futuro? Para aquele que fica entre o que me deixem construir e o que eu consiga construir.

São estas as dúvidas. É este o impulso.

 

Fernando Couto

 

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13.5.15

NaLinhaDePartida.jpg

Foto: Starting Blocks - Peter Griffin

 

Toda a ação remete a um processo mental e deliberado de planeamento formal para assegurar objetivos definidos, recursos à disposição, motivação que baste, estrutura e estratégia alinhada ao contexto interno e externo, de forma a corporizar e definir um modelo de negócio viável rumo ao almejado sucesso, com a devida eficácia e eficiência.

Esse momento de indução à ação emerge de um estado de carência de recursos ou frustração de expetativas advenientes do histórico da existência humana, no seu complexo interacional e contratual com os diferentes agentes. A natureza contratual estabelecida com as diferentes partes explica a complexidade e urgência na busca de respostas ajustadas às suas necessidades.

A gestão das expetativas derivadas dessas relações, dependendo do poder negocial e do nível de confiança existente, podem e devem acomodar-se à abertura e restrições existentes entre ambas as partes, no princípio de transparência e boa-fé, procurando encontrar e explorar respostas a esse nível e, excecionalmente, no plano exterior, para colmatar as ausências da primeira opção ou mesmo complementar os resultados ali obtidos, sem colocar em perigo o segredo e privacidade requerida para o sucesso dos mesmos, nem tornar-se uma atitude canibal.

O tempo é uma dimensão transversal e diferenciadora neste processo, exercendo pressão contínua ao elo mais fraco que, despido de alguma capacidade de improviso, pode acabar por ceder e denotar fragilidades, manifesta por lócus de controlo externa. A pressão do tempo cronológico ou psicológico não passa despercebido, criando alguma impaciência, ansiedade e insegurança para os expetantes, agudizando ainda mais o desempenho do ator.

Em resposta a isso, a mente gera cenários alternativos para criar um efeito contrário, mesmo não se acreditando nas suas implicações práticas e imediatas. A criatividade humana e imaginária pode manipular as variáveis internas na tentativa de reformular o âmbito e as expetativas para se ganhar algum tempo, para pensar e agir.

A linha do tempo que medeia as expetativas e cria rutura entre a referência, a atitude e o sonho, respetivamente o passado, o presente e o futuro, serve de guia para perfilar a nossa fama. Por uma questão de sobrevivência, augura longa vida aquele que cria expetativas altas com base nas suas atitudes, e corre o risco de extinguir aquele que vive agarrado a um passado de glória, evitando correr novos riscos, perdendo a oportunidade de romper para a conquista dos seus sonhos.

O tempo, o agora, coloca desafios na mesma medida que coloca medos, aos perfecionistas, o medo de falhar, e aos derrotados o medo de nunca tentar, e assim ser descoberto que ausentou-se deliberadamente de sua posição. Mas, o agora, a nossa vez, que mesmo tardando sempre chega, quando ocorre nada resta senão tentar, logo, é seguro estar prevenido ao plano que tivermos traçado com antecedência.

Disto resulta que o melhor momento para agir será certamente agora, porque aqui temos o poder de antecipação, a prevenção necessária para com tempo consentir erros de aritmética cometidos, aprender com os mesmos, progredir e desenvolver fibra, resiliência para sustentar a longa caminhada.

 

António Sendi

 

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11.5.15

SaidChild-GeorgeHodan.jpg

Foto: SaidChild-GeorgeHodan

 

A felicidade é uma herança pesada. Tal como as amarguras e os infortúnios do passado. Para o bem e para o mal, não é fácil desvincularmo-nos daquilo que fomos, não é fácil despir a roupagem das vivências que carregamos dentro de nós, e ainda mais complicado se torna, quando percebemos que só dissolvendo (não é apagando!) o passado, é que podemos viver o presente e aguardar sem ansiedade o futuro.

A maior ironia é que a minha vida é o meu maior exemplo de que nada é como esperamos, de que em cinco segundos a casa vai abaixo… mas nem isso me fez viver o agora sem expetativas. O Carpe Diem, de que eu era fiel devota, tornou-se uma ironia, e durante longo tempo vivi no limbo, completamente suspensa entre o passado quase idílico e o pânico do futuro, sem perceber que a vida não para e se constrói todos os dias. A vida acontece no agora e eu recusava-me a aceitar esta evidência.

Chegar a essa conclusão não foi fácil nem rápido, mas senti na pele que viver alheada fez-me passar ao lado de alguns anos de uma pequena vida, que resgato no agora, a cada segundo, em que tento ser sempre mais e melhor Mãe. Fez-me quase perder-te, a ti, que entretanto chegaste e eu por tanto te querer no meu futuro, não soube como dar-te um agora. Deixei-te no umbral sem saber se te dizer adeus, ou convidar a entrar. Até que o amor me fez perceber que, por agora, pintar a três mãos as paredes desta minha casa em (re)construção, me parece um excelente AGORA.

Decidir que a vida não me vai enterrar mais na minha deambulação estéril pelos seus caminhos inóspitos e crus, em busca de explicações, não foi simples, mas perceber que ainda há muito caminho para caminhar, e saber que posso decidir qual o calçado para percorrer esse chão, assemelha-se a uma pequena catarse. E é por aí que tenho seguido, tentando libertar-me a cada passo da ansiedade do que ainda está para vir, e cultivando a máxima de que as expetativas são ervas daninhas.

Mas não se iludam vocês também, caros amigos: viver o agora é também sermos guerreiros, e dos bons! Viver no agora é enfrentar o lado adverso da vida, é o exercício contínuo de não criar expetativas, mas sim acalentar desejos, é ter que conviver com pessoas tóxicas, é não saber como é que se vai chegar ao final do mês sem um tostão na carteira, é enfrentar a insegurança do nosso emprego e da situação frágil deste nosso país. Viver no agora é ter noção que a qualquer altura podemos perder os nossos entes mais queridos, ou pior, é vê-los a cada dia esvaírem-se numa qualquer doença crónica ou degenerativa, sem os podermos agarrar. Viver no agora é viver na saudade dos amigos e familiares que vivem longe de nós, e são tantas, mas tantas outras coisas difíceis… Sim, o agora é cinzento e há dias em que não se consegue vislumbrar para além da névoa.

Desta forma, não nos resta muito mais se não aceitar que nem tudo está ao nosso alcance para mudar, e potenciar a nossa capacidade de colorir o Agora, da melhor maneira que conseguirmos, para nos permitirmos fruir o melhor que temos no presente: a cumplicidade e o amor inabalável da família, aquela mesa cheia de amigos que nos faz sentir que vão estar sempre lá, o sorriso ímpar dos nossos filhos e as suas frases e fases mais castiças, que guardaremos para sempre, o estar simplesmente de mão dada com quem nos faz sentir que o amor ainda é mágico, não importa onde, a contemplação daquela paisagem de cortar a respiração, e fechar os olhos para imprimir para sempre aquela imagem dentro de nós…

Isto para dizer-vos que demorei, quase que fiquei pelo caminho, sentada na beira da estrada, com muita pena de mim e arrasada por sentir que nunca mais ia ser feliz, mas tive que me permitir dar um passo em frente, e o tal Agora, por muito cinzento que também seja, é agora a minha meta, e bastante difícil, sobretudo para quem sofre de ansiedade patológica. Não é fácil, simplesmente, ter esperança, serenidade e esperar que tudo corra pelo melhor, mas tal como há uns anos escrevi a um amigo, sem perceber que esta frase se aplicava tão bem a mim - “O presente é o presente que a vida te confia nos braços”.

 

Ana Martins

 

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8.5.15

MulherTriste.jpg

 

“É agora!”. Daqui a 10 minutos. “É agora!”. Passa uma hora. “É agora!”. Amanhã é melhor. “É agora!”. Hoje não me dava jeito. “É agora!”. Se fosse mais logo estava mais livre. “É agora!”. Então fica para a semana. “É agora!”. Muito trabalho. “É agora!”. Não tenho tempo para nada. “É agora!”. Nunca mais me lembrei. “É agora!”. Tem mesmo de ser. “É agora!”. Mas hoje não estou com cabeça. “É agora!”. Já passou um mês. “É agora!”. Já passaram dois. “É agora!”. Há que tempos não te via! “É agora!”. É verdade, tens razão. “É agora!”. Temos de marcar um cafezinho. “É agora!”. Já passou meio ano. “É agora!”. Já passou um ano. “É agora!”. O tempo passa tão rápido! “É agora!”. Dois anos? “É agora!”. Como pode ser? “É agora!”. Não dei conta do tempo passar. “É agora!”. Já passaram três. “É agora!”. Já ficou para trás. “É agora!”.  Tudo passou... “E agora?”

 

Patrícia Leitão

 

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6.5.15

Relogio.jpg

 

Não consigo situar-me emocionalmente, em pleno, em relação ao agora. Existe um quê de ambivalência com o mesmo, tal como acontece com as coisas que não são transparentes. O agora prende-se com o tempo e o conceito do mesmo. Com teorias infindáveis acerca de quanto dura, na realidade, um minuto. Um segundo. Uma fração desse tempo. Um agora é um agora num relógio em qualquer parte do planeta, mas um agora no sofrimento não é um agora na felicidade.

O agora acarreta uma certa dose de angústia, algo que deriva de duas suposições básicas:

 

Agora – “Estou bem” – “Que nunca acabe”

 

Agora – “Estou mal” – “ Que acabe depressa”

 

Curioso seria afirmar que este pensamento apenas surge quando acontece a consciencialização do momento corrente. E que significaria tal? Até ao surgimento desse pensamento a angústia seria inexistente? E isso acontece apenas quando estamos “bem”? Ou seja, quando estamos “mal”, a consciencialização do agora “que nunca acaba” está sempre presente e assim, a correspondente angústia?

O estar “mal”, no limite, transporta-nos para o crivo da psicopatologia. Em contacto com distúrbios ansiosos e depressivos o agora deriva, agora, de duas suposições básicas:

 

Agora – “Estou mais ou menos bem” – “Por favor que dure mais um pouco”

 

Agora – “Estou muito mal” – “Por favor que acabe depressa”

 

Neste caso, campo evidente de angústias e ansiedades, o potencial dano do agora será maior. Não existe qualquer relação de prazer com o momento – agora. No limite haverá um conforto derrotista do género “já foi pior que agora”.

Ok... e agora? Agora digo-vos que não é fácil trabalhar no agora, terapeuticamente falando. Não é fácil para o doente trabalhar a angústia do agora quando do futuro o vislumbre praticamente não existe. Contudo, como todos sabemos, depois do agora vem o depois. Ninguém consegue é garantir que nele não exista angústia.

 

Rui Duarte

 

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4.5.15

DescansarNaRede.jpg

 

O determinismo das coisas aborrece-me. Tudo o que acontece obedece a uma espécie de lei pegajosa que cola os eventos uns aos outros, para que nenhum ocorra isolada nem facilmente. Por exemplo, quero ir ao Algarve, mas para lá chegar tenho primeiro que passar pelo menos umas quatro horas em viagem. E antes da viagem tenho que fazer a mala. E antes de fazer a mala tenho que a encontrar. E por aí adiante. Parece que tudo está preso a tudo, tudo atrasa tudo. O mesmo se passa nas relações: para se partilhar a vida com alguém é preciso encontrar esse alguém, não sem antes ter-se feito uma escolha, por vezes criteriosa, de entre alguns alguéns.

Na vida quase nada acontece instantaneamente. A menos que se trate de um acidente. E esta permanente existência no adiamento acaba por encher.

Quando se quer algo, há sempre um hiato temporal entre o desejo e a concretização. Mas quando não se quer, em geral a concretização dá-se sem autorização e, não raras vezes, acontece aqui e agora, sem ser necessário adiar nada.

Há uma relação íntima entre, por um lado, aquilo que se quer e a espera e, por outro, entre o que não se quer e o agora. Quero que fique verde mas espero no lento vermelho. Não quero que fique vermelho e aí está ele, instantaneamente, logo a seguir ao laranja.

Esta questão do tempo de espera para o que é bom é uma permanente angústia. Lembro-me que aos 25 anos fui acometido de uma tristeza profunda, ao ter constatado que não teria tempo para realizar a maior parte dos projetos que fui idealizando na adolescência. Andei meses de rastos, com a sensação de que a vida é curta para tudo. Mas depois de muita reflexão, deu-se-me uma epifania: se é curta, então há que ter critério, há que escolher bem os lugares onde investir energia. E assim foi, pois. Foi constituir família, trabalhar e descansar. Hoje estes são os meus três únicos projetos de vida. À beira das centenas que tinha, pode dizer-se que foi uma simplificação considerável. E os três existem agora. Têm apenas que ser mantidos em equilíbrio.

A vida é de facto curta. Ou então é a imaginação que não pertence a esta forma de vida, porque coloca na nossa mente muitas ideias que não são concretizáveis em tempo útil.

Para se ter uma vida tranquila há que saber conjugar aquilo que se deseja com o tempo que nos resta. Para concretizarmos sonhos precisamos de pagar qualquer coisa, quanto mais não seja em unidades de tempo. De borla só mesmo os pesadelos.

Vivemos tempos de esperança, de esperança de que tudo isto vá melhorar, que tenhamos os cofres mais cheios para termos vidas mais confortáveis. Mas o mesmo se passou o ano passado. E no anterior. E no anterior a esse. E na década passada e até no século passado. Foi sempre assim. Na nossa vida pessoal passa-se exatamente o mesmo. Cheguei aos 25 com a ideia de que já não faltava muito para ter o dinheiro suficiente para concretizar parte dos projetos da adolescência. Mas nunca chegava. Era preciso esperar mais e mais e o dinheiro nunca chegava.

O que concretizamos verdadeiramente é apenas o nosso dia-a-dia. Sonhar é bom, projetar também. Só assim é que vamos fazendo a nossa vida. Mas enquanto não materializamos as nossas ideias, vivemos permanentemente em processo. Este processo de construção de algo é que define a vida. E isso só acontece no lugar onde estamos e no momento presente, aqui e agora.

 

Joel Cunha

 

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1.5.15

NaPraia.jpg

 

Olhas o mar sorrindo

Estamos aqui felizes ao calor

Do nosso amor e do sol.

 

Conheço-te e apaixono-me

Será que também sentes isto?

Há pombas a conspirar.

 

Dás-me a mão sem medo,

Este é o nosso momento especial

Imortalizado num dia.

 

Agora e para sempre,

Mesmo que acabe é eterno.

Agora é para sempre.

 

Laura Palmer

 

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