31.1.14

 

O rapaz nasceu, numa noite fria de Janeiro e, nesse mágico instante, a sua mãe decidiu não o amar. Presa num casamento sem sentido, mãe de uma rapariga com 3 anos (demasiado parecida consigo, pensava amiúde), percebeu, quando lhe pousaram o filho no ventre, que ser mãe não lhe trazia definitivamente nada de bom. Deixava-lhe na boca um sabor metálico e irado. O rapaz nasceu e deu à sua mãe todas as respostas de que ela precisava. Ela abraçou aquele pequeno ser, desde o primeiro instante, sem o menor apego. Quem os visse à saída da maternidade, acharia a cena tão enternecedora: o menino ao colo da sua mãe, numa demonstração tão clara de amor. Não era amor. Era a falta de um carrinho de bebé, demasiado caro para adquirir, que a levava a carregar a criança em braços. Viver com a sogra era algo que odiava mas encontra-la nesse dia, ao chegar a casa da maternidade, soube-lhe a pato. Descartou-se do embrulho assim que pode, avisou a sogra que não tencionava amamentar e que estava demasiado cansada para o ouvir chorar. Recolheu ao quarto, absolutamente aliviada e certa de que fugiria, assim que tivesse uma oportunidade. Pela primeira vez, o rapaz foi abraçado por dois braços que verdadeiramente o amaram. A avó tornou-se a mãe presente diariamente, para ele, para a sua irmã e para o pai; completamente afogado em álcool, morto por dentro, desde que a sua mulher o havia finalmente deixado e partido com o primeiro jagunço que lhe jurou não querer ter filhos. Deixou o marido, os filhos, a aliança no lavatório, a vida ridícula de todos os dias. Partiu e nunca se arrependeu. Apesar de todos os pesares, a vida que ela deixou para trás, continuou a avançar, entre destroços e dúvidas, entre sonhos e esperança. Na escola, a rapariga é serena, apaziguadora, longe de demonstrar o abandono de que se sente vítima. O rapaz é inquieto, “faz muitas asneiras”, “está sempre aos gritos” (não está, na realidade. Mas tem um timbre de voz que se ouve do alto de um farol). A mãe aparece de vez em quando, em intervalos pouco frequentes, apenas para destruir as poucas defesas adquiridas até então. Recomeçam, abaixo de zero, cada vez que ela volta a partir. A avó lá está então para abraçar, para beijar e curar as feridas do coração daqueles dois meninos que são a sua vida. Estarem dentro dos braços dela, cuida todas as maleitas. Um dia, a cuidadora precisou de cuidados. Ficou gravemente doente. Entre internamentos, cirurgias, voltar a casa, cuidar da família, esta senhora recusou-se a morrer. Gritou com a morte, chamou-lhe cabra, e injuriou-a pelo egoísmo de a querer levar já, antes de ver os netos criados. Fintou-a durantes dois muito penosos anos mas a morte e a doença, verdadeiramente democráticas, não atendem a histórias por terminar, à necessidade humana de permanecer, a gritos sentidos da alma. A nada. Num domingo de manhã, a avó morre em casa, na sua cama. As crianças veem-na sair, “desmaiada”, para o hospital. Após a morte, são deixadas fora do luto, fora da verdade, para as “pouparem”… faz-se o funeral, mudam-se os móveis em casa. “A avó está no hospital. Não sei quando volta.” Uma semana, duas semanas, o Natal e as festas, outra semana, outra semana, gente que entra, gente que sai e o desmaio da avó parece não ter fim… As crianças gostavam de ver a mãe, não entendem a confusão da casa, as mudanças. Onde vai dormir a avó quando regressar, se o quarto dela agora é uma sala? É Natal. A avó nunca mais chega do hospital… A mãe liga. A outra avó, diz, não os quer lá em casa, a culpa não é dela… eles são “muito irrequietos e a avó precisa de sossego”. A mãe, que está lá a viver neste momento, “adorava vê-los mas não pode”. Só quando tiver uma casa sua. Mas gosta muito deles. Eles sabem, diz ela. Não, não sabem, pensam eles. Um dia, o rapaz chega à escola e diz “a minha avó foi para o céu, já não volta.” Que bom, pensam os adultos. O pai, os tios, as tias, alguém, teve finalmente coragem de lhes contar. Agora sim, podem começar a fazer o seu luto, a deixar de esperar que a senhora volte. Como se adivinhasse esses pensamentos, o rapaz diz que foi a irmã que lhe contou. Que nem sabe se os grandes sabem, porque ninguém fala disso, mas a irmã disse-lhe que o coração da avó tinha parado de bater. Disse-lhe que ela estaria sempre com eles e que, se pusessem a mão sobre o coração quando pensassem nela, a avó estaria com eles nesse momento, abraçando-os e protegendo-os. Uma criança fez isto. Mas nenhuma criança deveria saber isto tão precocemente, substituindo adultos em funções das quais não deveriam jamais poder desvincular-se. Estes miúdos, que foram dois intervalos inconvenientes na vida da mãe, são amados pelo pai mas esse amor não os protege, porque não se protege a si próprio. Vive de hiatos de angústia, de cuidados que não estão presentes. Vive de distância e de muita dor, vivida para dentro. E dentro, implode. Com a mesma força com que mutila.

Ontem o rapaz chegou à escola com um enorme sorriso. Trazia a cabeça levantada, como se erguida por uma força superior, e uma enorme vontade de ter um dia feliz. Pela primeira vez, fez um desenho de que se orgulhou. Entusiasmado, fez outro e mais outro. O último desenho do dia, que quis oferecer, contava uma história sobre um rapaz com poderes mágicos, que podia acabar com as lágrimas de todos os que estavam tristes. Porque ele era tão especial, todos gostavam dele e o mundo inteiro o conhecia. Nesta história, ele era o herói e vencia sempre, sempre, os maus. Se ele acabava com as lágrimas, perguntei eu, como fazia quando ele próprio estava triste? O herói nunca chorava? Ele disse-me que sim, que o herói também chorava, que ficava triste, mas que sabia que, no fim, tudo ia ficar bem. Por isso, nunca deixava de acreditar. Dentro de mim, desejei com muita força, que ele fosse realmente um protagonista da sua história, que se sentisse merecedor de muito mais que intervalos egoístas e castradores. Que acreditasse. Olhei para ele, abraçamo-nos e agradeci, com um profundo carinho, aquele presente tão especial que ele me havia dado. Disse-lhe que nunca um menino com poderes especiais me tinha dado um desenho igual àquele. Na verdade, nunca tive dois iguais…

 

Alexandra Vaz

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 07:00  Comentar

28.1.14

 

São indissociáveis os termos intervalo e tempo, assim, perceciona-se a forte corelação entre intervalo e o tempo de realização de uma atividade. Uma técnica premente de análise dos fluxos de caixa de um projeto apresenta de forma combinada as variáveis críticas do juro designadamente capital, taxa de juro e tempo. O tempo figura como a cadência pela qual o capital é valorizado em ordem à taxa de juro vigente, tempo este escalonado em intervalos (período de capitalização) impreterível para a correta valorização do capital.

Ora, para que serve o intervalo (lapso de tempo) no raciocínio acima? Para ajustar a lógica de análise dos fluxos de capital numa base consentânea de ocorrência do fenómeno em estudo. O tempo (ou intervalo) serve para dar coerência e justeza à operacionalização dos fluxos de caixa. Se a equivalência de taxa de juro, que tem como elemento base o tempo, não ocorresse, perdia-se toda a lógica de avaliação e medição dos valores resultantes de tal operação.

Os intervalos que decorrem do desenvolvimento de uma certa atividade serão tantos quantos forem necessários para manter um ritmo competitivo adequado ao longo da sua vida útil. Um limite de intervalos torna-se necessário definir para regular o desempenho dos intervenientes, resultante do esforço a ser empreendido em função da capacidade instalada ou existente.

Há contextos em que o intervalo favorece uns, aumenta ou retira os níveis de concentração e/ou pressão existente e que favorecia outra parte. O intervalo pode ocorrer para conceder algum tempo de descanso necessário para recarregar as baterias, obter feedback do coach e afinar estratégia de atuação com vista a obtenção de melhores resultados até ali alcançados.

Observam-se intervalos como metodologia para readquirir níveis de desempenho e concentração necessários para a continuidade do trabalho. O intervalo está quase sempre associado à obtenção dos resultados (outputs) em ordem à qualidade das atividades que decorrem do lapso de tempo, desde a sua ocorrência última até ao presente.

Assemelhar o intervalo ao efeito-retorno é uma analogia de casos isolados, sobretudo pertinentes, em que um intervalo veio a alterar o rumo ou tendência dos acontecimentos verificados até antes de sua ocorrência. Se um jogo de futebol possui 90 minutos regulares, em muito pouco tempo basta alguma falha de concentração e o resultado pode alterar-se completamente. Isso chama a atenção ao facto de em alta competição os erros ou falhas de concentração terem uma fatura pesada e um impacto futuro perigoso na medida em que as ondas impulsionadas pela presença de “urânio” poderão catalizar uma destruição maciça.

Essa afirmação ganha relevo e notoriedade nos ganhos a que o rendimento marginal de um intervalo pode proporcionar. Isso implica uma rigorosa disciplina e gestão do tempo em linha com os objetivos que se pretendem alcançar dessa disputa. Essa equação não pode deixar de lado variáveis como a competência e o talento natural ou adquirido, a experiência adquirida em “palcos” competitivos que influencia o índice de confiança, a frescura físico-psicológica, grau de importância e o valor em disputa.

Destes fatores chamo particular importância à concentração e ao índice de confiança, porque muitas vezes as disputas ganham-se nos detalhes. No todo destrinça-se o essencial do detalhe, a sua soma é que forma o universo. Muitas das vezes negligencia-se a importância e influência do detalhe, concentrando-se apenas no essencial, quando a soma dos detalhes acrescido da aptidão supera o adversário conferindo maior poderio generalizado a este competidor. Um verdadeiro campeão e insuperável é alguém que também sabe prestar atenção ao detalhe, tornando-o um atleta único e raro. Acresce-se a isso a sua inteligência emocional, astúcia e sentido de oportunidade como valiosos contributos para a sua distinção.

 

António Sendi

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 07:00  Comentar

26.1.14

 

O Universo de cada uma das nossas cabeças é semelhante a um comboio de alta velocidade, um TGV que não permite atrasos para chegar aos destinos. Não tens a sensação de andar sempre a correr? Não é só para apanhar o autocarro ou para chegar a horas ao emprego de sempre… A nossa mente não para e, com ela, o nosso coração bombeia, o sangue esvai-se nas veias, aquece os membros e músculos, obriga-os a mexerem-se. A correrem.

Para no fim chegarmos a um deserto qualquer de Morte.

Não faz sentido. Há atos que não fazem sentido. Mas ainda assim o caminho é irreversível, o que vais fazer, parar a meio?

Por exemplo. Porque não?

Vivemos uma época que tudo tem de ser alimentado de uma forma intensa: o amor tem de ser intenso, a carreira tem de ser brilhante, a casa tem de ser excelente, o filme no cinema tem de valer a pena, os estudos têm de ter continuidade. Tudo tem de. Acabamos, por vezes, projetos que lutamos arduamente e olhamos para resultados e é como se não existissem (à primeira vista). E esgotamos. E derreamos. Sentamos na margem do trajeto e não sabemos que fazer.

Não tens de saber. Não faz mal que não saibas. Por vezes é bom respirar fundo, tão e somente. Apreciar os lados adjacentes dos percursos, observar algum caminhante que passa por nós. Cantar uma música que nos vem à memória. Chorar lágrimas e lágrimas sem fim.

Não faz mal. Não tenhas pressa. Não acredites em tudo o que lês nas cartilhas, na Internet, na vida dos outros exposta numa qualquer página pessoal de coisa nenhuma. E se acreditares, que se lixe isso! Suspira, sorri e nem penses em nada. Dá-te ao luxo de parar. De fazer um intervalo. De não teres para já todas as tuas respostas, todas as soluções, todos os resumos, todos os sonhos concretizados. Estou em crer que amanhã os sonhos até podem ser outros.

Não tenhas febre em ser um transporte veloz. Se houver dias que queres ser apenas uma diligência, sê-o. Uma carroça. Se quiseres só um cajado para andares a pé, não receies que o caminho continuará lá. Por isso, se te sentares na primeira pedra que encontrares no caminho e não quiseres pensar em mais nada, não penses.

O Destino deu-te a Vida para a viveres – e vivenciares – da melhor forma que sabes. E a essência da Alma está aí mesmo: descobrires o seu esplendor na sua verdade, cansada ou não. 

Que a precipitação de um comboio não seja o descarrilamento de um Mundo que só tu és responsável. Cuida-o com carinho.

 

Sofia Cruz

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 07:00  Comentar

24.1.14

 

O som estridente da campainha fez-se ouvir à hora e ao minuto esperados. Seguiu-se o habitual burburinho que pontuava o final de uma aula e os corredores encheram-se de um movimento repentino e caótico. Mas houve uma exceção naquele dia.

Na sala do professor Borges, conhecido pelas suas ideias excêntricas, os alunos permaneceram na sala, imóveis, calados e de olhos fechados. O professor dedicara a aula ao tema da reflexão e pedira aos seus alunos que prescindissem do tempo de recreio para pensarem sobre o passado, o presente e o futuro. “O recreio seria o intervalo entre o passado (esta aula) e o futuro (a próxima aula). Pensem nisso durante 15 minutos. Falaremos disso na aula seguinte. Peço-vos”.

 

- Claro que sim, João, podes começar tu.

- Eu penso que o presente é sempre um intervalo. Se estou a jantar, estou no intervalo entre a minha vontade de comer e a digestão. Se estou a fazer a digestão, estou no intervalo que me levará à próxima vontade de comer. É assim que eu penso.

- Muito bem, João, muito bem explicado. Sim, tu, Mário, o que nos tens a dizer?

- Eu acho que o intervalo é o que nos liga o passado ao futuro. Temos um passado e agora estamos a passar pelo intervalo que nos vai levar ao futuro que nos espera.

- Sim, Alberto.

- Eu não concordo com o Mário.

- Porquê?

- Porque o passado já passou e o futuro ainda não existe. E o intervalo, o presente, é que vai ditar qual será o futuro.

- Como?

- Escolhendo o que fazer no presente para termos o futuro que desejamos. Poderíamos ter ido para o recreio para mais umas correrias, mas ficamos na sala a refletir. Assim, o nosso futuro poderá vir a ser um pouco melhor.

- Obrigado a todos. Estou, mais uma vez, orgulhoso dos meus alunos. Faltam vinte minutos para acabar a aula, mas estão dispensados. Podem ir correr para o recreio porque é tão importante refletir como correr e saltar. Já agora, a próxima aula será sobre o tema da… depois eu digo. Vão correr e saltar e gritar.

A voz embargada do professor Borges denunciava a emoção que sentia. Eram momentos como aquele que confirmavam a escolha que fizera há muitos anos atrás e o convenciam que a melhor avaliação dos professores, a única verdadeiramente válida, é feita pelos alunos.      

 

José Quelhas Lima

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 07:00  Comentar

21.1.14

 

Talvez já se tenha notado que gosto de desporto e o utilizo para comparações, pontos de partida.

Para abordarmos um assunto como o “intervalo”, a temática desportiva fica mesmo à mão, não é? Aqui é fácil, nos desportos coletivos está lá o árbitro, a mesa de cronometragem e quando silva o apito ou a buzina do pavilhão ecoa, acabou o tempo, começa o intervalo. Está tudo organizado. É só descansar, ouvir o treinador. Noutros casos é mais simples ainda, depende apenas dos atletas, quando chega a determinada pontuação, termina o ponto e/ou muda-se de campo. Tempo de descanso, de retempero. Simples e reconfortante.

Nas artes e espetáculos também se utiliza muito o conceito de intervalo. Para descansar, socializar, ver e ser visto, conviver. Consumir. É um conceito que é confortável e até dá para compor o negócio.

Nas escolas, nas aulas também há intervalos, mudança de sala, de professor ou de turma. Burburinho nos recreios, no bar ou nas salas de professores. Recarregar energias, comendo, mudando de assunto, renovando condições para se estar concentrado de novo. Para uma outra aula. Até pode ser um teste.

O almoço, para além de permitir cumprir a necessidade fisiológica de nos alimentarmos durante a jornada de trabalho, é também um intervalo para recuperar forças físicas e psicológicas. Uma mudança de etapa.

Está, parece-me, evidenciado que todos sabemos o que é um intervalo, para que serve, quando acontece e, de uma maneira ou de outra, todos fazemos intervalos.

Pacífico e abrangente.

Coloquemos, então, um problema: quantos de nós, nas situações mais complexas ou simples, dramáticas e dolorosas, importantes e decisivas, não perdemos o controlo e assumimos, sem mais, que aquilo que poderia ser um intervalo, uma pausa, um mero problema ou mesmo um impasse, quantos de nós – ia perguntar – não tomámos o que poderia ser um mero intervalo e achámos logo que estávamos perante o fim? O fim: definitivo, acabou-se!

Quereis aplicar a pergunta a vós próprios, à vida afetiva, familiar, relações sociais, trabalho, dinheiro, sucesso, fracasso?

Fica a proposta.

Talvez haja jogos, vidas, relações que, se fizerem um intervalo retemperador, no momento certo, se podem prolongar e renovar por muito mais tempo.

Somos é nós a ter que decidir e agir, não vai haver apitos, campainhas, luzes a acender comandadas por outros.

 

Jorge Saraiva

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 07:00  Comentar

19.1.14

 

Período de tempo entre dois acontecimentos...

Intervalo entre inspirar e expirar

Intervalo entre as batidas do coração

Intervalo entre engolir e voltar a mastigar

Intervalo entre chorar e secar as lágrimas

Intervalo entre a felicidade e a tristeza

Intervalo entre fazer amor e voltar a fazer

Intervalo entre a partida e a chegada

Intervalo entre ouvir e falar

Intervalo entre terminar um livro e começar um novo

Intervalo entre notas musicais

Intervalo entre uma mágoa e o perdão

Intervalo entre a doença e a cura

Intervalo entre ganhos e perdas

Intervalo entre amores físicos

Intervalo entre construir e destruir

Intervalo entre acabar e recomeçar

Intervalo entre uma separação e uma nova união

Intervalo entre o nascimento dos filhos

Intervalo entre morrer e voltar a nascer

 

Só não existe intervalo no verdadeiro Amor

Só não existe intervalo nas conversas com Deus

Só não existe intervalo na verdadeira Fé

Só não existe intervalo na vida Eterna

 

Quando conquistamos a sabedoria de saber escutar no intervalar, estamos no caminho certo porque é nessa introspeção que vamos lá chegar...

 

Salvemos as nossas Almas no silêncio entre as pausas da nossa Humilde Existência!

 

Joana Pereira

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 07:00  Comentar

17.1.14

 

Ela estava farta, cansada.

Farta do dia-a-dia, das rotinas, das obrigações, das contas para pagar. Do emprego, dos amigos, dos vizinhos, das conversas de circunstância, de não poder fugir, desaparecer, desistir por apenas alguns momentos. Farta de cinismos, convenções, da luta constante. Deixar mesmo de existir por algum tempo. Criar tempo para não ser nada e poder ser tudo. Ela estava farta e cansada e precisava de um intervalo.

 

E o intervalo veio. Veio num sábado a 140 km a hora, numa autoestrada, pelas mãos de um estranho a conduzir à louca, sem aviso, e destruiu o carro em que seguia e não deu grandes explicações, nem se sabe como aconteceu. Veio quando ela estava feliz e descontraída, porque na verdade ela não tinha explicado quando é que lhe dava jeito o intervalo nem de que maneira é que havia de ser. Nem que não era preciso atingir as pessoas que amava ao mesmo tempo que a atingia a ela.

O intervalo veio e levou consigo uma semana inteira de memória, antes e depois do acidente. Foi uma semana de não existência, à custa dos outros, e de questões do tipo, ela vai viver ou morrer, ficar paralisada, recuperar? Foi uma semana de coma induzido e sedações, da família a sofrer e a correr e os amigos em negação. Foi uma semana que ficou muito cara a todos, em todos os sentidos. Não era bem nisso que ela tinha pensado quando tinha pensado já não sabe muito bem em quê.

 

E agora resta esperar, ter calma e paciência e ir recuperando o corpo e a alma. A família também está a melhorar e ela sente-se menos culpada mas ainda muito preocupada. Porque o mundo lá fora não parou e o limbo a que teve direito tem um preço alto a pagar…, não são as costas e a operação à coluna, não são as costelas partidas nem as tonturas constantes que a magoam mais, ou que de todo perturbam. É a sensação de pesadelo constante, de ter arrastado todos a sua volta atrás de si, de não haver tempo a perder com recuperações. É saber e sentir que precisam de si, que tem que ficar boa rapidamente, que não há tempo nem espaço para contemplações.

Ela já não pensa em intervalos…, pensa em ganhar ritmo e recompensar aqueles que sofreram e sofrem com ela. Aqueles que estão à sua espera pacientemente. Pensa em remendar tudo, não com remendos mas com uma base nova, ainda mais completa e linda. Pensa em juntar à sua cabeça que já está recuperada, um corpo igualmente funcional, pensa em ter a sua vida de volta e tomar controlo de tudo o que pode controlar e deixar fluir o que não depende de si. E pensa em ser feliz, não como era, porque já era, mas ainda muito mais porque agora dá outro valor ao que tem e percebe como o seu mundo, não sendo perfeito, é fantástico e invejável.

Ela está a voltar, passo ante passo, pela calada, mais forte que nunca, mais decidida que nunca e mais feliz que nunca.

E pronto, venha muito o que fazer, o que dizer, o que aprender, o que partilhar, em suma, o que viver. Durante muito, muito tempo.

Os intervalos são uma ideia estúpida. Nunca mais.

 

Dora Cabral

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 07:00  Comentar

14.1.14

 

Olha-se mais uma vez ao espelho. O rosto irradia felicidade. O blush oculta-lhe as olheiras e as pequenas imperfeições. O crayon preto realça-lhe os olhos e dá profundidade ao olhar. Os cabelos estão brilhantes e sedosos e a cor combina com a tez da pele. Perfeito. Encaminha-se para a enorme escadaria de acesso ao hall de entrada onde todos a aguardam. O ambiente está muito agradável e as luzes dão um brilho especial ao lugar. Caminha com segurança e muito confiante. O vestido curto exibe os joelhos bem definidos e mostra as pernas magras e tonificadas. Está deslumbrante. Cheia de glamour. No cimo das escadas, para. Percorre a multidão com o olhar, procura alguém. Ele tem que estar lá! Quando os seus olhares se cruzarem, sabe que ele não ficará indiferente a tanta beleza. Sempre quer ver como é que vai encarar o sucesso que ela conquistou depois da separação. E, quando o arrependimento por tê-la trocado por outra, for indisfarçável no seu rosto, nesse momento, sentir-se-á vingada.

 

- Ainda não acabaste o intervalo? Os primeiros clientes já esperam para almoçar.

Sente o cigarro a queimar-lhe os dedos, atira com o que resta dele para o vaso ali colocado para esse efeito, passa a mão fria pelo cabelo áspero e entra na cozinha do restaurante. É preciso continuar a levar a sua vida para a frente.

 

Cidália Carvalho

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 07:00  Comentar

12.1.14

 

No meio de tanto caos, de tanta emoção já desgastada, no meio disto tudo, às vezes, o que preciso é de um intervalo. Intervalo dentro de mim, para espiar o que me esqueço durante o rodopio. Espiar os meus sonhos, arrumados a canto, enquanto cumpro o dever de ser o que é suposto ser, segundo os escritos de um messias qualquer.

Somos autopunitivos, quando não assumimos o que nos move verdadeiramente. Esquecemo-nos em prol de um ideal irrealista, que nos afunda, em vez de nos tornar mais e melhor. Em vez de nos elevar. E, por isso, ansiamos sempre por mais umas férias, mais um fim de semana, mais um intervalo. Esquecemos, porém, que as férias, o fim de semana, são tempos finitos e curtos face à tormenta de todo o tempo restante. E, durante esse tempo, aniquilámo-nos, enquanto aguardamos o ressurgimento da nossa essência, nesse pequeno intervalo. É no intervalo que nos fazemos vivos, que nos ligamos à paixão, que nos sentimos livres, que nos entregamos. Significa então, que mais do que um prazer, o intervalo é uma necessidade de sobrevivência. Uma sobrevivência tão fugaz, que nos corta logo o fôlego. É essa esperança que nos faz aguentar todo o tempo de jogo, em que nos movimentamos como peões no xadrez, esperando sempre não ser derrubados pelos avanços de uma peça maior.

E, se em vez de vivermos só no intervalo, tal bolha de ar, vivessemos todos os dias? Todos os dias nos entregassemos verdadeiramente à paixão, ao que nos move e nos irradia por dentro, ao que nos faz crescer e sentir energéticos, em vez de cansados? Ao que nos faz correr, em vez de adormecer? Ao que nos faz rir, em vez de stressar? Ao que nos faz dançar, em vez de chorar?

Em tempos de renovações, como todo o novo ano aspira, façamos um intervalo, para pensar e refletir, do que nos impede, mesmo em tempos difíceis, de perseguir os nossos sonhos, de sermos mais autênticos e fiéis ao que realmente somos, de nos tornarmos mais plenos. Talvez, consigamos descobrir mil e uma razões que nos afastam do verdadeiro conceito de intervalo, mas a maior de todas permanecerá sempre dentro de nós. O que estamos dispostos a fazer para tornar o nosso intervalo, num modo de estar/ser na vida?

 

Cecília Pinto

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 07:00  Comentar

10.1.14

 

Parou! Acabou? Vivia uma história deliciosa, cheia de carinho e ternura e, sem que eu quisesse ou pedisse, parou! Durante muito, mas muito tempo, fiquei convicta que tinha acabado, que a minha alma fora separada definitivamente de outra alma.

Chorei, vivi numa imensa tristeza, não só porque tinha parado, mas sobretudo porque tinha acabado.

O vazio que se instalou no meu coração parecia eterno e definitivo, pedia apenas que tivesse parado e não acabado.

Sonhei contigo, aquele sonho em que me disseste que voltaria a encontra-te num sítio que é um segredo, num momento que é incógnito. Entendi, quando me explicaste com a tua meiguice, que fôramos separadas apenas temporariamente. Não é um fim mas um espaço, uma pausa entre a tua partida, a minha vida e o nosso reencontro. Neste espaço, embora ainda contenha um cantinho vazio deixado por ti, já há algum tempo que comecei a preenchê-lo com pequenas grandes almas maravilhosas.

 

“- E por isso Mamã, por muito que te ame e não saiba o que fazer com tantas saudades, espero que este intervalo que nos separa ainda dure muito, mas muito tempo mesmo.”

 

Susana Cabral


Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 07:00  Comentar

7.1.14

 

A vida dela está num intervalo. Ela não o desejou, mas teve que o aceitar, tal como se aceita a publicidade que surge a meio do filme empolgante que estamos a ver.

 

E todos à sua volta a felicitam, afirmando que ela foi bafejada pela sorte!

Ela tenta convencer-se disso. De que estar em casa a tempo inteiro, dedicada ao casamento, aos filhos, à comunidade, aporta inúmeros benefícios para todos. Para todos…

E as percentagens (vomitadas) divulgadas com frequência pelos media garantem que esta mulher não está a viver sozinha esta pausa.

 

Pois, até dá jeito, esta porcaria de intervalo. Mas, como quando se está a ver um filme, e o intervalo desconcertante aparece, mas aproveita-se para ir à casa de banho, para fazer um chazinho ou ligar o botão da máquina da loiça, a dada altura, o intervalo termina, e voltamos a mergulhar no filme desejado.

 

E que forte é o seu desejo, o de voltar a mergulhar nesse filme! E que medo sente, de cada vez que vislumbra a possibilidade de ver terminada essa pausa! Medo de fracassar, medo das dificuldades que terá de acarretar sozinha.

Poderá toda essa insegurança estar, como uma força oculta do Universo, a influenciar o rumo das coisas? Se estiver, então a culpa é sua. Tantas oportunidades perdidas!

 

E enquanto dura o intervalo, a vida avança. E ela vai ficando para trás. Para baixo. Para dentro. Isto, nalguns dias.

Noutros, porém, a agenda cheia de mil e um afazeres – alguns automáticos, estupidificantes; outros enriquecedores e felizes – adormece o espírito criando a ilusão de que até dá jeito, esta porcaria de intervalo.

 

Sandrapep


Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 07:00  Comentar

5.1.14

 

Todos os dias sabemos bem o que é um intervalo. Ele existe no trabalho de todos, o intervalo para comer, beber um café ou fumar. E quem não sabe da importância disso? Mesmo que em alguns trabalhos esses intervalos sejam coisa de minutos, eles têm o poder de refrescar um pouco a mente e relaxar o corpo. Pessoas que trabalham direto sem intervalos, mostram uma produtividade abaixo de quem faz algumas pausas durante seu dia.

É interessante saber que todos nós sentimos os efeitos positivos de um intervalo, mas nem por isso aplicamos eles a nossa vida pessoal. Não conheço ninguém que no meio de uma discussão peça um tempo para refletir, um intervalo. Antes de dizer coisas que não são inteligentes não pedimos nenhum intervalo, vamos logo falando, como se as emoções tivessem que sair naquele momento.

Intervalos são necessários em tudo, a mente precisa mudar o foco e descansar por um tempo para manter a perspectiva, pena mesmo que não aplicamos essa teoria a nossa vida, apesar de conhecer seus benefícios.

Sair para caminhar, dar uma volta, sempre ajuda a manter as ideias claras e muitas vezes nos mostra como é importante de afastar de uma situação para poder resolvê-la.

Outro benefício dos intervalos é o tempo para nós, vivemos cheios dos outros e do mundo que não para de rodar, difícil pensar com tantas coisas acontecendo ao nosso redor, por isso intervalos são como uma brisa em um dia quente, nos trazem de volta ao ponto inicial e o mais importante nos colocam novamente no lugar onde o que interessa é o que pensamos, estamos ali de novo no nosso centro, sozinhos, escutando nossos pensamentos.

Talvez quem inventou os intervalos tenha pensado nisso, que um dia o mundo seria tão cheio de barulho que precisaríamos de um tempo longe de tudo para poder escutar nossos pensamentos. Intervalos são mais do que intervalos, são o nosso tempo, o único que temos neste mundo maluco.

 

Iara De Dupont


Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 07:00  Comentar

3.1.14

 

Este tema veio mesmo em altura certa! Porquê? Porque ao receber a proposta de escrever um pequeno artigo sobre “Intervalo…”, recebo também um convite para fazer esse intervalo, que deveria ser feito sem ser preciso convite.

Estamos demasiado ocupados em ser marido ou mulher, mãe ou filha, irmã ou tia. Em ser empregado ou patrão, ou simplesmente em ser alguém que ocupa o dia de alguma forma, de preferência, lucrativa. E tempo para sermos nós mesmos, indivíduos solitários que têm o seu EU que também precisa de ser alimentado?

A maioria das pessoas afirma que precisa e só se sente bem quando está com a família, com amigos, com a equipa de trabalho ou grupo cultural ou desportivo, esquecendo-se que antes de existir em grupo existe sozinho.

Este intervalo fez-me ter uma semana mais rentável. Como? No dia em que o tema me foi proposto, passou um senhor de carro por mim que me perguntou como se vai para o Furadouro, uma das praias desta zona. À medida que lhe ia indicando o caminho, ia traçando o mesmo na minha mente e o destino final foi a bela praia, uma cómoda esplanada à beira mar e eu a apanhar sol bebendo um simples chá ou cappuccino. Depois de lhe dar as indicações e ele ter seguido o seu caminho, perguntei a mim mesma “Porque não?”, e fui até à esplanada para aproveitar com qualidade o tempo de almoço.

Comecei a escrever este artigo e dei por mim a pensar que deveria fazer esta escapadinha mais vezes. Não como uma rotina, mas em momentos em que tivesse a sensação de estar cansada do que quer que seja, ou até mesmo, antes dessa sensação.

Um simples intervalo de 45 minutos numa semana fez com que eu pensasse em mim, no mar a bater nas rochas ou em nada. Ganhei mais espaço mental, pois de alguma forma este não pensar em nada fez com que limpasse a mente do que tem menos importância.

Com este novo espaço disponível, assuntos diários que pareciam problemáticos, deixaram de o ser ou se continuaram a sê-lo, não levaram a nenhum drama com peso significativo no meu dia.

Parar para rir sozinha, cantarolar uma música, abanar o corpo com qualquer melodia, são pequenos intervalos que agora tento fazer com mais frequência apenas porque me sinto mais saudável e pronta para desempenhar todos os papéis que tenho e gosto de ser diariamente.

 

Sónia Abrantes


Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 07:00  Comentar

Pesquisar
 
Destaque

 

Porque às vezes é bom falar.

Equipa

> Alexandra Vaz

> Cidália Carvalho

> Ermelinda Macedo

> Fernando Couto

> Inês Ramos

> Jorge Saraiva

> José Azevedo

> Maria João Enes

> Marisa Fernandes

> Rui Duarte

> Sara Silva

> Sónia Abrantes

> Teresa Teixeira

Janeiro 2014
D
S
T
Q
Q
S
S

1
2
3
4

5
6
7
8
9
11

13
15
16
18

20
22
23
25

27
29
30


Arquivo
2019:

 J F M A M J J A S O N D


2018:

 J F M A M J J A S O N D


2017:

 J F M A M J J A S O N D


2016:

 J F M A M J J A S O N D


2015:

 J F M A M J J A S O N D


2014:

 J F M A M J J A S O N D


2013:

 J F M A M J J A S O N D


2012:

 J F M A M J J A S O N D


2011:

 J F M A M J J A S O N D


2010:

 J F M A M J J A S O N D


2009:

 J F M A M J J A S O N D


2008:

 J F M A M J J A S O N D


Comentários recentes
Entendi a exposição, conforme foi abordada mas, cr...
Muito obrigada por ter respondido ao meu comentári...
Obrigado Teresa por me ler e muito obrigado por se...
Apesar de compreender o seu ponto de vista, como p...
Muito agradecemos o seu comentário e as suas propo...
Presenças
Ligações