29.11.13

 

Querido amigo,

 

Escrevo porque sei que estás zangado e não queres falar comigo. De resto, ultimamente andas sempre muito zangado e sem vontade de falar. Percebo-o e respeito o teu silêncio, ainda assim, escrevo e desejo ser compreendida neste exercício de liberdade que está longe de te querer provocar algum incómodo.

A esta altura da minha carta já estarás a pensar que és livre de falar com quem e quando muito bem te apetecer. Afirmas assim a tua liberdade. Pois bem, falemos então de liberdade e de como eu a fui sentindo ao longo da minha vida.

Entrava na adolescência quando se deu o 25 de abril de 1974, que ficou conhecido para a História como, o dia da liberdade, deves lembrar-te certamente!. Fui esculpindo a minha personalidade e a minha formação pessoal no mesmo sentido em que a palavra liberdade se vulgarizava, a tal ponto, que o conceito ficou reduzido à possibilidade de se poder falar. Ouvia as pessoas opinar sobre partidos e ideologias, justiça e o que a ela faltava enquanto tal, de teorias de mercados que fazem funcionar a economia, de um Estado interventivo para acabar com as desigualdades sociais facultando o acesso ao ensino, à saúde e a melhores condições de vida, de finanças e sistemas financeiros, instrumentos de alavancagem para o desenvolvimento pessoal e das empresas. Enfim, de tudo um pouco mas com tudo a ficar na mesma.

Afinal, parece que a liberdade de expressão, só por si, não resolveu o problema das pessoas.

 

Levantam-se vozes discordantes. A família é posta em causa e o amor passa a ser livre, sem amarras nem compromissos. Os mais jovens negam as tradições, as mulheres cortam os cabelos, os homens deixam-no crescer, os concertos de rock e todo o estilo de vida associado, ganham adeptos, consomem-se drogas e estimulantes, vivem-se tempos de uma eufórica rebeldia. Muitos querem viver nessa euforia permanentemente, recusam voltar a uma realidade que lhes desagrada.

Os hábitos mudaram mas a liberdade de atitude, só por si, não fez de nós pessoas mais felizes.

 

Democratizaram-se as artes. Todos parecem ter algo a transmitir, seja na escrita, na música, na pintura ou em outras expressões culturais. Mas o talento não é democrático e à arte não basta a expressão de sentimentos mais ou menos bem articulados. Não basta descrever, é preciso escrever. O resultado foi a proliferação de publicações de livros de escritores que nunca o foram, vidas que deviam ser privadas, expostas em praça pública, música de qualidade duvidosa.

Afinal, parece que a liberdade criativa, só por si, também não nos elevou como seres humanos.

 

Sabes uma coisa, amigo, penso muito sobre estas questões e quer-me parecer que a liberdade poderá passar por um processo coletivo, mas liberdade talvez seja mais simples do que isso, talvez seja fundamentalmente um processo individual. Isto é, serei livre se me sentir livre. E sabes quando é que me sinto livre? Poderá parecer estranho mas é assim que eu sinto e, mesmo que a esta altura da carta o teu amuo ainda não se tenha rendido, vou na mesma falar-te do meu processo individual de liberdade. Sinto-me livre quando, frente a frente com a minha consciência, e só com ela, sem medos, sem pressões e tiques sociais, tomo decisões e sinto que sou capaz de responder por essas mesmas decisões. Nessa altura sim, sinto-me livre. Sinto-me bem. E é por isso, amigo, que mesmo sabendo que não queres falar comigo, tomei a liberdade de te escrever porque a minha vontade o ditou e a minha consciência o encorajou. 

Até sempre, aceita a minha amizade e fica bem.

 

Cidália Carvalho


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26.11.13

 

Liberdade é uma palavra que todos conhecem. Nos livros ela aparece constantemente e nossos olhos passam por ela sem prestar muita atenção, ela está ali, apenas isso.

Mas se um dia se perde a liberdade, o significado dela muda de uma maneira brusca e assustadora. Sem a liberdade percebemos que não temos nem ar, não conseguimos nem respirar, falta oxigênio no planeta, no sangue.

Não existe nada mais precioso do que a liberdade, mas só quem perdeu ela, sabe da dor que se carrega, tudo perde sentido, nada mais parece estar em seu lugar e sem a liberdade nós nem existimos.

Quando deixamos de ser livres nossas vidas perdem o rumo e o sentido, então conseguimos ver que não somos nada sem liberdade, ela é o centro da existência e sem ela perdemos o chão.

E o que fazer quando se perde a liberdade? Nada. Talvez esperar que ela volte e a vida recomece, fora isso não há o que fazer e a alma sabe disso, sem liberdade ela seca em questão de segundos.

Liberdade no papel é uma coisa poética, na falta dela a pele congela.

E não prestamos atenção nisso, pensamos que nossa liberdade já foi conquistada e será assim para sempre, acreditamos que temos ela ao nascer e vamos morrer assim. Mas tudo muda e às vezes a liberdade pula do papel, onde é perfeita e avança em nossas vidas, arrancando tudo do lugar. Nesse momento entendemos o outro significado dela, sem a liberdade não temos ar e sem isso não temos vida, parece que tudo termina ali. E só nos resta rezar.

 

Iara De Dupont


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22.11.13

 

O clique deu-se quando a minha mãe um dia disse, era eu ainda muito nova, “somos como os passarinhos: tratamos dos nossos filhos enquanto estão no ninho, ensinamos a comer, ensinamos a voar, ensinamos a procurar alimento e deixamo-los voar sozinhos e a cuidar de si próprios.”

Liberdade para mim é isso, ter alguém que nos ensina a ser e a estar, criarmos a nossa própria forma de pensar e ter espaço para errar e continuar a viver, com a responsabilidade de todos os nossos atos, sem prejuízo para os outros.

Como seres humanos, a grande diferença que temos em relação aos passarinhos é que cada um de nós pensa de forma individual e, segundo isso, vivemos em sociedade. Aqui a liberdade também deveria continuar a ter lugar mas muitos confrontos históricos comprovam que as sociedades não se regem só pela liberdade, muito embora seja essa uma das necessidades da natureza humana.

Ouvimos expressões como liberdade de expressão, escolha de valores e princípios, identidade… Há vários momentos históricos em que alguém decidiu que afinal não somos um rebanho de ovelhas, ou um bando de aves comandado por um único indivíduo ou conjunto de indivíduos, sendo estes seguidos por muitos que se conformam e agem em conformidade.

Daí chamar a liberdade de utópica pois estamos sempre presos à liberdade dos que nos rodeiam, o que por vezes é contra a nossa forma de estar e isso também temos de respeitar.

Quantas vezes nos aconteceu tentarmos dar o melhor de nós, segundo os princípios e valores em que acreditamos e que nos ensinaram que são os mais eticamente corretos, e encontramos alguém que se impõe e não nos deixa espaço para inovar, dinamizar, fazer evoluir ou apenas mudar para aquilo que se pensa ser melhor?

Quantas vezes ouvimos “fazemos desta forma pois é assim que eu digo e quero que seja”?

Quantas vezes ouvimos que, por sermos os únicos a falar, somos nós que estamos mal (se é que há bem ou mal)?

Podemos referir aqui alguns nomes como Martin Luther King, Abraham Lincoln, Anne Frank, William Shakespeare, entre outros, que fizeram valer a sua opinião e conseguiram chegar a tantas pessoas para a sua melhoria de vida, de alguma forma contrariando a tendência quase espontânea do ser humano para ser submisso a quem se julga com poder.

Bem-aventurados os que vivem em liberdade, porque deles é a voz do mundo.

Creio que podemos viver em harmonia mesmo com grandes diferenças culturais, de conhecimento e vivências. Basta para isso respeitar o Outro tal e qual como ele é, dar-lhe confiança para que possa desenvolver as suas crenças e permitir que a mudança aconteça, para aí sim, escolher o melhor caminho para evoluir não estagnando no que é costume, presos àquilo que nos dá segurança, perdendo a liberdade de sermos humanos e não máquinas.

 

Sónia Abrantes


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19.11.13

 

Eu queria ser livre para gritar, gritar, até a voz me sair da garganta e cair no chão, inanimada, libertando-me de tanta angústia e revolta.

 

Eu queria ser livre para chorar. Um dia inteiro. Até poder aconchegar-me na morna poça das minhas lágrimas e libertar-me do estranho frio que sinto.

 

Eu queria ser livre para fugir. Para longe, para lugar nenhum. Fugir das responsabilidades que não sou capaz de assumir, do vazio da minha agenda, dos meus dias, tão cheios de tudo e de nada.

 

E no entanto, estou presa. Presa à boa educação que recebi, aos valores morais e sociais que me incutiram, às pessoas que dependem de mim. E me impedem de me libertar desta vida… quase perfeita.

 

Sandrapep


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15.11.13

 

- Diz-me, pode alguém ser quem não é?

- O que queres dizer com isso? Como é isso de ser quem não é?

- Cada pessoa tem as suas caraterísticas, a sua identidade, é única naquilo que é. Pergunto se uma pessoa, sendo aquilo que é, consegue, por força da sua vontade ou da vontade de alguém, ou das circunstâncias, ser aquilo que não é.

- Entendo… Penso que não. Se uma pessoa é de um determinado jeito, não poderá ser de outro jeito. A menos que mude, que consiga mudar.

- Então acreditas na mudança!? A mudança é possível?

- A mudança de caráter, de atitude, de comportamento é possível, mas é um processo complexo, exige esforço, persistência e tempo, por vezes muito tempo. Ao longo da vida todas as pessoas mudam. Mas lá está, ao longo da vida…

- Sim, concordo, mas conseguimos mudar o que está na base?

- Não sei o que entendes por base…

E continuaram em silêncio.

 

- Uma pessoa, sendo o que é, pode ser outra, pode como que vestir outra, encarnar outra, representar outra.

- Sim, mas isso é teatro. O ator veste o personagem, mas continua a ser quem é, não passa a ser o personagem. O personagem não se instala no ator eliminando-o definitivamente. Tal não é possível, pois não?

- Se continuas assim, com essa dose de abstração, perco-me definitivamente. Não queres concretizar q.b.?

E o silêncio recuperou o seu espaço entre os dois.

 

- Ok, concordo, esta conversa está muito abstrata.

- E então, queres passar ao concreto?

- Quero! Mas isto não está fácil. O tema é difícil, bem difícil. Ouvi esta manhã uma história, na primeira pessoa, e desde então que os meus neurónios não descansam, às voltas com o que ouvi e percebi.

- Entendo. E então…?

- Um jovem, vinte poucos anos, classe média, estudante universitário, é claramente homossexual. Observa as mulheres, procura imitá-las. Sente-se atraído apenas por homens, deseja-os. Tudo nele revela a sua homossexualidade. Mas ele não se aceita tal como é. Está desgostoso e revoltado contra aquilo que é, ansiando por ser aquilo que, claramente, não é, procurando a fórmula que lhe permita a mutação. Questiona-se com desespero e revolta, mesmo violência, porque é assim, porque não é diferente, porquê ele. Repara que questionar-se assim é como que culpabilizar-se a si mesmo, é punir-se a si próprio.

- A não-aceitação de si mesmo, porque ninguém consegue fugir de si próprio, é sempre dor e sofrimento. Essa é uma situação terrível.

Uma réstia de silêncio, que ficara colada num deles, agigantou-se e retomou o espaço entre os dois.

 

- E a família? Qual é o enquadramento?

- Na família, nunca ninguém falou sobre esse tema – é tabu. Segundo ele, a mãe soube bem antes do filho, da sua homossexualidade. Apenas verbaliza que o amará sempre, incondicionalmente. Quanto ao pai, homem duro, inflexível, é completamente intolerante a todos e a tudo o que não é claramente heterossexual. Brejeirices, provocações, afirmações de uma masculinidade que, assim colocada, é ofensa, é agressão. Total impossibilidade de diálogo entre os dois. No filho, uma frustração na mesma gigantesca proporção do desejo de ser…

- … Aceite e amado pelo pai.

- Exato!

- Terrível. Assustador. Provavelmente daí vir a revolta por não ser do único jeito que o pai admite. Como poderá esse jovem ter paz, ter harmonia, ter vida?

E ambos fizeram silêncio e nele mergulharam, procurando assim fugir àquela dor que os invadiu, irreprimível.

 

Fernando Couto


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12.11.13

 

Estamos constantemente a ajustar os nossos hábitos e estilos de vida às novas tecnologias. Curiosamente, a sexualidade não escapa às chamadas TIC, e está a assumir outros contornos. O que relatam os estudos nesta área? Quem procura relacionamentos amorosos, íntimos ou sexuais na Internet? Porquê? Que vantagens e desvantagens tem este tipo de relacionamento e, finalmente, será que a infidelidade “virtual” pode realmente ser considerada infidelidade? Com o aparecimento de sexo cibernético, como sendo um ponto intermédio entre a fantasia e a ação, o conceito de intimidade está a ser redefinido. Aqui o simbólico supera o real. Na Internet pode ser-se quem se quiser. Pode escrever-se, apagar e voltar a escrever o que desejar e fantasiar. As convenções são redefinidas.

Ross, 2005, num estudo sobre sexualidade e Internet, “Typing, doing, and being: sexuality and the Internet”, refere que esta tende a ser cada vez mais usada para procurar contactos sexuais, virtuais ou reais. Que tipo de relacionamentos se procura?

Michael W. Rossa, B.R. Simon Rosserb, Sheryl McCurdya & Jamie Feldman, num estudo sobre comportamentos de risco efetuado a 1.017 homens homossexuais, realizado nos Estados Unidos, “The Advantages and Limitations of Seeking Sex Online: A Comparison of Reasons Given for Online and Offline Sexual Liaisons by Men Who Have Sex With Men“ aponta para 48,4% a preferir encontros reais, contra 31,6% a manter os relacionamentos na Internet, e 20% a mencionar que depende da natureza e das intenções do relacionamento procurado.

Os que mantêm os relacionamentos na Internet indicam como principais vantagens a facilidade de utilização por parte dos indivíduos tímidos, o anonimato, a segurança, a emoção e a oportunidade para a experimentação de contacto que, de outra forma, seria bastante mais complicado. Os que preferiam o contacto real dizem atribuir uma importância grande à "presença real" e à possibilidade de construir um relacionamento.

Mas afinal há ou não há um perfil psicológico para quem procura sites como Match.com e eHarmony.com?

Historicamente e culturalmente os homens são considerados mais infiéis, mas os papéis parecem estar a reverter-se. Um estudo feito em 2005 a 1.828 utilizadores da Internet na Suécia, apresenta evidências de um aumento da existência de sexo cibernético e casos online, em que um terço dos participantes relata ter tido experiências de sexo virtual e as pessoas que tem um relacionamento estável aparecem como tão capazes de se envolverem neste tipo de comportamento como as descomprometidas. Relativamente ao género e idade parece que há diferenças. Assim, o interesse dos homens diminui com a idade e o das mulheres aumenta ligeiramente. 37% das mulheres com idades entre os 39 e os 49 anos relata experiências de sexo na Internet, contra apenas 25% de homens na mesma faixa etária.

Os investigadores (Kim et al., 2009) analisaram 3.345 pessoas nos Estados Unidos, dos quais 1.588 (47,5%) eram homens e 1.757 (52,5%) eram mulheres. A idade variou de 19 a 89 anos, com média de 48 anos. Os resultados referem que as pessoas que são mais "sociáveis são mais propensas a usar estes sites do que aqueles que são menos sociáveis.” Esta descoberta desafia a caraterização estereotipada de que seriam apenas pessoas solitárias e pessoas socialmente ansiosas.

Mas não são apenas as pessoas sociáveis que consideram o uso de Internet como um meio, neste caso mais um, para encontrar parceiro(a). Os indivíduos que têm baixa autoestima e que consideram as relações amorosas como uma parte pouco importante da sua vida, também tendem a procurar estes sites. Assim, se tem baixa autoestima mas atribui algum valor aos seus relacionamentos românticos, então, de facto, está menos propenso a usar a Internet para estes fins.

O que motiva os relacionamentos online? Pode-se chamar a motivação AAA: “Accessibility, Affordability e Anonymity”. A Internet é de fácil acesso, os custos são relativamente baixos e o anonimato apresenta uma segurança que conforta quem faz uso da mesma para estes fins.

O aumento de conversas escaldantes e sexo virtual online despoletou também o repensar do significado do conceito de infidelidade. Se não há contacto físico ou ato sexual, mesmo assim trata-se de um caso - está-se a trair o(a) companheiro(a)? Efetivamente não se está apenas a comunicar com outra pessoa, mas há de facto um envolvimento de natureza sexual ou emocional. Pode não haver infidelidade em termos físicos mas há, claramente, um reconhecimento de uma infidelidade emocional.

 

Ana Teixeira


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10.11.13

 

Apesar de tudo, que bicho-de-sete-cabeças... Acredito mesmo que não exista tema tão antigo e tão transversal (no sentido de veículo garante de continuidade da espécie humana), que apresente tantos desafios e questões.

A heterossexualidade apresenta desafios. Quer a do próprio, quer a do outro (companheiro, amigo, vizinho, filho, pai e respetivos correspondentes femininos). A homossexualidade apresenta desafios. Mais uma vez, quer a do próprio quer a do outro (a juntar aos exemplos anteriores, a comunidade e a sociedade). Da bissexualidade, então, é melhor nem falar. E não se fala tanto desta porque é difícil até de a entender. Será por isso? Não sei... Uma vez alguém me disse, em contexto formativo no âmbito de Psicologia, que a natureza do comportamento sexual humano insere-se no princípio da busca do prazer. Até aqui tudo bem, penso eu e disto ninguém discordará. A masturbação dá-nos prazer, assim como o sexo com o outro. Não esquecer que mesmo para efeitos procriativos o prazer está presente. Tendo por génese o prazer, como elemento orientador do comportamento sexual, não deveríamos então ser nós bissexuais? Mais uma vez, não sei... A Grécia dos sábios filósofos e o império dos destemidos Romanos já lá vão...

O que temos hoje, então? Ou melhor, o que temos tido nos últimos dois milénios, então? Bem, se calhar temos uma “sexualidade judaico-cristã”. Nunca na história da Humanidade, a espiritualidade (e não religiosidade porque esta intrusão não é exclusiva dos correspondentes dogmas implícitos) tanto se imiscuiu no que se passa atrás de portas e por baixo dos lençóis. Infortúnio? Não sei... pela terceira vez. Afinal de contas o que é que eu sei?

1. Sei que a masturbação não cega ou faz crescer pelos nas mãos;

2. Sei que os primeiros a condenar tudo o que seja sexo são frequentemente os da linha da frente da hipocrisia;

3. Sei que nunca se viveu um tempo tão vergonhoso para algumas instituições sociais, educativas e espirituais, no que a escândalos sexuais diz respeito;

4. Sei que coisas como aceitação, equidade e “mente aberta” em relação à diferença normativa, são uma treta pegada (na generalidade da sociedade falando);

5. Sei que os casais gay/lésbico podem ser tão bons ou melhores pais/mães que alguns casais “tradicionais”;

6. Sei que ninguém tem alguma coisa a ver com o que se passa no quarto do vizinho, se o que lá se passar pautar pelo respeito e acordo mútuo;

7. Sei que o sexo e o ato masturbatório contribuem para o bem-estar físico e mental do indivíduo;

8. Sei que a homossexualidade não se apanha com abraços ou cumprimentos;

9. Sei que não deveria ser motivo de vergonha ter um filho gay;

10. Sei que a liberdade de escolha da orientação sexual é, neste país, uma escolha da liberdade;

11. Sei que, muitas vezes, é difícil falar de sexo com um filho;

12. Sei que a descoberta/utilização da parafernália de brinquedos sexuais existente mantém a sexualidade viva e de boa saúde;

13. Sei que se o meu sogro ler isto, não vai achar grande piada;

14. Sei que ter amigos gay não faz de mim cool ou cosmopolita e “aberto”;

15. Sei que ir a um “bar gay” não faz de mim... gay;

16. Sei que os meus filhos terão uma boa educação sexual, livre de preconceitos e informação errónea;

17. Sei que os meus filhos respeitarão a escolha, a liberdade e a individualidade da vida sexual de cada pessoa;

18. Sei que os meus filhos terão o seu espaço para descobrir a sua sexualidade e preferências na mesma;

19. Sei que os tabus sexuais são apenas fronteiras que ainda não foram, quando muito, abordadas;

20. Sei que o DSM IV-TR, da página 535 à página 582, não constitui uma verdade universal e indiscutível do que lá é tratado;

21. Sei que o sexo é BOM!

 

Rui Duarte


 

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8.11.13

 

Falar de sexualidade remete-me para uma viagem ao passado, recheada de episódios que me fazem chegar ao dia de hoje feliz por lhes ter sobrevivido. Entristece-me o quão cedo começou essa jornada na minha vida, o quão cedo o medo passou a ser a minha sombra – ou eu a sua, não sei bem. Não me lembro de ter dito sim uma única vez, de me terem dado a escolher entre aquilo ou brincar com as minhas bonecas mas, lamentavelmente, lembro-me de tudo o que não quero. Fui participante à força e tomada da mesma forma. Poupo os mais sensíveis dos pormenores feios, tristes, dilacerantes. Seja lá o que for que vos passe pela cabecinha, foi isso tudo, no mesmo pacote promocional. Digo apenas que ser criança e viver coisas de adultos é confuso, humilhante, rasga tudo por dentro, sobretudo o prazer genuíno de se ser criança e poder sorver o mundo sem medo de abraçar. Dói de tanto que dói.

Quem é pai, mãe, avô, tio ou convive regularmente com crianças pequenas sabe que há uma fase em que a simples visualização de um beijo entre duas pessoas adultas apaixonadas as faz, com um esgar de absoluta repulsa, dizer – e cito - “que nojo”. Para uma criança esse grau de contacto físico parece ofensivo e completamente desnecessário. Uma inocente manifestação de carinho causa repulsa mas a violência exercida sobre o corpo e a psique, que faz chorar a alma, é mil vezes pior. Descobrir em tenra idade que afinal os adultos são mesmo nojentos, que nos fazem descobrir funções da nossa anatomia que nunca imaginamos ter, que nos tocam de uma forma que faz doer e assusta, é viver entre bemóis e sustenidos de uma peça perversa, sem saber tocar um único instrumento. E sem duplos para as cenas perigosas. Aprendi cedo que os homens batem, massacram, torturam, mordem, gritam, choram. E que muita coisa pode durar anos a fio debaixo do olhar dos nossos protetores mas completamente fora do seu radar. Aprendi que o amor dói. Permiti que o silêncio que calou o grito da minha alma, albergasse durante décadas a minha sentida culpa sobre todos esses acontecimentos. O meu filtro masculino ficou finalmente conspurcado na sua capacidade de depurar. As mais doces palavras, o mais gentil dos sorrisos, o abraço mais caloroso, o maior “amor” do mundo, podiam ser todos parte de um falso cartão-de-visita de quem se anunciava apenas para, de seguida, entrar de rompante e varrer tudo à sua passagem.

No entanto, apesar de ter conhecido alguns espécimes masculinos que não recomendaria a ninguém, sempre senti uma certa urticária nas conversas rematadas com “os homens são todos iguais”. Recuso-me a acreditar na teoria de que os homens são todos desonestos, incapazes de viver em plenitude, com lealdade e em paz. Não posso dizer que sei o que é ser um homem e não posso opinar sobre a forma como se veem uns aos outros; mas sei o que é ser mulher. E, deste lado da barricada, afirmo sem qualquer hesitação que há mulheres e mulheres. Logo, há homens e homens. Há pessoas, formas de estar, de viver, de sentir o outro e a si próprio. E nenhuma dessas condições é apanágio de género, raça ou orientação sexual. Apesar das provas irrefutáveis da ciência que nos definem enquanto homens e mulheres, há valores como a lealdade que não estão circunscritos ao ADN masculino ou feminino.

Perguntaram-me uma vez como raio podia “defender” os homens quando a vida me havia mostrado que nenhum deles era “confiável”. Lenta e demoradamente, desfiz o claro equívoco. Em primeiro lugar, a amostra recolhida da minha história de vida não era suficiente para que eu considerasse todos os homens pouco merecedores da minha confiança. Em segundo lugar, a mesma vida que me tinha permitido viver tudo aquilo, também me havia brindado com a presença de bons homens, de almas que transcendiam a mediocridade do mundano e me tocavam, sem beliscar. Foi tudo isso que me impediu de amargar e desistir. Um dia conheci um homem que me mostrou, por A mais B, que alguém me podia amar, reciprocamente, com honestidade e paixão, durante anos a fio. Que me despiu sem violentar e me vestiu a alma, com um profundo carinho, quando os meus fantasmas insidiosamente a desnudavam. Um homem com quem eu não tinha de ter medo e viver em estado de constante alerta. Alguém para quem a fidelidade não era um dever mas sim uma escolha, a melhor de todas, quando se tem o melhor de tudo. Embora não estejamos juntos, estar-lhe-ei para sempre grata por me ter feito acreditar no amor até aos dias de hoje. Por isso, se homens me feriram, homens me salvaram da irreversibilidade autodecretada que dita o fim do amor e da esperança. Acredito que há homens e homens. Há mulheres e mulheres. Há pessoas magníficas no mundo, todos os dias feridas por gente para quem o centro do mundo é o seu próprio umbigo.

Não posso jamais afirmar que os homens são todos iguais porque devo a um homem o resgate da minha alma e a capacidade de continuar a sonhar. Devo a mais uns quantos homens a partilha genuína da amizade não adulterada e o restabelecer da confiança que purifica a pele e os afetos.

Escrevo hoje para esses homens, para que nunca deixem de ser quem são, para que tenham consciência do seu valor, mesmo que a vida também os magoe, aqui e ali. Obrigada por todos os dias me mostrarem que só vale a pena amar aquilo que não tem preço.

 

Alexandra Vaz


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5.11.13

 

Apaixonaram-se há anos… foi Amor à primeira vista… o sentimento foi tão forte, tão avassalador que não foi possível trilharem a mesma estrada em união. Cada um seguiu o seu caminho. Ainda se foram cruzando aqui e ali, mas cada um, no seu íntimo sentia o vazio do Amor. Cada um foi conhecendo outros pequenos amores ou parceiros… ele, um homem charmoso, conquistou as mulheres que quis e chegou a ter situações sexuais bem interessantes para recordar ou contar aos amigos. Ela, envolveu-se numa relação séria e estável, mas sem amor nem desejo. Até que naquele dia, numa noite de Lua Cheia que iluminou o destino, eles se encontraram de novo… abraçaram-se, beijaram-se e, à luz da lua, fizeram Amor. Boca com boca, corpo com corpo, coração com coração. Ele entrou nela com a força de quem esperou uma eternidade por aquele momento. Ela sentiu-se penetrada e sentiu que finalmente lhe entregava a última parte de si que faltava entregar: o corpo. Abraçaram-se em silêncio, tentando agarrar o tempo com cada toque, com cada olhar. Mas o tempo não se detém e escorrega pelas mãos. Chegou o tempo da despedida, de deixar o outro ir sem poder dizer “fica”, quando FICA era a única palavra que ansiavam ouvir e dizer. Não disseram. Não ficaram. Seguiram mais uma vez órbitas diferentes. Anos mais tarde, finalmente unidos, perguntei-lhes como tinha sido essa primeira experiência sexual… deveria ter sido ardente! Ambos se olharam nos olhos, sorriram com cumplicidade, e partilharam que o que tinha sido mais ardente, mais inesquecível tinha sido o abraço, já que nesse abraço sentiram a maior entrega, a mais forte união, a dança mais sensual… todo o passado de experiências sexuais interessantes em nada se comparava à sexualidade daquele primeiro abraço, porque nele, estava contido… o Amor!

 

Sara Almeida


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3.11.13

 

Surpreende-me que o sexo, que deveria ser inato e natural para todos, seja algo de estranho e artificial para algumas pessoas. Aceito que a instrução sexual seja necessária para que não confundamos os estames com os carpelos e para que saibamos animar uma boa conversa sobre gâmetas. Aceito ainda melhor que pais e escolas eduquem as crianças no sentido da prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e de gravidezes não programadas. A teoria é fundamental para o assentamento dos pilares de uma boa saúde sexual.

Mas e a prática? Quem ensina a prática? Sim senhor que há toda uma mobilização de energias no adestramento das mãos para o correto manejo dos talheres e do gosto para a adequada combinação de padrões no vestuário. Mas nada se ensina, pelo menos pelas vias oficiais ou de forma massiva, a respeito de um assunto tão fraturante como o ato de fazer amor. Nesta área estamos todos, uns mais do que outros, entregues à nossa própria sorte.

Estou convencido, para que se faça justiça, de que vão surgindo aqui e ali algumas formações avulsas sobre áreas específicas do tema, em jeito de workshops. Mas, regra geral, continuamos entregues à nossa sorte, mesmo em pleno século de modernidades. É claro que esta é uma necessidade mais própria de iniciados do que de experientes, se bem que há quem ande enganado toda a vida.

O que me leva à pergunta essencial: o que distingue um bom momento íntimo dos restantes?

Seria fácil dizer-se que, pela presença de prazer, todas as relações sexuais são boas. No entanto, nem sempre assim o é. (E, atenção, neste texto apenas estão contempladas aquelas em que há mútuo consentimento, dentro de uma sexualidade dita "regular", privada, não pretendendo entrar em especificidades de fetichismos, parafilias, dominações ou quaisquer outras). Vamos lá ver: que fatores intervêm na qualidade de uma relação? Para já, as variáveis físicas, tais como a energia muscular, os volumes, os encaixes, as pressões digitais, os odores, os estímulos visuais, um sem-número de outras cuja lista se tornaria fastidiosa. Depois, talvez as mais importantes, as psicológicas, tais como a educação, os preceitos morais, a entrega, a vontade, o desejo, a expetativa, a imaginação, a criatividade, a "magia" ou a "química", a comunicação, a leitura do outro, a perceção, a experiência, os afetos, eu sei lá… Tantas. Uma das que mais pode contribuir para um eventual flop é a expetativa: conceber cenários imaginários de que será assim ou de que acontecerá assado, é meio caminho andado para correr tudo ao contrário. Outra é a inexperiência: que "escola" tem um iniciado senão a do instinto e a do bom senso? Tem a teoria, que já é muito bom, mas àquela primeira vez daria muito jeitinho alguma prática. Mas como uma das melhores coisas desta vida é a aprendizagem, também nas relações sexuais a natureza nos incumbiu do papel de nos irmos melhorando, superando e inovando.

Sobre este tema pode falar-se inesgotavelmente: há tantas questões que podem ser levantadas, como por exemplo, (1) que importância assume a atividade sexual na vida dos casais ou (2) o que fazer quando o desempenho sexual não é satisfatório ou (3) por que razão persiste ainda a conversa sobre sexo numa espécie de limbo clandestino, fenómeno que graça para além do público, entre portas e mesmo debaixo de lençóis? A melhor maneira de quebrar tabus, de vencer receios, de aprender e de beneficiar a vida íntima e afetiva é a comunicação. Conversar, discutir, debater, colocar em perspetiva, é o caminho menos sinuoso para a construção de uma sexualidade mais plena. A saúde das relações agradece.

 

Joel Cunha


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1.11.13

 

Ouvem-se as pancadinhas de Molière, as pesadas cortinas de veludo vermelho sobem, as luzes quentes e brilhantes iluminam o palco de madeira e é então que entra a primeira personagem:

 

É inegável o seu poder de atração, de sedução, de encantamento... a plateia fascinada fixa cada movimento, cada gesto, sugando cada pormenor suspira deslumbrada. Os seus gestos despertam e impulsionam o desejo em cada um de querer mais… de tocar, de mexer, de penetrar...

- Sensualidade! - diz com uma voz embriagante, viciante.

E com a atenção totalmente recaída sobre si, abandona o palco acompanhada por um suspiro de luxuria coletivo.

 

Com passos firmes e confiantes, outra personagem entra em cena, e berra em plenos pulmões:

- Sexualidade!

Descreve com traços rasgados as suas preferências, confidencia as suas predisposições, sem pudor revela a sua identidade sexual. Todo o seu corpo emana uma energia poderosa que se reflete em todos os seus poros, traduzindo uma expressão, uma vontade, uma necessidade física não deixando qualquer dúvida, o desejo de contacto é total!

 

Vazio mas por pouco tempo, no palco aparece uma personagem desnudada, de olhos libidinosos e boca lasciva. De uma forma explicitamente carnal entende-se de imediato que procura copular com a finalidade de atingir a satisfação, o orgasmo.

- Sim! Relações Sexuais!

O Público manifesta a sua total incompreensão, a falta de entendimento da necessidade de recorrer a varias personagens, que representam e significam a mesma coisa. Mas será que significam? Aos olhos dos leigos até poderá ser, a nível científico provavelmente haverá distinções. As semelhanças e proximidade não significam que sejam a mesma coisa.

 

Quando no final se reúnem, no palco, todas juntas para os agradecimentos finais, aí sim… as diferenças são notórias!!!

 

Susana Cabral


Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 07:00  Comentar

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