28.6.12

 

Quero… quero mesmo viver a minha vida virtual…

Que piada tem esta minha vida sem sal: casa-trabalho, trabalho-casa; relação já sem sentido, filhos que não me dão valor; dinheiro curto e poucas possibilidades de mudar…

Nos jogos realizo-me: casa grande, relações fáceis, trabalho o que eu quero, como quero e quando eu quero, tenho filhos ao fim de alguns minutos e, caso eles “desapareçam” consigo não sofrer.

Passo horas a criar realidades que gostava de ter/ser… Passo horas, dias e meses alheada nesta vida tão boa que me faz deixar a minha à espera… Deixo de viver realmente para viver virtualmente. E custa tão menos…

É fantástico conseguir assistir ao nascer, desenvolver, relacionar, trabalhar, envelhecer, morrer sem sofrer… tudo em questão de horas… É fantástico poder andar com o tempo para frente naquelas horas “mortas”: horas em que se dorme, horas de trabalho…

E importa suprir as necessidades: fisiológicas básicas, de segurança, social… tudo direitinho como na pirâmide de “Maslow”… É simples e fácil! Sem ilusões ou complicações, tudo se desenvolve da forma que eu quero…

E o físico? Fantástico! Nunca gorda ou “celulitosa”; sempre em forma e apetitosa! Looks variados, olhos e cabelos de cores não reais, guarda-roupa sem limite monetário e de criatividade! Magnífico!

Posso? Posso deixar de viver a vida e afundar-me no virtual? Posso?

Mas será que isso é viver? Ou sonhar? Ou simplesmente alhear?

 

Ana Lua


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25.6.12

 

Vamos considerar aqui a realidade como sendo uma construção individual, subjetiva, da imagem de uma coisa ou ato que se transforma numa ideia. Isto é, à imagem do objeto é dada uma interpretação, um sentido.

Nesta lógica, a realidade é virtual, é uma ideia. O passado e o presente vividos não são senão um filme adulterado pelos preconceitos, crenças e valores individuais incutidos. As lembranças são vivências imaginadas e em nadas reais, e no entanto, muito reais para o sujeito que as sente. Vivemos virtualmente num mundo concreto, intangível, uma realidade fenomenológica.

É habitualmente referido que as patologias da personalidade identificam-se através de padrões persistentes e duradouros de comportamento. Sinalizadas por reações inflexíveis a situações pessoais e sociais. Representam desvios extremos ou significativos das perceções, dos pensamentos, das sensações. Os vários tipos de patologias implicam padrões estáveis e que englobam múltiplos domínios do comportamento e do funcionamento psicológico. Habitualmente estão associados a grande sofrimento subjetivo e a comprometimento do desempenho social de forma severa.

Karl Jaspers (1883-1969) refere que o indivíduo psicopatológico não se distingue na sua essência das outras pessoas. Isto é, ontologicamente, não há qualquer diferença entre os sujeitos. Ambos os tipos existem e são produto do mundo e coexistem com a sua consciência individual.

Onde está a linha que separa o normal do patológico? Porque que é que uns têm o direito de condicionar, limitar e redefinir a vida de outros apenas porque não encaixam na sua verdade? Não seremos todos nós psicóticos em vários níveis e estádios. Não confundir com psicopatas, embora muitos dos nossos políticos e gestores de topo apresentem traços de psicopatia.

Claro que toda esta psicopatologia convencional explica-se porque quem avalia “acha” que determinado indivíduo não encaixa nos padrões estabelecidos. Não concorda o leitor comigo que, em última instância, se trata de formas de violência e exclusão?

Refere-se que se verificam desvios significativos da perceção, dos pensamentos e das sensações. E, diria eu, qual é o problema? Temos todo o mesmo nível de perceção? Como sei eu qual é o tipo de perceção que tem o meu amigo?

Por outro lado, estas alterações parecem causar grande sofrimento para o próprio e para os outros. Com certeza! A sociedade não está preparada para aceitar a diferença nessa dimensão e muito menos tem os recursos que possibilite a coexistência entre indivíduos diferentes. Começamos agora a viver numa sociedade multicultural e multirracial. Quando teremos uma que considere todas as dimensões do ser diferente? Precisamos urgentemente de novos modelos de saúde mental.

Assim, finjamos todos que a nossa realidade ainda se encaixa no padrão, e se for difícil e se sentirmo-nos diferentes, então convém fingir ainda mais e mentir com mais afinco porque podemos “acordar” numa ala de psiquiatria. Afinal a nossa realidade não existe, é apenas produto da nossa consciência, é apena virtual.

 

Ana Teixeira


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21.6.12

 

Tenho-me referido inúmeras vezes ao impacto que a evolução tecnológica tem provocado nas relações afetivas, bem como às vantagens e desvantagens de algumas ferramentas. De um modo geral, aquilo que escrevo é o reflexo daquilo a que vou acedendo no consultório, em particular às queixas das pessoas com quem trabalho. Mas há um lado desta revolução cibernética que ainda não foi aqui explorado e que diz respeito às próprias consultas. Se até há relativamente pouco tempo o acompanhamento de um psicólogo estava reduzido ao espaço de um gabinete, agora as alternativas globalizaram-se.

Hoje é possível que um português residente numa localidade onde não haja um serviço de Psicoterapia possa realizar estas consultas sem ter de se deslocar a um centro urbano. Se pensarmos no que é possível poupar no que diz respeito às deslocações, já é possível antecipar algumas vantagens.

Mas esta possibilidade é ainda mais vantajosa para uma fatia específica da população – os emigrantes. Já imaginou como se sentiria se tivesse necessidade de recorrer a um psicólogo que não falasse a sua língua materna? A verdade é que por maior que seja o nosso conhecimento de uma segunda língua, é-nos muito mais fácil organizar os nossos pensamentos e as nossas emoções ao falarmos na nossa própria língua. Por outro lado, sentimo-nos invariavelmente mais acolhidos.

Em termos clínicos também é possível identificar um público-alvo para quem esta modalidade pode ser, pelo menos no início do tratamento, a melhor opção:

 

Os pacientes que sofrem de agorafobia

e que têm medo de sair de casa.

 

Ou aqueles que se sintam demasiado inseguros

para se encontrarem fisicamente com um psicólogo.

 

Pode parecer ridículo, já que a existência de uma fobia deveria servir exatamente para que a pessoa se sentisse motivada para dar esse passo mas a verdade é que os medos podem ser assustadoramente incapacitantes e, sem esta alternativa, algumas pessoas vivem aprisionadas durante anos.

 

COMO FUNCIONA?

 

O Skype é o programa informático mais utilizado nas consultas online. Trata-se de um software que permite a videoconferência com níveis de qualidade acima da média e que tem a grande vantagem de permitir fazer chamadas – de voz e imagem – gratuitas de um computador para o outro. De resto, as consultas têm normalmente a mesma duração e a mesma frequência do que as consultas presenciais. Para algumas pessoas a videoconferência tem a mais-valia de poderem olhar mais proximamente para o rosto do terapeuta (que, por motivos óbvios, está perto da câmara e, por isso, virtualmente mais perto do paciente).

É lógico que também existem desvantagens associadas a esta alternativa e importa que fique claro que a primeira opção deve ser o acompanhamento psicoterapêutico presencial. Ainda que existam ferramentas cada vez mais evoluídas, nada substitui os recursos inerentes à comunicação cara a cara. Quando um terapeuta conversa presencialmente com um paciente tem oportunidade de dar atenção não apenas à comunicação verbal, mas também a todos os gestos e outros elementos que compõem a comunicação não-verbal. E qualquer psicólogo reconhece a importância destas questões, subtis e tantas vezes impercetíveis ao olhar de um leigo.

Por outro lado, as consultas online envolvem mais riscos em termos da fiabilidade do serviço que está a ser prestado, pelo que, mais do que nunca, é fundamental que quem procura esta alternativa se certifique de que está a recorrer a um profissional experiente e qualificado. De resto, em caso de dúvida, a Ordem dos Psicólogos Portugueses permite atualmente verificar se determinado profissional se encontra ali inscrito.

Tal como acontece na terapia presencial, as consultas são marcadas previamente, pelo que há um horário predefinido. Ora, importa que, a essa hora, o paciente possa certificar-se de que estará num local com acesso à Internet e que haja garantias de que a sessão decorrerá sem interrupções. Escusado será dizer que a realização destas consultas não deve ocorrer enquanto o paciente estiver no seu local de trabalho, sob pena de não estarem reunidas as condições de privacidade. Em casa também é fundamental que o paciente esteja suficientemente confortável, sem a pressão de ter de dar atenção – naquela hora – aos compromissos familiares.

 

Cláudia Morais

www.apsicologa.com


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18.6.12

 

Quando surge a palavra virtual geralmente pensamos, de imediato, em computadores, em informática, em Internet, em mundo paralelos criados pela tecnologia, num futuro cheio de luzes a piscar e de écrans de alta definição cheios de movimento, em 3D, em 4G, em todas as parelhas possíveis de número e letra. Olhamos para o virtual com algum fascínio e com alguma retração, receando não sermos capazes de acompanhar tanta mudança e tão rápida.

Mas procuremos o que significa a palavra “virtual”. Simplificando, virtual significa o que não é real, embora possa, eventualmente, vir a sê-lo. Daqui poderemos concluir que muito do que a tecnologia nos trás, afinal, é real e não virtual. Por outro lado, muito do que está fora da tecnologia, muito do que nada tem a ver com ela, é virtual.

Alguns dos dramas do ser humano ligam-se ao virtual, mas não à tecnologia. Muito do sofrimento humano provem de a pessoa se desligar da realidade circundante, por não a perceber, por não a aceitar, por não saber/conseguir lidar com ela. E este afastamento da realidade pode mesmo atingir níveis patológicos.

Mas será um erro pensar que o afastamento da realidade, a existência num mundo virtual se passa apenas ao nível da pessoa, do individual. De facto, a sociedade, como conjunto, por razões diversas, nomeadamente culturais, económicas ou políticas, produz mundos virtuais. Proponho a reflexão sobre duas dessas produções, na sociedade portuguesa. A primeira delas tem razão financeira/política e consistiu em andarmos, durante algumas décadas, coletivamente convencidos de sermos ricos, de que tudo estava ao alcance de todos sem ser necessário trabalhar, sofrer, gerir. A segunda tem razão cultural e consiste em termos distorcido o conceito de boa educação ao ponto de termos criado um antagonismo entre esse conceito e a palavra “não”. Em termos práticos este antagonismo impede-nos de dizer “não”, para não sermos mal-educados.

Na prática:

- A menina, num corredor do shopping, propõe a marcação de uma consulta gratuita para verificar o estado dos meus dentes. Eu, apenas para não ser mal-educado, sobre tudo porque a menina está a trabalhar, marco a consulta, embora não faça a menor das intenções de lá por os dentes. E se telefonarem na véspera a pedir confirmação, eu digo logo que sim, para não parecer mal-educado, até porque esta menina também está a trabalhar. Faltar a uma consulta, depois de a confirmar, tirando a vez a outra pessoa e desperdiçando o tempo de quem, por estar a trabalhar, fica à minha espera, não é má educação – é...

- Os meus pares, num grupo a que pertenço, pedem a minha colaboração, o meu trabalho, o meu contributo para levar a cabo uma tarefa. Eu, para não ser mal-educado, até porque aquilo é gente do melhor, empenhada e esforçada, digo logo que sim. E vou confirmar o meu esforço e contributo as vezes que for necessário, sempre em grande euforia. Claro que vão acontecer oitocentas e quinze coisas “de loucos” que vão ocupar-me por completo e deixar-me cansadíssimo e vão impedir-me de fazer o que prometi, deixando toda a gente pendurada e, eventualmente, com o prejuízo de alguém. Eu até posso não voltar a lá por os pés e não ver mais aquela gente (no fundo uns chatos fundamentalistas), mas por mal-educado é que eu não passo. Má educação teria sido dizer “não” quando solicitaram o meu contributo e isso, comigo, nunca.

 

Agora e para terminar, juntemos a mania coletiva de sermos ricos e este conceito distorcido de educação que nos impede de dizer “não”. Juntemos mais ingredientes. Temos Portugal versão 2012, encravado entre o virtual e o real.

 

Fernando Couto


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14.6.12

 

É OFICIAL: os adolescentes portugueses são utilizadores cada vez mais assíduos do Facebook. Consultam a página várias vezes por dia, partilham textos e fotografias – quer a partir do PC, quer a partir do telemóvel ou de outros gadgets – e são particularmente sensíveis às reações dos amigos. Mais: em muitos casos, há praticamente uma dependência dessas reações. A cada post surgem níveis de ansiedade mais ou menos elevados, relacionados com a necessidade de obter feedback do grupo de pares, tal como acontece noutras formas de dependência. Os “gostos” e os comentários positivos acarretam picos de bem-estar que são naturalmente muito transitórios (ainda que viciantes) e a ausência de reações e os comentários negativos implicam um vazio muito semelhante ao que os aditos sentem na ausência do seu vício. Pontualmente há até situações de aparente desespero.

Na medida em que esta é a rede social mais utilizada em Portugal, o Facebook pode servir – e serve, infelizmente – como plataforma para a disseminação de boatos e/ou para algumas formas de bullying. Como a adolescência é a fase do ciclo de vida em que aquilo que os outros pensam ou dizem de nós tem maior peso, qualquer rumor ou falsa acusação se transforma rapidamente num “facto” difícil de desmentir. Nessas alturas é provável que o adolescente atingido se sinta profundamente desesperado e procure fazer o que estiver ao seu alcance para repor a verdade – ainda que isso implique duplicar ou triplicar o tempo em frente ao ecrã e haja perdas em termos da concentração que os afazeres académicos exigem.

 

Para a generalidade dos pais os problemas

prendem-se maioritariamente com o

TEMPO QUE O FACEBOOK ROUBA ÀS RESPONSABILIDADES ESTUDANTIS.

 

E como a maioria das famílias portuguesas é composta por casais de dupla carreira que dificilmente têm tempo para acompanhar os filhos tanto quanto gostariam, a monitorização resume-se muitas vezes à avaliação escolar. Por outras palavras, ainda que haja algum desacordo em relação ao tempo gasto no Facebook, se as notas se mantiverem estáveis, a tolerância é normalmente grande. Pelo contrário, se as notas baixarem o Facebook surge como oportunidade de castigo - “Olha que te tiro o computador!”

Tal como tenho referido aqui algumas vezes, as crianças e os adolescentes aprendem e mudam maioritariamente incentivados por esquemas de recompensas, mais do que com ameaças de castigos, e é fundamental que cresçam capazes de valorizar os benefícios que tantas vezes são dados como adquiridos. Se a utilização do Facebook é um bem adquirido, que sentido fará ameaçar o seu filho com a retirada do computador? Pelo contrário, parece muito mais razoável a ideia de cada benefício constituir uma conquista. Isto é, compete aos adultos (interiorizarem e) transmitirem a mensagem de que este benefício (tal como outros) só existe(m) na condição de as responsabilidades serem cumpridas. Aí sim, fará sentido retirar o benefício em caso de incumprimento. Parece complicado mas não é. Afinal, a maior parte dos pais só acede ao seu ordenado (benefício) na medida em que trabalhar para isso (responsabilidade) e a regra pode e deve vigorar também em termos familiares.

Independente disso, não será razoável esperar que um adolescente seja sempre capaz de dosear a atenção que é dada ao Facebook. A verdade é que até para nós, adultos, é muitas vezes mais fácil cair na tentação de ir espreitando os respetivos murais e, sem darmos conta, prejudicarmos os nossos deveres profissionais.

 

Quantas vezes deu por si a pensar

É só mais esta vez. Vou ver se tenho alguma notificação e fecho logo a janela.”?

E, entretanto, passa uma hora até que volte ao que estava a fazer…

 

A maior parte dos adolescentes já passou pelo mesmo. Perante a necessidade de elaborar um trabalho para a escola, abre o Word, atribui um título ao documento, escolhe o tipo de letra e… faz uma pausa para “espreitar” o seu mural. Uma hora depois volta ao documento de Word e escreve qualquer coisa. Mas bastar-lhe-á a necessidade de pesquisar alguma informação na Wikipedia ou noutra página qualquer para voltar a sentir o apelo do Facebook. Além das dificuldades óbvias de concentração, pode ser difícil retomar o trabalho académico se houver algum retorno negativo. Nenhum adolescente será capaz de continuar a estudar ou a concretizar um trabalho se estiver preocupado com o que está a ser dito sobre si na rede social do momento.

 

A estas dificuldades acrescem outras, relacionadas com a DICOTOMIA PRIVACIDADE/ EXPOSIÇÃO.

 

Se é verdade que muitos adultos fazem escolhas conscientes que traduzem as suas próprias convicções em relação ao que deve ser partilhado online e ao que deve manter-se privado, também é um facto que a maior parte dos adolescentes não tem ferramentas que permitam que o discernimento se sobreponha ao impulso. Nesse sentido, existem demasiados exemplos dos riscos, desnecessários, que decorrem de algumas escolhas.

 

Por exemplo, a maior parte dos pais desconhece

as definições de privacidade associadas à utilização

que os filhos fazem do Facebook.

 

Alguns têm a preocupação de, aquando da criação da conta no Facebook, reivindicar que aquilo que é publicado no mural dos filhos seja partilhado apenas com os amigos. Ora, isso é nivelar por baixo, na medida em que, por exemplo, somos confrontados diariamente com a possibilidade de os nossos adolescentes aceitarem amigos que, na realidade, não conhecem (e que podem não ser propriamente adolescentes como se apresentam). Além disso, o próprio Facebook está constantemente a mudar e com ele mudam as definições de privacidade. Infelizmente, é muito fácil para um adulto mal-intencionado aceder a informações tão específicas quanto o nome da escola ou a turma em que um adolescente estuda, os seus hábitos, as suas rotinas, os seus interesses ou os lugares por que habitualmente circula.

 

Quantos pais conseguem explicar aos seus filhos como podem alterar as definições de privacidade de modo a impedir que as fotografias em que estes são identificados por amigos (e não apenas aquelas que os próprios publicam no respetivo mural) sejam vistas por desconhecidos?

 

Quantos pais criaram já regras claras a respeito daquilo que esperam que seja uma utilização responsável do Facebook (por parte dos adolescentes)?

 

As respostas ajustadas aos desafios identificados até aqui não passam por tentar impedir que os adolescentes utilizem o Facebook. Esta é uma plataforma que faz parte dos dias de hoje e somos nós, adultos, que temos de nos ajustar aos desafios que a modernidade oferece. Não sendo fácil (para ninguém) travar a força associada a tantos estímulos e solicitações, a resposta começa, evidentemente, pela modelagem. “Faz o que eu digo e não o que o que eu faço” pura e simplesmente não funciona, pelo que O EXEMPLO TEM DE PARTIR DOS PAIS. Se um adulto procrastina diariamente à conta da utilização do Facebook ou de outro “vício” qualquer, os riscos são maiores. Depois é preciso que cada pai ou mãe dê o seu melhor no sentido de se inteirar dos recursos que a própria rede social oferece. Isso também passa por mantermo-nos atualizados acerca das regras e das definições do Facebook. E há ainda a necessidade de criar regras que devem ser ajustadas a cada família e que devem ser muito claras. Aos pais não compete serem polícias capazes de controlar cada passo que os filhos dão online. Mas compete serem suficientemente responsáveis para incutir liberdade com responsabilidade – e isso pode implicar, por exemplo, que os pais sejam amigos dos filhos na rede social (sim, os filhos odeiam!), ou que fique claro que, de vez em quando, os pais vão pedir aos filhos para mostrarem os seus murais, ou que os pais conheçam a password dos filhos e que estes saibam que pontualmente os pais farão login em nome dos filhos para fazer a tal monitorização (isso não os autoriza a bisbilhotar sorrateiramente). Na prática, estamos a falar de confiança com supervisão.

Há uns tempos uma mãe mostrava-se preocupada porque entrara no Facebook do filho (sem que este soubesse) e viu uma fotografia publicada por um amigo em que o filho (de 12 anos) aparecia ao lado de um colega com uma cerveja na mão. Alarmada, não sabia como confrontar o filho com esta informação, já que, ainda que a sua preocupação fosse legítima, acedera à tal fotografia de forma ilícita.

A adolescência é a fase em que os filhos lutam arduamente pela definição clara da sua individualidade e isso implica que queiram muitas vezes distanciar-se das convicções e dos hábitos dos pais. Mas há demasiados riscos associados à inexistência de regras claras a propósito daquilo que os pais esperam que sejam comportamentos responsáveis dos filhos. Se as regras forem do conhecimento de todos, se estiver claro o que é que os pais vão fazer para monitorizar esses comportamentos, ninguém se sentirá invadido ou amedrontado e a probabilidade de existirem conflitos sérios diminui.

Apesar de ser crucial que cada família elabore as suas próprias regras, deixo algumas sugestões:

 

SEJA PROATIVO. Mesmo que as novas tecnologias não o atraiam, é fundamental que dê o seu melhor para conhecer o Facebook e estar a par dos desafios que os seus filhos enfrentam diariamente.

 

NÃO DÊ LIÇÕES DE MORAL NO FACEBOOK. Deve ser capaz de definir de forma clara aquilo que espera do seu filho mas isso não legitima que as suas chamadas de atenção cheguem ao Facebook. Se o adolescente falhar no que diz respeito aos trabalhos de casa, estudar para os testes ou outra responsabilidade qualquer, a questão deve ser resolvida offline.

 

DÊ ESPAÇO. O seu filho está na fase da autonomização. Não o “humilhe” publicamente partilhando fotografias dele em bebé nem esteja permanentemente a comentar os seus posts. Os adolescentes não vão ao Facebook para interagir com os pais.

 

CRIE UMA HORA DE SAÍDA DO FACEBOOK. Os adolescentes precisam de limites muito claros. Sendo cada vez maior o número de menores com acesso permanente ao Facebook através do telemóvel, é crucial que haja um plafond para o acesso às redes sociais (e o plafond deve incluir o tempo passado em frente ao PC, bem como o tempo gasto através da utilização do telemóvel). Além disso, explique em que alturas não é aceitável que o seu filho esteja ligado ao Facebook (nas aulas, por exemplo).

 

ACEDA, DE VEZ EM QUANDO, AO MURAL DO SEU FILHO. Lembra-se daqueles professores que, no início do ano letivo, avisavam que, de vez em quando, fariam testes surpresa? A ideia é mais ou menos essa. Periodicamente será importante verificar a que páginas é que o seu filho tem feito “Gosto”, com quem tem interagido, o que é que tem apagado… Sempre que for possível, faça-o à frente dele.

 

VOCÊ É QUE MANDA. Deve estar claro que o seu discernimento é uma mais-valia, pelo que pode acontecer que aquilo que o seu filho identifica como inócuo implique, aos seus olhos, alguns riscos. Não imponha a sua vontade de forma ditatorial – explique, de forma clara, por que considera que é preferível bloquear determinado amigo ou aplicação.

 

CONVERSE SOBRE O FACEBOOK… FORA DO FACEBOOK. Procure conhecer as preocupações e aquilo que entusiasma o seu filho no Facebook. Não espere muito – os adolescentes não contam quase nada aos pais – mas crie condições para que o seu filho saiba que pode contar consigo. Isso é fundamental para que ele não entre em pânico se alguma coisa correr mal.

 

Cláudia Morais

www.apsicologa.com


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11.6.12

 

Mundo para lá do mundo. Mundo onde ninguém se toca mas onde, ainda assim, se estabelecem relações e afetos. Mundo onde se é o que se quiser ser. E onde facilmente se esquece que o mesmo se pode passar do outro lado do fio. Onde ser é apenas um conjunto de caracteres no teclado e, olhar para dentro, nem sempre significa profundidade. Às vezes, é só o mergulho no vazio. A fuga à vida, ao calor, ao sorriso que chega acompanhado de uma voz, de um olhar, de uma mão que se entrelaça na nossa.

No mundo virtual vive gente como nós. Gente que ama. Gente que está só. Gente que tem medo de ser gente. Gente destemida, eufórica, com dúvidas. Gente que se camufla de outras gentes. Gente que hipoteca a vida na roleta russa da cibernética. O mundo virtual tornou tudo ao alcance de uma mão: o bom e o menos bom. Há quem encontre o equilíbrio entre o real e o virtual; mas também há quem abdique da vida de todos os dias e se transfira, por inteiro, para uma segunda existência feita de nada. Os dias deixam de fazer sentido, as pessoas querem-se longe, vive-se apenas aquele momento, com dedos no teclado e a alma aos pulos. Desliga-se o fio-de-terra.

Do mundo virtual transfere-se gente muito boa para a vida a sério. Gente que se torna amiga, que passa a caminhar connosco; é tão boa essa caminhada que esquecemos a origem da estrada. Sentimos que são pessoas que vieram para ficar. De onde viemos, já não interessa. Só interessa tudo o que ainda temos para viver juntos. E, tal como na vida real, também se cruzam connosco almas de que fugimos a sete pés: neuróticos e/ou psicóticos militantes, mesquinhos e pequeninos, vulcões facilmente atiçados e carregadinhos de más disposições como lema de vida. Há de tudo.

A vida virtual pode ser carrasco ou ferramenta. Meio de comunicação, de conhecimento ou de isolamento. Um complemento ou o elixir vital. Pode ser o que quisermos que seja.

E tu, que vida vives, afinal?

 

Alexandra Vaz

 

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7.6.12

 

Considerar que podemos ser outra pessoa num mesmo dia tem muito que se lhe diga. E conseguir distinguir os momentos desse dia em que a vivência é, mais ou menos virtual, também. Frequentemente, para entendermos do que se fala temos de pensar no seu exato oposto. Aceitemos a dicotomia “virtual – real”. Parece-me à primeira vista que poucos terão dificuldade em separar e delimitar estes opostos. E de uma forma geral, hoje em dia, associamos o “real” ao palpável, físico, material, e o “virtual” ao universo da informática ou da Internet.

Apesar de reconhecer esta visão contemporânea das coisas, tenho-a como insatisfatória. Como em parte acima referi, a linha que separa estes dois aparentes opostos é muito ténue. E refiro-me, evidentemente, ao que à vida (existência) diz respeito. Tal como alguém anteriormente disse, se eu penso, eu existo. A partir daqui permitam-me continuar; se eu existo, então eu sou. Se eu sou, então eu vivo. E se eu vivo, então eu sou real. Contudo, o pensar (que me permite em último caso ser real), não é palpável, físico ou material. O seu resultado final assim pode ser, mas o pensamento e a ideação em si, nunca o são. Então, o pensamento, que me permite ser (e ser real) é virtual? Se assim for, o “real – virtual” não é uma oposição, mas sim uma linha infindável de continuidade entre os dois. O virtual permite o real, que eventualmente será o instrumento para um outro virtual. E isto porquê? Porque o real leva-nos a pensar.

Ora bem. Pensando então nisto, chego à conclusão mais óbvia. Isto é tudo muito complicado... A minha existência diária é regulada pelo real e pelo virtual (considerando o real como algo que existe de facto e o virtual como algo que potencialmente existe). Simultaneamente. Devido a esse facto, quando é que eu posso considerar que o que sou é real, ou então virtual, em dado momento? Mais uma vez parece-me que não os podemos dissociar ou polarizar. Sou carne e pensamento. Ação e ideação. Existo de facto e tenho a potencialidade de ser o que ainda não sou. Por consequência, tudo o que faço e experimento é real e virtual. SOU eu quando aperto a mão a alguém na rua, e SOU o mesmo eu quando o meu avatar aperta a mão a outro no ciberespaço. Sendo assim, faz sentido falar em vida virtual e em vida real? Não. O que acontece atualmente é que ao contrário do que acontecia há bem pouco tempo, o que SOU pode exprimir-se (exprimir-me) em diferentes realidades. Reais e virtuais...

 

Rui Duarte


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4.6.12

 

A vida de cada um é um mistério para os demais. Por mais próximos que sejamos de alguém, há todo o resto do icebergue que se esconde por debaixo da ponta visível.

Cada um de nós é um mecanismo extremamente complexo e secreto que até nos conseguimos surpreender a nós mesmos em determinadas situações.

O rumo que cada um dá à sua vida é o resultado de uma série de condições, algumas herdadas outras fabricadas, que remetem o livre arbítrio para um recôndito lugar do imaginário: ninguém é realmente livre de escolher seja o que for.

Limitamo-nos a ondular ao ritmo de uma maré que se rege por regras muito próprias e que governa tudo aquilo a que designamos de existência.

Como se fosse essa a verdade única e incompreensível.

E passamos a vida a tentar compreender essa verdade, como se fizesse alguma diferença sermos algo mais que ondulantes criaturas, felizes com a nossa ignorância.

Se a vida é um conjunto dinâmico de acontecimentos que se sucedem uns aos outros, num determinismo vedado ao conhecimento dos seres, por que razão quereria o Homem ser diferente dos restante animais, vegetais e minerais? Para quê querer compreender o todo se, de tão pequenos que somos, apenas funcionamos numa ínfima parte desse todo? Para quê julgarmo-nos importantes se apenas pertencemos à engrenagem?

Percebo que a compreensão de algo funcione no sentido de controlar ou dominar esse algo. No entanto há que reconhecer certos limites, nomeadamente aqueles para os quais a natureza não forneceu ferramentas de compreensão.

Mesmo que encontrássemos uma explicação credível para a existência, nunca a poderíamos chamar de real ou verdadeira. Não só porque não seria real nem verdadeira para todos os seres enquanto conceito, como tão-pouco o seria no mesmo tempo e espaço.

E então tomamos a parte pelo todo, num logro coletivamente consentido, convencidos de que compreendemos e dominamos a existência, que decidimos tudo dela e que somos donos da nossa governação, do rumo da nossa vida.

E então damos importância vital a aspetos vitais, tão inúteis e ridículos.

E então gastamos a nossa tão pequena existência em tão pequenas existências, algumas mais importantes que a própria vida.

Mas então apercebemo-nos que de tão nada que somos, fazemos toda a diferença nos "nadas" mais próximos e nos "nadas" seguintes aos próximos… como uma equação de base exponencial que multiplica "nadas" por outros "nadas", resultando num "todo", num real imaginário do qual não conhecemos nada.

Somos compostos de matéria viciada em permanente fermentação. Deixamo-nos levedar na esperança de fazermos alguma diferença nessa verdade coletiva. Fomos nela colocados para que dela saiamos mais tarde sem dela levar nada, para lhe entregarmos os nossos "nadas".

 

Joel Cunha

 

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31.5.12

 

Ninguém ignora, mesmo no mundo mais remoto, que existe uma caixa que dá acesso ao mundo virtual, mesmo que a grande maioria desconheça o que seja isso do virtual, fantasiando filmes do século passado em que no virtual as pessoas se teletransportem à velocidade da luz, ignorando as leis da física.

Porém, todos sabemos, com a ideia mais ou menos precisa, que esse mundo está lá, por detrás do ecrã.

Esse mundo virtual é incrível, gostemos dele ou não. Incrível, como através dele se pode chegar, não por teletransporte, mas virtualmente, a todo o mundo e a todos os povos, a que este mundo virtual tenha já chegado. Incrível poder ver com os meus olhos as paisagens que nunca pisei. Incrível, poder falar com alguém e vê-lo simultaneamente, mesmo que nunca me tenha cruzado fisicamente com essa pessoa. Incrível, poder consultar através de um clique, milhares de dados, que demoraria dias numa biblioteca tradicional. Incrível, chegar mais longe num minuto, do que todos os quilómetros que fisicamente posso fazer em horas ou dias. Sim, o mundo virtual parece incrível. Incrível, quando através de uma mensagem se mobiliza a solidariedade das pessoas. E como essa mobilização permite que num dia, se consiga, por exemplo, criar um fundo para ajudar alguém, ou até arranjar um dador compatível para salvar a vida de outrém. Incrível esta comunidade virtual. Que mais não é que uma réplica da comunidade real, a uma velocidade, no entanto, diferente, num contexto espácio-temporal diferente. Mas, como não há cara sem coroa, este mundo incrível é, por sua vez, um mundo que pode ser assustador. Assustador como alguém pode facilmente chegar à nossa intimidade através de usurpação dos nossos dados. Assustador, como uma criança no aparente conforto e proteção do seu lar, pode ser vítima de abuso e violência, aliciada, molestada por um pedófilo, ou até a sua intimidade traficada. Incrivelmente assustador! Mais uma vez, nada que na comunidade real não suceda, mas tendo em consideração que os ritmos e as oportunidades de tais atos, sejam eles incríveis ou bárbaros, sejam de si diferentes, e camuflados por uma invisibilidade assumida!

O mundo virtual tem as suas vantagens e desvantagens! Pode ser facilitador, aproximador, pode ser perigoso, também! Comunicar é transversal ao ser humano, seja de que modo for! Deste modo, o mundo virtual ajuda a estar mais próximo daqueles que estão distantes fisicamente. No entanto, a mensagem de proximidade e companhia é ilusória, mesmo que comuniquemos bastante pelo mundo virtual.

Não posso ignorar a importância do mundo virtual na comunicação, mas não posso afirmar cegamente que o mundo virtual destrói a solidão, o vazio de cá de dentro. Por vezes, na nossa ilusão de comunicação, cria mais vazio e solidão.

Porque não posso ignorar que, por mais fácil e por melhor que seja estar a um ecrã de distância de amigos e familiares, por vezes fisicamente tão distantes, e por melhor que sejam esses momentos de interacção, nada substitui, nem mesmo estes sucedâneos, a dimensão de um toque de um abraço num momento de dor ou alegria, que jamais uma palavra escrita ou distanciada, ainda que atenuem a dor ou expressem alegria, poderão proporcionar!

 

Cecília Pinto

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 22:05  Comentar

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