30.12.09


 


O dia, solidário com o seu estado de alma, avança triste e cinzento.

À sua frente, o largo onde outrora seriam visíveis os tições das lareiras natalícias, serve hoje de asilo a um idoso. Cansado e doente, para ali vai e ali permanece indiferente ao tempo e à data, sem angústias metafísicas que não sejam o dar de comer aos pombos. Concentra toda a sua atenção no generoso gesto de dar de comer às avezinhas que lhe pousam nos ombros e nas mãos e lhe dão bicadas carinhosas, plenas de reconhecimento. Não repara no que o rodeia, não vê ninguém. Retribui desta forma a indiferença com que se sente tratado pela sociedade que, implacável, deixa para trás os que não podem acompanhar o ritmo frenético do chamado desenvolvimento. Não imagina que aquela mulher o observa todos os dias e que se preocupa nos dias em que ele não vai. Ela conhece-lhe os gestos, lê-lhe no rosto os desejos, as alegrias e os sofrimentos.

Da mesma forma que os pombos, também ela lhe está agradecida. Sem o saber, ele é muitas vezes a sua companhia. Enquanto o observa ocupa-se, está menos só, quase irmanada com ele.

 

Afasta-se da janela. O espelho, em tempos tão generoso e amigo, agora derruba-a mesmo numa olhadela furtiva. Não foge da imagem que lhe devolve, explora-a. Abre um risco bem no meio do cabelo. Lá está um, de cor clara quase branca, distinguindo-se do conjunto pelo brilho. Abre novo risco mais ao lado e lá está outro e mais outro e ainda outro. As ilusões abandonam-na e dão lugar aos cabelos brancos.

Cansados, os olhos reflectem a desilusão de mais um Natal que queria que fosse de amor e tranquilidade. Não sabe que força interior insiste em acreditar que ele vai estar à altura da comemoração e vão ser uma família igual às outras. Não sabe porque se ilude… Muito jovem, permitiu-se ter sonhos. Sonhou com Natais fantásticos, em casa, onde reuniria uma grande família, ou numa versão menos tradicional, a viajar pela Europa e a cumprir as tradições dos lugares por onde passava, quer fosse a comer cachorros quentes, junto à Torre Eiffel, quer fosse a beber vinho quente com canela, na Checoslováquia. Mas bastou que ele tivesse aparecido na sua vida para que todos os seus sonhos se evaporassem como éter no ar. Resiste mais uma vez a este pensamento e olha em volta, quer vislumbrar a concretização de um sonho, um só que seja... 

A sala simples, muito simples, testemunha silenciosa da noite anterior, está hoje mais triste e feérica. Na mesa, ao centro, o bolo-rei que ele trouxe mas que ninguém comeu. Ninguém se sentia digno de comer o bolo do “rei”... A um canto o pinheiro “desbraçado” cumpriu com a sua missão: dar à casa um ar festivo. É um pouco desengonçado mas ainda assim bonito. Lembra-se de como o encontrou no lixo no ano anterior e de como fez a felicidade dos filhos quando apareceu com ele em casa.

Não vai desistir de viver a sua vida que não é de sonho nem sonhada. Se como dizem “não é possível ficar parado, que quando não andamos para a frente estamos, de facto, a andar para trás”, então vai mesmo ter de andar para a frente porque do passado quer ela fugir, assim o menino Jesus a ajude, porque a coragem, bem, a coragem ela sabe onde encontrá-la...

 

Do outro lado da casa chegam-lhe vozes alegres; vão-se aproximando e em algazarra, todos à uma, reclamam-lhe a atenção, querem mostrar-lhe os presentes que o menino Jesus lhes deixou no sapatinho. São os seus filhos, os seus “duendes” como carinhosamente os trata, a concretização do seu único sonho, a personificação da sua coragem.

 

Cidália Carvalho


 

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29.12.09


 


O meu Natal é um bocadinho estranho... é um Natal em que eu estou com uns e “abandono” outros. Eu tenho uma família cá (a de sangue) e uma família lá (a que criei) e nunca as consigo juntar. Há barreiras, muitas barreiras.


Há barreiras económicas, sociais, físicas, legais, geográficas.

E por isso, o meu Natal é cá ou lá, mas nunca é um Natal por inteiro. É o Natal em que prescindo de uns afectos para ter outros, um período em que por muito que eu gostasse de estar verdadeiramente onde estou, nunca estou. O meu corpo está cá e um bocadinho do meu coração também, e o resto está lá, em pensamento e emoção.

 

Eu tenho sempre que decidir onde vou passar o Natal e nunca, até hoje, fiquei feliz com a decisão. Tenho que decidir se tenho um Natal com neve ou sem neve, em inglês ou em português, com os abraços e beijos de uns ou de outros. Tenho que decidir que prendas é que dou pessoalmente e quais envio pelo correio. 

O cá e o lá de que falo são universais, há muita, muita gente como eu por aí, a passar Natais em que se sente obrigada a estar feliz e agradecida pelos que estão presentes, mas não consegue deixar de pensar nos que não estão. Porque emigraram, porque não vivem aqui e nem sempre há como reunir todos os que amamos, ou até porque simplesmente morreram.

 

O meu Natal é feito de amor e gratidão e saudade e sentimentos de culpa por ter tantas saudades e não me conseguir dar por inteiro aos que estão comigo nem ao espírito de Natal.

O meu Natal não é infeliz... é apenas estranho, amargo e doce ao mesmo tempo, com o calor do amor dos que estão comigo em presença e dos que estão comigo em espírito. É um Natal com fantasmas que eu amo e pessoas ausentes que eu amo ainda mais.

 

Espero que tenham tido todos um Natal lindo, perfeito, com muito, muito amor, e mais presenças dos que ausências.

 

Dora Cabral

 
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27.12.09

 


 



Acordei cedo; a ansiedade era tanta que quase pulei da cama. O pai já saiu, o meu irmãozinho ainda dorme, a mãe está na sala de volta dos presentes. Embrulha-os meticulosamente com mãos de fada, tudo fica perfeito. Pergunto-me como pode alguém fazer algo tão belo e chorar de tristeza, ao mesmo tempo. Tento animá-la, digo-lhe que é Natal e que este ano a vamos ter em casa. Noutros anos para trás, explicou-nos que tinha que trabalhar, que há pessoas doentes 365 dias por ano e que tem sempre de haver alguém que assegure as suas necessidades. Assim, todos se sacrificam e ficam longe dos seus entes queridos em muitos momentos especiais, até ela; já nos habituámos. Mas este ano não; este ano temo-la connosco.

 

Gostava que o pai sentisse o Natal. Gostava que, pelo menos nesta altura, as coisas em casa fossem pacíficas e felizes. Está sempre tão zangado… já não sei se é por nossa causa, se é a vida que o desilude, ou se ele simplesmente perdeu o rumo há mais tempo do que imagina. Sei apenas que vivemos no medo, no terror absoluto. Mesmo no Natal.

No entanto, uma parte de nós sente alegria também. Gostamos dos enfeites, das luzinhas a piscar, da árvore cheia de bolas coloridas mas, sobretudo, vibramos com o momento em que fazemos, juntos, o presépio com musgo verdadeiro, a cabana a preceito, o riacho e todas as personagens importantes! Gostamos da comida da nossa mãe, do cheiro do cabelo dela quando nos abraça, das músicas natalícias que cantarola connosco.

O meu irmão é pequenino, saltita pela casa atrás do cão que insiste em morder as patas dos carneiros do presépio. O dia pacífico com a mãe passa num ápice e logo se antecipa a chegada do pai a casa. O silêncio vai-se instalando dentro de nós enquanto a televisão passa um programa qualquer alusivo à época. Olho para a porta um cento de vezes; não há menino Jesus que nos valha se o pai entrar por ela adentro a cair.

A minha mãe prepara o jantar: tradicional, até aos dias de hoje, servido numa mesa bonita e aprimorada. Cada gesto dela contrasta claramente com o semblante carregado e a tensão nas palavras que balbucia. Quando a chave roda na fechadura, o mundo entra em suspensão. Gela-se-nos o sangue.

 

Não mexe, não respira, não pestaneja.

Ele caminha (leia-se: cambaleia) até à sala e grunhe qualquer coisa sobre o Natal e o bolo-rei que traz debaixo do braço. Afinal, trouxe o que lhe pediram e ninguém morreu, logo, para quê exageros? Para quê chatearem-no quando não quer ser chateado, questionado, beliscado sequer? E tem razão: ninguém quer chateá-lo, de bom grado seríamos invisíveis. Parece que desejamos todos a mesma coisa mas, por qualquer estranha razão, acabamos a dizê-lo em linguagens diferentes e a coisa descamba, em menos de um fósforo.

Neste dia, ironicamente, somos poupados da dor do corpo, massacrado dos dias anteriores, porque o pai ainda está em processo de “mea culpa”. Aos poucos, vemo-lo adormecer com a cara em cima da mesa e a tranquilidade regressa assim que o sentimos a dormir profundamente.

Aninhamo-nos no sofá, no melhor colo do mundo, e agradecemos por mais este dia em que nos temos uns aos outros. Neste Natal “só” se carrega a dor da alma e esta vai-se diluindo no poder balsâmico do abraço da minha mãe. Nela, com ela, aquele momento é perfeito.


 

É o melhor Natal que podia alguma vez pedir…

 

Alexandra Vaz

 
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25.12.09


 


A Ana é uma sem abrigo. Já a conheço há mais de trinta anos. Sempre igual a si mesma.

Contam-se histórias de que é de “boa família”. Teve um filho. Tiraram-lho. E a Ana entrou no seu mundo privado. As ruas são a sua casa. Alimenta-se do que aparece, até em caixotes do lixo. Está quase sempre bem disposta. Morena pelo sol de Verão e pela sujidade da sua pele. No Inverno, cheia de roupa. Faz frio.

 

Nem sei se ela sabe o que é, ou se é Natal. De qualquer forma, a noite de consoada deve ser “uma chatice” para a Ana – não andam pessoas na rua para lhe darem um cigarrito…

 

Há uns anos fui, com os meus dois filhos, na noite do dia 24 de Dezembro, ao encontro da Ana. Levei-lhe uma pequena ceia de consoada onde nada faltava. Ah! E mais dois maços de tabaco e uma cervejita para aquecer.

Achei que devia isso à Ana. Achei que devia isso aos meus filhos.

O Natal não é receber, é dar. Principalmente Amor.

 

Quem vê hoje a Ana, não deve pensar que ela já foi uma criança e que deve ter tido Natais muito felizes com a sua família. E fico sempre a interrogar-me – será que a Ana terá algum vislumbre dos seus Natais de criança? Do sapatinho na chaminé e dos presentes que recebia? Sim! Porque o Natal já teve significado para a Ana algures na sua existência!

 

A Ana continua a sua vida sempre igual todos os dias. Para ela é sempre Natal … Ou não! As luzes da cidade só brilham uma vez por ano!

 

Manuela Sousa Santos

 
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23.12.09


 


O Natal para mim é giro porque recebo prendas e estou com a família.

 

A meio de Novembro já estou a pedir à minha mãe para fazer a árvore de Natal, mas não vale a pena porque em minha casa só a fazemos no dia 8, que por acaso coincide sempre com a festa de anos de um amigo meu. O que mais prazer me dá ao fazer a árvore de Natal é por as fitas, porque posso atirá-las bem alto, mas antes disso gosto de por os ramos da árvore artificial, direitos.

 

Embora goste do bacalhau, os doces, como as rabanadas, o creme, que prefiro sem ser queimado, é o que é melhor da comida do Natal. Mas também há outras coisas boas.

 

Gosto de estar com a família para brincar e elas, ou eles, trazerem os tais doces. Quando recebo as prendas, gosto logo de as abrir e começo logo a brincar com elas. Mas só começo a brincar com uma de cada vez.

 

O que me deixa triste é saber que existem famílias que não podem festejar o Natal, porque não têm dinheiro, uma casa ou mesmo família. Eu gostava que essas famílias também pudessem festejar o Natal e gostar dele como eu gosto.

 

Eu desejava que o Natal fosse Feliz de festejar.

 

André

(9 anos)

 
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22.12.09


 


Ressalvando as diferenças de grau e intensidade que fazem a singularidade de cada um, diz-se que todos temos necessidade de rotinas e hábitos; que nos estabilizam, nos dão segurança, e até identidade. E eu, que gosto de variar, de fazer coisas diferentes e até as mesmas coisas de formas diferentes, não posso senão concordar.

 

Este meu Natal ameaçou ser diferente dos outros, em algo que o define. Felizmente ainda não é desta, mas agora sei (não há como não) que um destes anos vai ser mesmo – já não será a casa dos avós e serão menos pessoas à mesa. E haverá que aprender a amar o que vier a seguir.

 

No Natal também há coisas pelas quais custa passar. Mas talvez no Natal seja mais difícil, por ser por definição uma época de celebração, de alegria. Penso que mesmo quem não é cristão sem dificuldade se deixará contagiar pelo que tem de festa, de anseios de paz, comunhão e de uma vida melhor vivida. Simultaneamente, parece que a dor se torna mais palpável, a solidão mais pesada, mais presente a consciência de que ainda há muito por fazer.

 

E, de Natal em Natal, lá vamos avançando.

 

Ana Álvares

 
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20.12.09


 


Já lidava melhor com as recordações desse dia trágico de Dezembro passado. É certo que perdera um braço para sempre e que o tronco exibia ainda as marcas causadas pelo violento impacto da queda de mais de 4 metros. Manter-se de pé era tarefa outrora simples que só conseguia cumprir à custa de muito apoio.

 

Atirado da varanda do segundo piso directamente para o caixote do lixo das traseiras, aí ficara toda a noite torcido entre sacos de plástico e vazias embalagens reluzentes, até ser recolhido por mãos carinhosas de uma família de parcos recursos. Destinaram-lhe um quarto minúsculo nas águas-furtadas. Da janela, virada a poente, espreitava as ondas dos telhados vizinhos e alcançava o mar e o sol de fim de tarde. Aí se recompôs das feridas do corpo e da alma, e passou a viver sem sobressaltos.

 

Na véspera de Natal, levaram-no para a sala de jantar e encheram-no de cuidados e atenções. Sentiu-se bem no meio de gente que o estimava e acarinhava. Sentiu alegria, paz e amor como nunca antes experimentara.

 

Acomodado num canto da sala, observara-a pela primeira vez. Era simples, muito simples. Uma mesa, tão velha com as quatro cadeiras que a ladeavam, um louceiro pequenino que parecia de brincar e um candeeiro enorme, desproporcionado no tamanho e na luz que projectava sobre a jarra de flores. Nas paredes laterais, suspensas no espaço e no tempo, fotografias inclinadas de gente antiga, cruzava olhares fixos, amarelecidos e pouco nítidos.

 

Como era diferente da casa que conhecera um ano antes! Tão repleta de peças caras que não sobrava espaço para os sentimentos. Onde se confundia conforto com felicidade. Onde o Natal era sobretudo uma referência de calendário, fugaz como todas as datas que se esgotam em si mesmas. Onde, passado o dia convencionado para ser Natal, havia que recolher rapidamente os enfeites, o presépio, as velas, as iluminações e os anjinhos papudos, únicos olhares inocentes daquela casa. Vazias embalagens reluzentes, das prendas apressadamente recebidas, iam juntar-se aos sacos plásticos a abarrotar de restos e sobras. E na fúria restauradora da ordem de todos os dias, nem houve tempo para guardar o pinheiro de Natal. Foi atirado da varanda, directamente para o caixote do lixo das traseiras onde ficaria toda a noite, até ser recolhido por mãos carinhosas…

 

José Quelhas Lima

 
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18.12.09


 


- O Natal já não é o que era. - disse ele.

- Pois não... – disse ela.

E juntos olharam em frente para ver melhor o fim da estrada de paralelo que dava acesso à casa da avó. Estava escuro. E frio. O largo em frente à casa estava vazio. O poste velho ao fundo iluminava a rua.

- Não se vê ninguém. – disse ela.

Estacionaram o carro e saíram.

Era o fim de tarde de 24 de Dezembro. O céu estava limpo e ameaçava nevar. O largo continuava vazio. Era aqui que dantes se fazia o fogo de Natal. Os rapazes da aldeia carregavam a lenha durante o dia; à noite, depois da ceia, as famílias juntavam-se à volta do fogo, cantavam e dançavam até de manhã. Não havia prendas. O pai dizia que não havia melhor prenda que o farto jantar de Natal. Mas eles não iam dormir sem deixar o sapato na chaminé (não fosse o menino Jesus lembrar-se de passar por ali!). A verdade é que no dia seguinte havia sempre alguma coisa dentro do sapato: uns rebuçados, umas chicklets, um chocolate...

 

Agora era tudo diferente. O pai faleceu, a avó estava tão doente que já nem se lembrava do nome deles. Mas a casa, o largo, o poste, estavam na mesma, talvez mais velhos e gastos, um pouco despidos, mas iguais.

Treparam as escadas que davam acesso à casa e entraram na cozinha. Por momentos sentiram o calor do lume aceso com os potes com as batatas e o polvo a ferver, o cheiro das rabanadas acabadas de fritar e o pai a dizer: - Feliz Natal!

 

Joana Gonçalves


 

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15.12.09


 


Quando pensamos no Natal, a primeira imagem que nos surge leva-nos para os convívios em família alargada, com todas as gerações da família reunida.

As matriarcas na cozinha a ultimar as doçarias da época, os patriarcas a discutirem o mais recente acontecimento político do panorama nacional enquanto vão bebericando um cálice daquele Porto antigo que só respira nestas alturas, e as crianças a correrem e a explorarem tudo o que o tempo e os adultos lhes vão permitindo, enquanto não chega a hora de rasgar aquele papel mágico que provoca labaredas de mil e uma cores na lareira que a avó diligentemente acendera para manter a família quente e confortável.

 

No entanto, tal como tudo na vida, também o Natal é mutável e vai-se pintando de tonalidades diferentes ao longo da vida...

Hoje em dia, tenho um Natal um bocado ao lado do que é tradicional. A Avó deixou de existir, deixei de voltar à casa da Avó e comecei a viajar nesta época para diferentes destinos com a família mais próxima.

Se no início tudo isto me soava algo estranho e me sentia deslocado e com saudades dos natais de criança, com o tempo também esta forma de Natal se foi tornando tradicional e familiar, apenas um pouco ao lado.

Deixou de haver troca de prendas, mas passou a haver a felicidade de conhecer novas formas de viver o Natal. Deixou de haver filhoses e rabanadas, mas passou a haver cachorros quentes debaixo da Torre Eiffel. Deixou de haver toda a família alargada junta, mas passou a haver um encontro de culturas em cada catedral visitada. Deixou de haver o cálice de vinho do Porto, mas passou a haver a caneca de vinho quente com canela que aquece a noite fria enquanto não chega a hora da Missa do Galo em Checo.

No entanto, por mais diferenças que encontre entre os Natais de hoje e os de antigamente, existem pontos que se mantêm.

A ansiedade de ver o Natal chegar, estar com as pessoas que nos querem e que tanto queremos, mas acima de tudo, o que se vai mantendo são a memórias boas que vou construindo a cada Natal que vai passando. E hoje acredito que mais importante do que qualquer prenda material que possamos receber, é o que vivemos nesta época que faz com que seja tão especial.

 

Alexandre Teixeira

 
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13.12.09


 


O Natal chega todos os anos, à mesma hora, no mesmo dia. E ainda assim, previsível como é, desperta-nos, motiva-nos, leva-nos a reflectir e a pensar, anima ou entristece-nos. Todos os anos, esta data vem recheada de sensações, emoções e sentimentos antagónicos: felicidade e tristeza, ansiedade e paz, preenchimento e vazio, calor e frio.

Com diferentes significados – consoante as pessoas, as histórias, os passados, o momento actual, o futuro que se aproxima – o Natal provoca sentimentos ambivalentes e ambíguos em muitas das pessoas que o vivem.

É a saudade que se instala, por todos os Natais passados, felizes, que nunca se irão repetir, nem nunca sairão da memória. É a expectativa de um novo amanhã (talvez melhor, talvez pior), a incerteza do que virá, os desejos de um futuro melhor. É o regresso àqueles que amamos e que nos amam, o reatar das ligações significativas. É a curiosidade das prendas a caminho, o dar e o receber. É a alegria de reunir a família e/ou a tristeza de reunir a família. É tudo e não é nada. É bom e mau. Positivo e negativo.

 

De todas as festas do ano, o Natal é sem dúvida a que cria maior alteração emocional, quer positiva, quer negativa, em todas as pessoas que vivem esta época. Mas porquê?

Pela importância dada à família? Pela importância dada ao consumo e ao poder de compra? Pelas expectativas altas (às vezes, irrealistas, até) criadas em torno desta época? Pelo final do ano civil em curso e o início de um novo ano? Por todos estes aspectos e muitos mais...

A verdade é que o Natal chega, para alguns de nós, como o momento da verdade, o “vai ou racha” da rotina que se instalou durante o ano e que não se quer repetir, uma fase de transição que representa a possibilidade de uma mudança para melhor. E enquanto dura esta época festiva, enquanto duram os festejos de Natal, visualizam-se as possibilidades, deixam-se voar os sonhos, sempre na esperança de um amanhã mais meigo, mais recheado e colorido.

 

Ana G.

 
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10.12.09


 


Haverá gente informada que desconheça de todo o Natal? Uns mais, outros menos, alguns desta maneira, outros doutra, fulano concordando, sicrano discordando e beltrano assim-assim, é difícil encontrar alguém que não tenha opinião sobre esta data. Há poucas dúvidas sobre o que se deve fazer em cada contexto cultural e familiar para se vivenciar esta época. Há uma postura natalícia, um semblante que transmite um estado de alma tipicamente natalício. Há uma espécie de sentimento colectivo de bondade, solidariedade e partilha. Cumprimentam-se desconhecidos porque há maior probabilidade de sermos cumprimentados de volta. Os conhecidos são promovidos a amigos e os amigos a irmãos. Os gestos ganham um novo significado e nunca, em parte alguma, alimentar os pombos no parque deu tamanha sensação de bem-estar.

 

O Natal poderia bem ser um conto de fadas, com as virtudes organizadoras dos caóticos inconscientes das crianças que os contos de fadas encerram, mas falha num pormenor: não é opcional. E, por muito que se tente, não é fácil sobrar às investidas natalícias que todos os canais, ruas, lojas e demais agentes comerciais fazem.

O Natal poderia ser um símbolo, um daqueles símbolos que sintonizasse as pessoas, todas as pessoas, num padrão universal de boa vontade. Um arquétipo de alegria, felicidade e de todas essas coisas boas que procuramos incessantemente desde o dia em que nascemos.

O Natal poderia ser tudo aquilo para que foi inventado. No entanto, não é. Escapa, como água das mãos, no essencial. Como explicar ao solitário que o Natal é partilha? Que alegria se encontra naqueles que perderam tudo? É possível fazer um intervalo na amargura, suspender a tristeza? Quanta pressão recai sobre aqueles que, chegada a época festiva, se obrigam contrariados a colocar a máscara festiva?

 

Todos precisamos de contos de fadas para que o mundo real se faça através da imaginação. Todos precisamos de símbolos para que nos entendamos e nos unamos. Fantasia e união deveriam ser os grandes objectivos do Natal, a razão da sua invenção. Fosse possível subtrair o Homem ao Natal e teríamos o Natal perfeito.

Não admira pois que haja um Natal por cada pessoa e que, no final, cada um deles seja tão diferente do inicial, do esperado, do dos outros. É o Natal que temos, é o nosso Natal, com os primores e desgraças da exclusividade. E é admirável o esforço que investimos na tentativa de colar o nosso Natal ao dos outros, presenteando presentes bonitos, comendo comidas alegóricas e cumprindo todo o ritual instituído pelos agentes comerciais e também pela cultura e família.

 

Há, no fundo, tanto Natal na alegre criança que recebe montes de brinquedos como no idoso que, sozinho e doente, alimenta os pombos no parque da cidade ao fim da tarde, desde que ninguém note a diferença.

 

Smith

 
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7.12.09


 


Logo no início de Novembro todos contavam, de forma decrescente, a chegada do Natal e ela, sem saber, começava, de uma forma crescente, a contar o início do fim. Nenhum Natal poderá apagar, ou fazer esquecer, as feridas que se abriram no seu coração e que esconde na sua alma.

Estranhamente, não havia qualquer alusão ao Natal que se aproximava; a ausência por completo de ornamentações augurava um mau presságio. Era uma casa que se esmerava por requintadamente anunciar a chegada do Natal, com a sua colossal árvore decorada com Pais Natal de peluche, anjos, bonecos de neve, peúgas e peuguinhas, o presépio e as velas típicas da época. Nesse ano havia apenas o silêncio a enfeitar cada corredor e a rechear sítios que, em anos anteriores, eram preenchidos com arranjos vermelhos, verdes e dourados.

Sair à rua e ver as luzes, as montras decoradas, prendas para uns, presentes para outros, prioridades absolutas na vida de muitos, ouvir o Jingle Bells que ecoava por todo o lado, feria violentamente o seu espírito.

 

Foi-se aproximando o Natal e com ele a preparação, para que nada faltasse no momento prenunciado e previsto. Na última noite preparou o desfecho, indo de loja em loja comprar os seus últimos presentes… aqueles que lhe tinham sido antecipadamente pedidos: a camisa de noite quentinha, o robe, não esquecer os seus amigos de todos os momentos, os carapins, a manta para se aquecer e assim poder fingir um estado de um sono perpétuo e repousante.

Sem saber como, sorria, agradecia os simpáticos embrulhos que faziam, afinal era Natal…

 

No dia 24 desembrulhou prenda a prenda, peça a peça e foi-lhe descrevendo as cores, os modelos, os locais onde as tinha adquirido… Quando terminou, mesmo sabendo que já não era ouvida, disse-lhe: “- Estás linda! Sempre consegui dar-te mais estas prendas de Natal.”.

No dia 25 via-se por todas as ruas, papel de embrulho rasgado, fitas a esvoaçar com o vento, a levantar voo. As crianças brincavam e deliciavam-se, com os seus desejos satisfeitos, com a generosidade do Pai Natal. Pequenos aglomerados de pessoas reuniam-se à porta de alguém para iniciarem os festejos próprios da época. Naquele Natal não teve almoço… apenas um rasgão na sua alma que a impediu de, durante muitos anos, entender o significado e a importância do Natal.

Naquele Natal despediu-se, disse adeus, a uma das pessoas que mais amou… Naquele Natal enterrou o corpo daquela que lhe deu vida e a ensinou a amar. Naquele Natal disse-lhe, pela última vez na sua presença: “- Amo-te mamã.”.

Ainda hoje as luzes de Natal a agridem, a mania das prendas enlouquece-a, os falsos votos manifestados numa solidariedade fictícia enraivecem-na.

 

Mas dois “duendes” fizeram magia com o seu coração e com a sua alma. Para ela, o Natal é agora o sorriso e a euforia daqueles a quem deu vida. Espera que eles nunca deixem de dizer-lhe: “- Amo-te mamã, feliz Natal para ti.”, com um brilho nos olhos.

 

Susana Cabral

 
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6.12.09


 

Não existe festividade mais individual e ao mesmo tempo global do que o Natal (para os Cristãos, claro). Cada pessoa experiencia esta época de forma diferente dado que para além do significado religioso implícito da quadra, o Natal acarreta algo mais. Todos nós temos recordações de Natais passados, com certeza que uns melhores que outros, mas sempre, sempre ligados à família. Estando ela presente, ou não. Este facto, a companhia ou solidão neste momento particular, é talvez o factor mais importante para o estado mental de cada um durante este período. Muitos estudos já se fizeram em que se correlaciona a quadra Natalícia com quadros psicopatológicos (depressivos e suicidários, só para nomear alguns).

 

Como a partilha faz parte do espírito desta época, decidi partilhar convosco alguns dos meus Natais. Como disse um jogador de futebol famoso, como também sou humano como as pessoas, já tive a minha quota-parte de Natais bons, Natais assim-assim e Natais maus. Esta classificação (talvez redutora) está associada a momentos específicos da minha vida. Vejamos: os melhores Natais foram sem dúvida os da minha infância. Motivos? As férias da escola, as decorações, as idas às compras ao shopping (sou do tempo em que havia um só shopping no Porto…) e à Baixa, a figura misteriosa do Pai Natal, as prendas, os doces, poder beber Coca-Cola todos os dias (enchia-se a despensa de tudo o que normalmente não se consumia diariamente durante o resto do ano), mas mais importante que tudo isto, hoje reconheço… foram os melhores Natais porque tinham lugar na casa dos meus avós. Os meus avós tinham essa capacidade aglutinadora de presenças familiares no mesmo espaço à mesma hora. Eles eram o centro da família. Os fundadores. Deles partiam os convites, as vontades e a força. Força para proporcionar a todos o melhor Natal possível. Em certos aspectos lembro-me que o meu avô vibrava mais com a preparação do Natal do que os netos. Todos os anos construía uma árvore de Natal com presépio, que chegava a ocupar boa parte da sala de estar. Uma coisa (para além das figuras claro…) nunca poderia faltar no presépio; um lago com água e uns patos de plástico a boiar. Para nós crianças este era o centro do Presépio. Todos nós afundámos os patos e molhámos os dedos no lago… assim foram os meus bons Natais.

 

Entretanto fomos todos “crescendo”… os tios solteiros casaram e passaram a dividir os Natais entre as casas de pais e sogros. Os avôs foram envelhecendo e perdendo alguma genica. E nós, os miúdos agora adolescentes fomos perdendo a pureza das crianças e ganhando o cinismo dos adultos. O Pai Natal já não existia e já não nos contentávamos com um qualquer presente. Aliás, em certa medida os presentes já nem eram misteriosos. Eram exactamente aquilo que tínhamos pedido. A inquietação que antes se prendia com a surpresa do que o Pai Natal nos traria foi substituída por inquietações maiores, do género “Será que os tios vêm este ano?” ou “Será o ultimo Natal com os avós?”. Estes foram os Natais assim-assim. Já havia no ar a certeza que o espírito dos Natais passados não voltaria mais. Nem sequer para nos assombrar como a Scrooge…

Mas estes também foram passando e chegaram os Natais maus. A família cada vez mais desdobrada fazia cada vez mais esforço para se encontrar, em exercícios do tipo “passamos a consoada nos teus pais e o dia de Natal nos meus”. Mas não foi isso que fez com que eu passasse alguns Natais maus. Foi o facto de já não ter quem me fizesse uma árvore de Natal e um presépio com um lago.

 

Rui Duarte

 
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4.12.09


 

É necessário começar por explicar que Francisco era Cristão.

 

Estava sentado frente ao mar. A noite estava fria - o Natal estava a chegar.

Recordou o Natal em que mais feliz se sentira. Fora o seu Natal de sonho tornado realidade. Passado no único lugar da Terra onde se sentia mesmo bem, o único lugar para onde queria fugir quando a vida lhe corria mal, para afagar as suas árvores, para que elas o acarinhassem. Passado com as três pessoas que mais amou. Passado com muito frio lá fora e com uma lareira bem acesa. Passado com um jantar, com a sua primeira e única Missa do Galo, com um regresso para uma deliciosa e reconfortante ceia. Sabia que jamais repetiria essa felicidade.

Recordou um outro Natal em que também se sentira feliz. Foi o único Natal que passou com o seu pai. Emocionou-se, como sempre lhe acontecia, ao sentir a amargura de não ter percebido, a tempo, o quanto o pai o amava, e ao renovar o pedido para voltar a estar com ele, uma única vez, antes de iniciar o seu caminho para o inferno, só para o abraçar, só para lhe pedir perdão.

 

E o Natal que se aproximava, como seria?

Pensou que Natal é nascimento, é uma nova vida, é esperança, é continuidade.

Lamentou nunca ter tido um filho. Nunca se preocupara com isso, mas desde há algum tempo que o seu pensamento, por vezes, ficava aí.

Toda a sua vida tinha decorrido sem definição nessa matéria. Tinha tido várias mulheres, tinha evitado algumas mais, tinha enxotado muitas. Mas sempre entregara isso na vontade de Deus. E estava convencido que a vontade d’Ele era que Francisco não amasse apenas um filho, mas que amasse todas as pessoas que conseguisse, que a elas se entregasse, que a elas servisse, que para elas construísse, com os talentos que Ele lhe emprestara, uma vida um pouco melhor.

Naquela noite, Francisco sentia quanto tinha desmerecido a missão que Ele lhe confiara. Naquela noite sentia quão grande era a distância entre ele e Cristo. Cristo que sofrera até à morte para lhe dar a liberdade, muito tempo antes de ele nascer. Francisco que já desistira de lutar, farto de levar porrada, de ser culpabilizado, sem ninguém que o aliviasse.

Lembrou um professor que lhe ensinara que não é possível ficar parado, que quando não andamos para a frente, estamos, de facto, a andar para trás. Lembrou a canção: “Tem que ser porque parar nunca. Ficar parado? Antes o poço da morte que tal sorte”, “Eu tenho a morte toda p’ra dormir”.

Procurou uma posição mais confortável no banco do carro e acomodou-se; tinha sono.

 

Aquele Natal que se aproximava iria ser mau.

Francisco desistira – não queria mesmo andar para a frente.

 

FCC

 
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Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 11:12  Ver comentários (3) Comentar

1.12.09

 

Ainda me lembro do Natal… há muito tempo atrás, quando era uma criança, e o natal parecia um evento maior, mais feliz e emocionante, todos nos juntávamos na casa dos avós e todos, mesmo todos, fazíamos uma grande festa… eram primos, tios, irmãos, todos misturados, ríamos e brincávamos… os garotos cá fora a correr nem sentiam o frio na pele, que era muito na altura! Apenas as faces rosadas e o nariz vermelho! As mulheres atarefadas a preparar os manjares, que sempre me cativaram, os odores misturados, a água na boca… os homens a conversar com gargalhadas estridentes e junto à lareira… logo escurecia, e a chamada para a mesa era ponto fulcral, pequenos para um lado, graúdos para o outro… como eu gosto do Natal! Sabores, cheiros, prazer nos rostos de todos e nenhuma máscara para enfeitar! E quando o relógio avançava, os miúdos deliravam, a altura das prendas chegara! Mas, não como agora, eram prendas mais sentidas, mais pequeninas na sua dimensão, todavia mais queridas! Agora as exigências são outras! E a missa do galo à nossa espera na escuridão da noite, ninguém se queixava do frio ou cansaço… era uma vez o Natal do antigamente… não tão antigo assim, mas para mim parece… a única coisa que permanece são os cheiros e sabores tradicionais que teimam em não desaparecer, pelo menos na minha família, mais reduzida agora, ou mais separada digamos…

 

Hoje o Natal é mais comercial. Continua a ser das crianças… hoje sou eu que dou as prendas e não penso no que posso receber, já não escrevo cartas ao Pai Natal…tento que as ofertas sejam sobretudo simbólicas, como simbólico é o Natal… ou era!

 

Hoje são as filas nas lojas, comprar por comprar, só para dizer que se dá e que não nos esquecemos de quem só lembramos porque é Natal! Pessoas que avivam o espírito natalício com o stress, encontrões, palavrões e afins! O dar já não é como antigamente… não damos, competimos! Dar é quem se dá aos outros, aos outros que não têm ninguém para receber ou se dar!

 

Talvez o Natal tenha sido sempre assim, mas como era criança via-o com outros olhos e não reparava nestes detalhes… era apenas feliz por ali estar com a minha família toda, mesmo toda!


Cecília Pinto

 

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